“Eu já provei sangue, e é doce, já puxaram o tapete debaixo dos meus pés, já confiei em mentiras e confiei em homens fui quebrada, mas juntei meus cacos de novo. Eu tenho sido educada, mas não vão me encontrar morta, porque gentileza é fraqueza, ou pior, complacência. Eu posso ser a boazinha ou a malvada. Estou cansada e irritada, mas alguém deveria estar”
-Isso aqui não é um hotel, acho que você não entendeu a gravidade da sua situação! – Amber voltou com um pão e um copo d’água e logo em seguida soltou meus braços da cabeceira da cama colocando-os a minha frente de forma que eu pudesse move-los mas meus punhos ainda estavam amarrados um contra o outro e minhas pernas também. Tomei um gole de água com muita dificuldade enquanto ela me encarava.
-Eu disse que iria me vingar! – falou com um tom de voz baixo mas tentando manter a voz firme.
-Donna não parece muito feliz com a forma como você pensou nisso – respondi e ela arregalou os olhos como se eu tivesse tocado em sua ferida mais profunda – Eu particulamemte acho que você fez um trabalho incrível.
-Ela é assim! Mas ela sabe que estou fazendo o melhor para agrada-la. – justificou parecendo uma criança assustada, ergui as sobrancelhas.
-Ela sabe? – coloquei um ponto de duvida na cabeça dela. – quero dizer, ela te trata como lixo.
-Ela é minha mãe – afirmou. Dei de ombros.
-Eu sei! É que eu acho que você merece os créditos, sabe? Você se esforçou bastante. – ela ficou quieta e vi seus lábios tremerem, tive que conter os meus para não sorrir. Amber olhou para a porta pensativa e depois voltou a me olhar.
-Ela que planeja tudo – disse.
-Mas por quê? Ela não confia em você?
-Cala a boca! – ela gritou – eu devo tampar sua boca.
Então rapidamente ela se levantou e passou novamente a fita em meus lábios me calando, aquela proximidade me fez querer pular nela e matar ela mas me mantive calma. Assim que ela terminou de passar a fita, ouvimos a campanhia. Seus olhos saltaram para fora, ela estava desesperada e eu pude imaginar o porquê.
-Fique quietinha! – ameaçou e saiu, dez minutos depois ela reapareceu completamente mais relaxada, sorrindo e... Angelina estava com ela! Eu não estava surpresa, nem muito menos perplexa, eu sabia que Angelina me trairia a qualquer momento e a única razão de ter mantido ela próxima era exatamente por isso, Angelina era a única pessoa que me faria chegar perto suficiente de Amber e Donna e mesmo quando ela pensava que estava por cima, eu ganhava.
-Não fique surpresa, são apenas negócios – comentou ela sorrindo, apenas balancei a cabeça. Amber parecia um pouvo artodoada, impaciente. Nós ficamos aguardando Donna voltar mas nada aconteceu durante os trintas minutos em que ficamos ali, então Angelina e ela me levararam para a cozinha e me amarraram em uma das cadeiras.
-Preciso manter meus olhos em você – disse ela depois de prender meus punhos atrás de mim.
-Por que você está tão tensa? – Angelina perguntou para ela pois era notório o quanto ela estava preocupada com algo.
-Eu não estou – respondeu. – é que estou começando a achar que não foi uma boa ideia.
Os olhos claros de Angelina pararam sobre ela perplexos.
-O que? É claro que foi uma ótima ideia! – respondeu – Você acha que sou estúpida? Você acha que eu colocaria a polícia atrás da gente? É óbvio que não! A história contada vai ser que a bela Margot fugiu para bem longe – a voz dela soou aos meus ouvidos me enojando – ela fugiu para não continuar com o julgamento.
Amber a encarou com um sorriso e eu revirei os olhos respirando fundo. O telefone tocou em outro cômodo chamando a atenção de Amber que saiu para logo atender. Assim que ela deixou-nos a sós Angelina revirou os olhos e fez uma careta com desdém enquanto eu a encarava.
