CINQUENTA E OITO (+18)

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O universo é um sussurro das milhares de possibilidades ao seu lado.

A casa estava silenciosa, a luz da lua entrando pelas frestas dos cômodos

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A casa estava silenciosa, a luz da lua entrando pelas frestas dos cômodos. Desço as escadas e parei na sala, limpa e cheirosa, a noite e as sombras entremeadas em cada cômodo. Caminho até a janela e olhei para ela, tão grande de onde eu estava tão magnética, a lua cantava pro meu sangue e me convidava como convidou um dia, quando eu era pequena e não sabia o quanto a vida poderia doer.

Agora a canção desperta uma raiva sem medida dentro de mim, os erros que eu cometi e as pessoas que feri, quão longe eu fui pelo que eu queria. O quanto me entreguei em uma mesa de mármore como um animal ao abate ou como as prostitutas por um punhado de bronze no mercado de jônio no além-mar.

Hécate, Ártemis e Selene. Minhas mães, produtoras e destruidoras. Como eu fugiria delas? Como as enfrentaria? Mesmo com os imensos exércitos que eu conseguira para mim e minha família, de forma que Velaris cheirava ao poder doce e enjoativo de tanta gente junta. Aquilo certamente abateria Beron e o rei Tebas, mas o que faria contra as deusas da lua? Contra o deus do sol, cujo sopro único foi capaz de me deixar prostrada no chão, vomitado e suando?

Me encosto preguiçosamente na janela enorme e fecho os olhos, buscando dentro do peito aquela fresta de luz dourada e doce, antiga e jovem. Uma pequena faísca, uma pequena partícula, mas está ali. Acaricio o poder e ele se encolhe um pouco. Vamos ter um bom tempo juntos, até que ele se libere pra mim.

Fecho os olhos, com a cabeça encostada na parede quando Nestha entra na sala. Sinto seu cheiro, seu perfume forte de rosas. Abro os olhos e ela está com um vestido vermelho, os cabelos presos em tranças, o rosto severo em uma carranca pra mim.

- Posso ajudar? – Pergunto, tirando do fundo de mim um resto de ironia depois de tudo.

Ela franze o cenho e enche um copo de vinho.

- Estava procurando Elain, ela não está na cozinha, não está em lugar algum. – Nestha responde, a voz firme e grave.

Eu dou um sorriso muito suave e caminho como um predador até ela, as pernas longas ondulando, o quadril se movendo em bandoleio, sem fazer questão alguma de parecer mais gentil, então passo os dedos pelo tampão da mesa de mármore que ela está atrás.

- Cassian não está, querida. Temo dizer que ele não volte hoje. – Eu digo apenas, a voz suave como a de uma donzela, mas carregada na ironia e na raiva de uma guerreira secular.

O corpo anguloso e esguio de Nestha se contrai e ela me olha nos olhos com o ódio da morte ondulando em seu olhar. Eu dou as costas para ela e caminho até a saída, não antes de virar o rosto e contemplar ela vertendo todo o vinho.

- Sabe, Archeron – eu ronrono – todo mundo fica exausto uma hora ou outra, acho que meu irmão está ficando, se eu fosse você – paro com uma risada – eu tomaria mais cuidado, você sabe, o lance de saco de pancada sempre deixa de ser sensual e só se torna... patético.

A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora