Capítulo XXXIV

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Mais de uma hora se tinha passado até ouvir a porta destrancar e ver, a entrar, o Jungkook e o Taehyung. Estavam sérios e de cabelos e roupas desalinhadas, como se tivessem lutado. Talvez tivessem mesmo. Levantei-me da cama, à procura de vestígios de sangue ou de feridas. Nada, nem um único arranhão.

- O que é que aconteceu? Onde é que aquele Alfa está?

- Do lado de fora da sala. - Como assim? A polícia devia de estar ali a prender aquele Alfa mentiroso e destabilizador. - Ele quer conversar contigo.

- Eu não vou conversar com ninguém e nem posso acreditar que ainda não se chamou a polícia. - Por esta altura gritava, alterado e indignado. O meu lobo dizia que algo não estava a bater certo. - Aquele Alfa é perigoso e eu não o vou deixar aproximar-se de mim para me magoar ou ao nosso filhote. Se isto é alguma brincadeira, pode terminar por aqui.

- Não é brincadeira. São ordens.

Foi então que compreendi que eles estavam sob efeito de uma voz de comando. Os olhos estavam bassos e totalmente negros, como acontecia com os Omegas. Era bizarro ver dois Alfas Lúpus a serem comandados e a irem contra o próprio instinto de proteção de parceiros, apenas para cumprir uma ordem de um outro Alfa. Senti-me traído e perdido, totalmente desprotegido, com o coração a partir. Queria chorar num canto, porém teria de agir e de imediato. Assim, com o telemóvel no bolso, enviei a mensagem que tinha preparado para o Jin hyung, para que a polícia fosse avisada.

Mas era tarde demais, porque o Alfa de mais cedo abriu a porta e bateu a cabeça do Jungkook contra a parede e a do Tae contra uma mesa, fazendo com que os dois caíssem desmaiados no chão. Gritei horrorizado, já a correr na direção de ambos, a ver um fio de sangue a escorrer da cabeça do Tae. Porém, antes que conseguisse chegar perto, fui agarrado pela cintura e puxado para trás.

- Quieto, não quero ter de usar a força contra um Omega grávido. - Afrouxou a força envolta da minha cintura, o seu olhar sempre fixo na marca, no meu pescoço. - Os teus Alfas acham que podem ir contra mim, um Alfa Original. Eu posso fazer deles um mero farrapo, reduzir os dois a húmus. Esse filhote que tens a crescer dentro de ti é destinado a ser meu parceiro. Ainda pensei que fosses tu o Omega de quem a lenda fala, mas não... O teu cheiro confunde-se com o do Omega a crescer dentro de ti. Estou disponível a fazer um acordo.

Lenda... Estava farto de ouvir essa palavra. Todas as palavras que saíam da sua boca soavam às de um lunático, desfasado da realidade. Não havia maneira de saber que o meu filhote seria um Omega e muito menos o seu parceiro. Mesmo que fosse verdade, só por cima do meu cadáver é que alguma vez iria colocar os olhos em cima do meu filho. Isto se fosse o que dizia ser.

- A polícia em breve estará aqui para o prender. Tudo o que diz é produto da sua imaginação, alienada da realidade. Você infiltrou-se na empresa do Jungkook, fingiu ser quem não era e ainda atacou os meus parceiros. As suas ameaças são vazias.

- Acredite no que quiser, dou até à noite do desfile para ler este contracto e assinar.

Passou para a minha mão uma pasta com papéis lá dentro para, logo a seguir, se evaporar e desaparecer. Confusão, tudo estava uma grande confusão, da qual não sabia como sair. Olhando à volta, era como se estivesse para vir a bonança depois da tempestade. O Jungkook foi o primeiro a recuperar os sentidos, seguido do Tae.

- Jimin... Desculpa. Nós não sabemos como, mas aquele Alfa pode usar a voz de comando em nós. - Acenei em compreensão para o Tae, eles não tinham culpa. Só me questionava onde estavam os seguranças. - Ele magoou-te?