-O que foi? Eu preciso dessas idiotas por um tempo – sussurrou se levantando e retirando a fita da minha boca com força – estou louca para ouvir o que você tem a dizer.
Eu limpei a garganta.
-Estou com sede – foi o que eu disse surpreendendo-a.
-Só isso? – falou
-Sim.
Ela balançou a cabeça e depois me deu um pouco de água mas manteve seus olhos sobre mim, e então em um segundo segurou meu rosto com seus dedos finos me apertando.
-O que você está tramando? Colocou coisa na cabeça dela e está calma demais para alguém que está prestes...
-Prestes ao que? Você acha que eu tenho medo de você e seu bando de psicopata? Amber é uma garotinha perdida tentando ridiculamente fazer com que a mamãe goste dela, e você, chega a dar pena. – ela me soltou com força.
-Mas parece que eu te enganei de novo – disse tentando manter a voz num tom de vantagem. Angelina passou tanto tempo pensando em me trair, que se esqueceu que eu poderia fazer o mesmo com ela, usa-la e trai-la. Eu nunca me importei mesmo em ser a vilã, até gosto.
-Será? – dei risada e ela cerrou os olhos – Você me trouxe até Amber e Donna do jeito que eu queria, Angelina.
-Mas quem está com as mãos amarradas é você – respondeu com os olhos furiosos tentando parecer superior a tudo aquilo. Eu arqueei as sobrancelhas e sorri, nossa comversinha foi interrompida quando Amber entrou na cozinha dessa vez mais confusa e perdida, Angelina e eu nos encaramos. Amber encostou na pia com o olhar perdido.
-O que aconteceu? – Angelina quis saber e a garota loira ergueu os olhos avermelhados para ela.
-Nada – disse com a voz fraca tremendo.
-Donna disse alguma coisa? – perguntei e os olhos azuis quase saltaram para fora, seus lábios teemendo. Eu sabia que estava certa quando uma lagrima escorreu de seu olho. – Eu te disse que ela está enganada.
-Você não precisa dela! – Angelina me interrompeu – nunca precisou, podemos lidar com isso sozinhas.
Eu estranhei todo aquele empenho em querer fazer Amber se virar contra Donna mas era óbvio, Angelina estava controlando as duas sem ambas perceberem e a mágoa e frustração se tornam dois tipos de emoções extremamente manipuláveis, deixando qualquer pessoa vulnerável e era assim que Amber estava naquele momento. Donna entrou na casa interrompendo a nossa rápida conversa e Amber estremeceu da cabeça aos pés.
-Eu disse para você sua imbecil! – esbravejou – fui parada por uma viatura e tive que responder perguntas porque você foi estupida o bastante!
Ela deu um tapa tão forte em Amber que a mesma caiu próxima a minha cadeira, ela permaneceu no chão com a mão na bochecha tentando não nos mostrar sua notável humilhação.
-Sua vaca estúpida! – gritou Donna – agora você, o que eu faço com você?
Se virou para mim e eu dei de ombros.
-Parece que você nunca realmente me abandonou, não foi? – falei deixando-a estática.
-O que?
Eu respirei fundo como se não me importasse, havia muita emoção naquela cozinha pequena, muita vulnerabilidade e eu sempre soube usar isso ao meu favor.
-Apesar dos anos, aparentemente você nunca conseguiu me esquecer, mamãe. Pode ter sido arrependimento, tristeza, eu tento entender isso mas não sei bem o que é. – algumas lagrimas se formaram em meu rosto e eu as deixei propositalmente caírem – eu por todo esse tempo só quis minha mãe.
Um silencio se fez ali enquanto eu chorava como uma idiota, Donna engoliu em seco me encarando com as sobrancelhas juntas, um rosto impassível que logo se deu lugar a uma ruga de tristeza como se anos de sua vida tivessem vido á tona.
-Margot...
-Eu sei que eu não fui uma boa filha mas o que eu fiz para merecer? – perguntei em soluços e ela se aproximou surpreendetemente segurando minha mão. – eu posso te dar tudo o que você quiser, eu só preciso da minha mãe.
Os olhos dela brilharam, é óbvio que aquela vaca não queria saber de mim mas do que eu tinha e acreditando que eu realmente estava me sentindo miserável daquela forma, achou o momento conveniente para ser a mãe do ano.
-Eu sempre quis ter você comigo, filha – explodiu em lágrimas falsas e me abraçou, eu revirei os olhos e Angelina deu uma risadinha mas nada se comparava com o ódio que emanou de Amber quando ela ainda no chão olhou para Donna me abraçando. Eu pisquei para ela e rapidamente ela se colocou de pé. Donna me soltou acariciando meus cabelos e eu voltei as minhas lágrimas.
-Eu senti tanto a sua falta – ela exclamou mentindo como uma vaca interesseira achando que eu iria acreditar nesse papinho ridículo – não vejo a hora de vivermos juntas e...
As palavras dela falharam, o rosto paralisou com os olhos arregalados e a boca aberta e eu não entendi muito bem o que aconteceu até ela cair de joelhos na minha frente. Gostaria de ter ouvido mais suas mentiras, ela estava muito empenhada a tentar me enaganar.
-Então ela é sua filhinha perfeita? – gritou Amber que acabara de enfiar uma faca nas costas de Donna, apesar de eu ter sido inteligente o suficiete para entender o que estava acontecendo, entender que Donna estava tentando me manipular, Amber por outro lado, só enxergou a traição. O peso de ter feito tudo para ser reconhecida lhe caiu sobre os ombros enchendo-a de frustração e rancor – eu fiz tudo por você, sua vaca egoísta!
Donna tentou falar mas sangue escorreu de sua boca me sujando um pouco, ela agonizou alguns segundos antes de seus olhos ficarem vazios como pedras cintilantes, azuis cintilantes, porém vazios. Minha mãe morreu ali na minha frente, morta pela minha própria irmã após um notável surto. Amber bufava gritando com um corpo que escorria sangue aos meus pés.
Angelina segurou em seus ombros.
-Foi a escolha certa, ela nunca deixaria você tomar suas decisões! – sussurrou no ouvido de Amber e de repente uma onda de eletricidade passou pelo meu corpo quando os olhos das duas pousaram sobre mim, eu estava a mercê delas. Amber me odiava, Angelina também e não existia mais ninguém além delas duas para decidir sobre o meu destino naquele momento.
Nós ficamos quietas quando Donna deu um ultimo suspiro e Amber largou a faca ao lado de seu corpo, podia-se ver o peito dela subindo e descendo em uma tentaiva frenética de controlar a própria respiração.
-Agora nós precisamos cuidar dela – elas se entreolharam e alguém bateu na porta com força, as duas olharam em direção daquele barulho como dois cachorros assustados. – Vai você!
Angelina ordenou.
-Não posso e se for... – disse Amber assustada.
-Se for a droga da policia eu estou sendo procurada, a droga da casa é sua e eu dou um jeito nessa bagunça – Angelina ordenou rapidamente a puxando pelo punho até a entrada da sala obrigando-a a atender aquelas batidas. Ela voltou rapidamente tentando pensar em um plano mas nesse meio tempo ouvimos um barulho forte, alguém arrombara a porta com força.
-Droga! – ela exclamou correndo rapidamente para mim, soltando meus punhos.
-Você acha que vai dar tempo sua idiota? – perguntei e ela apontou uma arma que retirou da cintura na minha cabeça.
-Claro que vai, eu estouro sua cabecinha linda se você não me ajudar – ela falou me soltando, fiquei de pé já pronta para segui-la ou melhor ser arrastada com seus dedos finos e largos apertando meu braço na direção da porta dos fundos para sairmos e deixarmos Amber para trás com a polícia mas fomos impedidas por uma morena alta de cabelos longos apontando uma arma bem na cara de Angelina.