- Não, deixou estes papéis comigo. Diz ser um contracto e que o nosso filhote é o parceiro dele, o Omega que lhe foi destinado.

- Isso é ridículo. Mesmo que o nosso filhote fosse um Omega, coisa que ainda não existe maneira de saber, ele pretendia fazer o quê? Esperar que crescesse para o levar para longe de nós? - Em total revolta, o Jungkook agarrou no contracto e começou a ler, enquanto o Tae me abraçava. - Ninguém o vai levar de nós, meu anjo. Jungkook, o que é que esses papéis dizem?

- Ele quer que no dia em que o nosso filho complete 20 anos, que vá embora consigo. Diz que é nossa obrigação manter a segurança e satisfeitas todas as necessidades, até que esse dia chegue. Mais, uma vez por ano tem o direito de o ver e estar com ele. - Como? Ele estava a dizer que eu não sabia cuidar do meu filhote? Que não tinha competências parentais para o alimentar, manter seguro e amar incondicionalmente? Para não falar que jamais o iria entregar como se fosse uma mercadoria ou um incómodo. O meu filho (Omega, Alfa ou Beta) iria ser livre e independente, capaz de tomar decisões e de dar um rumo ao seu destino. - Isto é inacreditável! Eu vou pedir para fazer uma investigação sobre este Alfa. Eu não quero acreditar que uma lenda seja verdade, mas ele consegue controlar alfas Lúpus.

- Eu nunca pensei que houvesse um pingo de verdade nessa lenda, mas concordo. É muito estranho, Jimin. - Eles acreditavam que aquele Alfa podia ser um Alfa Original, e isso fazia-me questionar se de facto também devia de considerar essa hipótese. Se assim fosse era muito estranho, bizarro e retorcido. - Nós temos de pensar mais além, aquele brutamontes não pode colocar a vista em cima do nosso filhote.

- Ele deu até à noite do desfile. 

Foram as últimas palavras que trocámos naquela sala, pouco depois entraram seguranças e até mesmo dois polícias. Reportámos tudo o que tinha acontecido e apresentámos queixa, porém a polícia apenas podia reforçar os patrulhamentos junto dali e do trabalho do Tae, e colocar uma equipa para vigiar 24 horas a nossa casa. Para a noite do desfile, teriam uma operação montada para que fosse feita a detenção. Mesmo assim, não tinha como ficar descansado.

Em casa, o Taehyung insistiu e fez-me companhia no banho, pelo que enchemos a grande banheira, saberia bem com sais coloridos e muitas bolhas de sabão. O Jungkook ficou ainda a conversar com o inspector privado e com o Jin hyung, que tinha ficado aflito com toda a nossa situação. Pelos vistos as notícias corriam muito rápido, os noticiários não falavam de outra coisa, a delirar por completo. Só mais tarde é que o Jungkook apareceu na casa de banho, apenas de robe vestido e encostado à porta, a olhar para nós.

- Não vamos deixar isto estragar o nosso dia e felicidade. Vai tudo correr bem.

- E o desfile do Tae? - Claro que não estava só preocupado com a saúde do nosso filhote, uma série de coisas estavam em risco, incluindo o desfile do Tae. - E se ele aparecer e a polícia não for capaz de o controlar?

- Isso não vai acontecer. - O Jungkook agarrou no shampoo e começou a lavar o meu cabelo, massajando com cuidado e delicadeza o couro cabeludo. Fechei os olhos e deixei-me levar pelo conforto do toque. - Tudo vai correr bem.

- Sim, não vamos pensar nisso agora. Por enquanto, vais ficar a trabalhar através daqui de casa, tenho receio que ele possa estar a usar a voz de comando com outras pessoas. - Quase que me fez abrir os olhos, nem parecia do Taehyung. - Agora, relaxa.

Command (Vminkook)Onde histórias criam vida. Descubra agora