-Vai sair assim tão cedo sem antes se despedir das amigas? – Lauren disse – abaixa a droga dessa arma.
-Sai da minha frente! – rosnou Angelina.
-Larga a droga dessa arma ou eu juro por Deus que eu vou me vingar de você agora por toda merda que me fez passar! – Lauren basicamente gritou e Angelina tremeu finalmente abaixando a arma. Eu sorri frente a morena que matinha os olhos fixos em Angelina. Amber foi empurrada dentro da cozinha por Kristen e Jennifer, ela caiu se segurando nas cadeiras.
-Finalmente! Eu já estava começando a ficar entediada – brinquei com elas que deram risada.
-Como...? – Angelina perguntou e levou um empurrão de Lauren.
-Devemos a honra a você, Angel – ela disse debochada – Você achou mesmo que eu não ia ficar com os olhos em você?
-Que trabalhinho porco foi esse? – Kristen disse se referindo a Donna, Amber se levantou.
-Você conseguiu o que queria? – Jennifer perguntou para mim e eu notei que toda aquela discussão tinha me feito esquecer do foco daquela noite. Eu balancei a cabeça enquanto Lauren soltava meus punhos, eu os esfreguei e respirei fundo. Em menos de cinco segundos voei em Amber apertando seu pescoço fino fuzilando aqueles olhinhos azuis meigos capazes de fazer qualquer idiota cair naquela mentira, mas eu não! Eu fui traída, enganada o suficiente para finalmente aprender que todo mundo pode trair todo mundo e que misericórdia e compaixão só te tornam fraca! Aquela vaca assassina era o passaporte da minha liberdade e eu iria arrancar dela, nem que fosse preciso vir com um punhado de sangue.
-Você, sua assassina ridícula, vai confessar que matou o Léo! – falei batendo sua cabeça contra a parede e ela riu.
-Ou o que? Você vai me matar? – riu como se não se importasse. – Você acha que eu tenho algo a perder?
Travei a mandíbula irritada com aquela vaca debochada.
-Fala a verdade, Amber! – gritei – assume o que você fez!
-O que? Que eu enfiei a faca naquele idiota iludido? Claro que sim sua estúpida, ele estava no meu caminho e a nossa mamãe estirada ali é a prova viva que eu matei e mato qualquer que se intrometer novamente.
Eu deveria estar feliz agora que consegui o que queria mas não, ela ria e falava de uma forma insana e extremamente assustadora fazendo meu sangue ferver de ódio. Mas não havia mais nada que ela pudesse fazer, Amber tinha confessado, ela iria presa e eu seria livre mas antes de tudo eu precisava saber...
-E qual a droga do seu objetivo? – perguntei com a voz baixa.
Ela riu.
-Matar você – disse como se fosse a coisa mais simples do mundo, eu me calei sem saber direito o que eu deveria dizer, afroxei os dedos que estavam em volta do seu pescoço – eu sempre fui a droga da sua sombra!
-Você é maluca! – falei e ela aproveitou o momento para me empurrar mas não com força o suficiente, Angelina se levantou mas levou um chute de Lauren voltando ao chão.
-Eu vou matar você, Angelina! – a morena rosnou mirando a arma diretamente no topo da cabeça dela, eu por outro lado não me importei com aquilo e até me senti ansiosa para saber que Angelina teve o fim que merecia mas sirenes e um chute na porta foi o suficiente para nós todas nos encararmos.
-É a polícia! Abra! – a voz veio como um trovão atravessando todas aquelas sirenes que me deixaram zonza por alguns segundos, segundos suficientes para Amber acertar meu rosto com alguma coisa. Tombei para o lado, caindo sobre o corpo vazio de minha mãe, seu sangue me sujou e por segundos me apavorei. Você não pode surtar agora! Eu disse para mim mesma me levantando tentando me afastar do corpo vazio mas Angelina e Lauren entraram em uma briga pela arma que estava nas mãos de Lauren, Kristen tentou intervir mas foi interrompida por algo que Amber jogou nela, provavelmente a mesma coisa dura da qual me acertou. Outro estrondo na porta! Amber ainda estava atrás de mim, e no momento que percebeu que eu me levantaria para ajudar Lauren fincou uma faca na minha perna, por trás da minha coxa. Eu gritei sentindo a minha pele rasgar junto com o músculo, perdi total forças nas pernas caindo de joelhos quando ela a retirou e ficou novamente na mesma perna, lágrimas de dor desceram inevitavelmente pelos meus olhos.
-Eu não vou voltar para a cadeia! – rosnou Angelina puxando a arma com força quando voltaram a ignorar meus gritos.
-Nenhuma de nós, sua vadia! – respondeu Lauren e no minuto de distração Angelina a acertou com um chute, ela caiu batendo as costas no armário enquanto Angelina apontava a arma para mim que estática, não conseguia me mover, não conseguia ficar de pé. Outro estrondo, eles chutavam a porta anunciando que iriam invadir, tínhamos apenas segundos, fechei os olhos esperando a minha morte vir das mãos de Angelina.
-Não! – gritou Amber abaixando o punho dela – ela é minha! – disse e aproveitando meu momento estática puxou meu punho me arrastando, eu não conseguia ficar de pé mas ela tinha uma força extraordinária me puxando enquanto eu gemia de dor.
-Margot! – Jennifer gritou vindo me socorrer mas o barulho alto estralou meus ouvidos e quando olhei para trás vi a garota cair de joelhos com o tiro que Angelina acertara em seu peito.
-Não! – gritou Kristen. Outro estrondo na porta e soubemos que a polícia conseguira invadir a casa e como se todas tivessem pensado a mesma coisa, fugiram. Eu era a única inocente o bastante para permanecer no mesmo lugar que a polícia mas Amber não perderia talvez a última chance de me matar então ela e Angelina me puxaram com muito esforço para um carro me jogando nos bancos de trás enquanto eu gemia e chorava de dor. O sangue escorria da minha perna aos montes enquanto as duas entraram na frente com Angelina ao volante. Eu olhei para as janelas á procura de Kristen e Lauren mas não as vi. Me senti fraca, impotente, elas poderiam agora simplesmente me jogar de um penhasco com o carro em movimento. As duas mulheres que mais me odiavam tinham agora o controle do meu destino, me senti fraca para lutar enquanto o carro rasgava as rodovias em uma velocidade deixando qualquer viatura para trás enquanto as duas gargalhavam.
-Cala a maldita boca! – Amber gritou comigo – parece que eu arranquei elas fora!
-Você enfiou a porra de uma faca nela! – gritei e recebi um soco que ela deu sinplesmente se virando para trás, sangue escorreu do meu nariz e se formou na minha boca. Com ódio, cuspi na cara dela que me fuzilou com os olhos.
-Você vai se arrepender – ela disse entredentes e eu tensionei meu maxilar focando em todo o meu ódio naquele momento – seus filhotinhos serão órfãos a partir de hoje a noite.
Foi o suficiente.
Qualquer coisa que ela tivesse dito ou feito não teria sido o suficiente para me deixar irada daquela forma, sentindo a raiva nas pontas dos dedos atravessar meu corpo como um raio capaz de me fazer ignorar até mesmo a dor latejante e pulsante na minha perna. Tensionei minha mandíbula, meus filhos poderiam ficar órfãos de mãe mas aquelas vagabundas não iriam sobreviver para tocar neles. Agarrei o pescoço de Amber por trás do banco apertando com força fazendo-a agonizar, eu não estava mais intimidando-a, estava sufocando-a, com as duas mãos. Pelo retrovisor eu vi o doce desespero em seus olhos o que foi combustível para eu apertar mais.
-Solta ela! – gritou Angelina com uma mão no volante e outra tentando me soltar, mas não podia desacelerar. Ela sacou a arma tentando mirar me mim com apenas uma mão mas eu soltei o uma das minhas do pescoço de Amber que inutilmente tentava se soltar me arranhando e puxando meu cabelo e segurei o cano da arma, ela disparou mas acertou somente a Janela ao lado de Amber.
-Nós três vamos morrer juntas – falei, rosnei lutando praticamente somente com Angelina já que Amber estava perdendo os sentidos.
-Hoje não – ela disse.
Eu olhei para a rodovia a nossa frente e vi os faróis do outro lado vindo tranquilamente.
-Hoje sim! – soltei Amber que tombou a cabeça para frente desmaiada e puxei Angelina com força para o lado, o carro balançou na pista indo para frente dos faróis que se aproximavam do nosso carro á toda velocidade mas ela muito mais esperta jogou totalmente o nosso carro para o lado acelerando. O carro saiu da pista asfaltada e reta, dando lugar a pedras e um barranco, não percebi quantas vezes ele tombou antes de finalmente parar graças a uma árvore enorme e grossa. Meu corpo rolou, eu estava no teto, em seguida no banco, pude sentir minha costela quebrar e minha cabeça bater com força. Eu achei que uria desmaiar e invejei Amber por estar desacordada, ela não teve que sentir cada osso de seu corpo se chocando contra as batidas que o carro dava fortemente contra o chão.
Quando finalmente o carro parou, minhas pernas estavam nos bancos mas minha cabeça estava no teto. Eu gemi ao mais leve movimento que fiz.
-Droga! – olhei em volta, Amber estava no carro desacordada, ou morta. Angelina havia sido cuspida pela porta que fora bruscamente arrancada. – Droga!
Me movimentei com as mãos no teto e com minha perna mais saudável e inteira chutei a porta para me arrastar para fora. Assim que finalmente sai me encostei no carro totalmente destruído.
-Ai – gemi quando notei um caco de vidro enorme fincado na minha coxa, a mesma perna que Amber machucara. Tomei coragem para puxar ele dali mas não o suficiente, doía como o inferno. Algumas árvores fizeram barulho e me surpreendi com Angelina caminhando, arrastando uma perna saindo dentre elas com suas mãos machucadas apoiando-se nas árvores. Ela tinha o lado do rosto rasgado, um rasgo que se estendia da sobrancelha até o queixo, a perna arrastada estava torta, notavelmente quebrada e mesmo assim, ela a arrastou ate proxima do carro. Estava quieta, apenas pegou um caco de vidro olhando-se nele e depois de encarar o próprio reflexo gritou como um animal ferido, levando as pontas dos dedos no rasgo.
-Eu estou destruída! – gritou gemendo alto demais. Fiquei calada, Angelina sempre foi arrogante e egocêntrica, narcisista e obcecada por beleza mas nunca acreditei que ela gritaria dessa forma ao ver o rosto desfigurado. O grito, que mais parecia um ganhido se estendeu por alguns segundos até ela levantar os olhos para mim, raivosos, olhos de uma serpente prontos para me atacar.
Eu estava vulnerável, uma perna imóvel, cansada. Encostei mais contra o carro atrás de mim.
-Você destruiu tudo ate meu rosto! – rosnou como um animal – tudo!
-Vocês tiraram tudo de mim também – respondi sentindo o meu peito explodir em ódio – o único motivo de ter ajudado você a fugir daquela cadeia era porque eu ia matar você, sua cobra traiçoeira mentirosa!
Cuspi em seus pés e ela rangiu os dentes e arrastando a perna se aproximou de mim. Me observou por alguns segundos, eu quis muito poder me por de pé e não morrer como um rato aos seus pés.
-Pobre Margot, sempre aos meus pés. – zombou ela e com um pedaço de pau apertou o vidro encravado em minha coxa me fazendo gritar de dor – grita sua vadia! Eu quero ouvir você gritar de dor!
A voz rouca, grossa ecoou nos meus ouvidos junto aos meus gritos enquanto eu me debatia querendo que aquela dor fosse embora.
-Desgraçada! – vociferei quando ela parou, toquei levemente na minha perna
-Maldita! Você acabou com tudo que era meu! – ela gritou – tudo! Mas eu vou ter o prazer de matar você!
E então ela tirou a arma da cintura, aquela vaca ainda estava com aquela arma! Ergui os olhos para ela bufando como um touro, eu morreria mas não como uma covarde.
-Atira! – gritei após alguns segundos dela apotando aquela droga para mim mas ela gargalhou.
-Quem diria que você chegaria tão longe para nada! – zombou entredentes.
-Atira logo sua covarde! – provoquei fechando os olhos e aguardando.
-Olha para mim! – gritou mas eu não tive coragem o suficiente. Não queria que minha ultima visão fosse os olhos dela mas a imagem dos meus filhos, de Jared. Eu queria ser feliz no meu último suspiro e parecendo ignorar o fato de eu não abrir os olhos eu ouvi o disparo. Forte, esntrodoso, ecoou por entre as árvores fazendo passaros voarem de seus ninhos acima de nós assustados. Depois outro, depois outro. Três disparos e eu esperei a dor vir depois a escuridão. Mas nada veio a não ser um estrondo de algo que caíra ao meu lado, Angelina.
O seu corpo caiu duro ao meu lado, imóvel.
-Você está bem? – Nina apareceu me assutando, comecei a soluçar e a chorar ao mesmo tempo descarregando aquela tensão que eu estava sentindo. Quase não conseguindo respirar direito, ela segurava meu rosto com as duas mãos mas eu não conseguia focar direito em seus olhos. Meu Deus! Eu não ia morrer.
-V-você atirou nela? – perguntei tremendo e os olhos castanhos se alegraram junto com um sorriso leve nos lábios, ela balançou a cabeça negativamente.
-Eu atirei! – a voz soou como uma chuva forte sobre mim, me fazendo se desmanchar em uma mistura de sentimentos fortes, alivio, alegria, confusão, medo, tudo veio de uma só vez me fazendo perder a voz e finalmente cair em lágrimas. Jared se abaixou ao meu lado soltando a arma ainda quente por conta dos disparos e me abraçou com tanta força que fez meu tronco doer muito mas não me importei com costelas quebradas, ossos quebrados, ele havia me salvado! Ele havia me salvado!
-Shh... – ele sussurou em meu ouvido – Você está bem, está salva!
Mas eu não conseguia responder, as lágrimas vinham tudo de uma vez.
-Ela deve estar em choque – Nina disse e se levantou – vou mandar descerem com uma maca para te buscar. – olhou novamente para dentro do carro capotado e suspirou – aliás, duas macas. Parece que alguém ali dentro está viva.
Soltei Jared ainda em lagrimas mas confusa.
-Como...? Como me acharam? Como vocês sabiam onde me achar? – gaguejei olhando-os e Nina sorriu.
-Isso aí sua bobinha não é só um gravador ou você acha que eu daria algo assim para você sem uma razão especial?
Nina disse e eu olhei para o relogio trincado em meu pulso, até havia esquecido que ele estava ali
-Nunca concordei com essa sua ideia maluca suicida, mas eu sabia que você não iria desistir. Eu coloquei um rastreador, por isso a polícia soube aonde ir, por isso eu e Jared sabíamos aonde ir! Me agradeça depois.
Eu estendi meus braços e sem conseguir dizer mais nada a abracei com força. Eu tinha todos os motivos para odiar a vida e desconfiar de todos ao meu redor mas mesmo assim, eu ainda tinha todos os motivos para amar a vida e confiar nas pessoas que eu amava.
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A acompanhante (CONCLUÍDA)
Romance(+18) "Margot era uma acompanhante de luxo, mas não qualquer acompanhante. Era a garota mais requisitada e mais cara da agência. Após ter sido deixada pela mãe aos quinze anos para trabalhar como striper em uma boate qualquer na Califórnia e na busc...