A água caia nos lábios entreabertos da garota lutando entre a vida e a morte.
Ela não sentia dor, ela não sentia mais nada. Existe um nível de dor tão absurda e absoluta que quando atingida, o sistema nervoso decide que a consciência não pode lidar. Desse modo, com o crânio aberto e resfolegando pelos últimos segundos de vida, Athera Helena não sentiu dor.
Ela observava a lua com o pouco de consciência que lhe sobrava, um círculo negro cobria sua visão, que se afunilava, ela piscava com dificuldade imensa, mal podia mover o peso dos cílios encharcados. Seus cabelos loiros em um tom dourado cobriam a terra como um manto de seda pura desgastada.
O espaço-tempo, como um tecido fino, mas denso, foi rasgado pela luz incandescente do poder de uma deusa. Ela cortou as linhas talhadas pelas deusas mais antigas, aquelas que controlam destino e tempo, suas pernas longas passaram pelo portal, ela estava de pé, observando o próprio corpo quase morto.
Ela chorava.
Não era a mesma. Quem perecia no chão era Athera, só Athera, cabelos dourados e olhos inocentes, corpo trêmulo e quase frágil. A mulher que se agachava para observar a sua versão antiga era uma deusa. Os cabelos eram de um prateado quase branco, o loiro era puro como a luz que emergia de seus olhos, tal qual fumaça pairando no ar.
O oroboro rodopiava ao redor do universo de olhos abertos e atentos, quando a deusa tocou seu corpo quase mortal no chão, ele mordeu a própria cauda. O som estrondoso do cumprimento de uma promessa ecoou pelo mundo e quando ela queimou, grunhindo a dor de seu próprio coração sendo consumido, seus gritos foram ouvidos na casa dos deuses.
Algo se cumpriu. Ela não era mais Athera Helena, garota frágil que conversava com um astro que nada mais era que uma massa de energia pulsando e queimando a milhares de quilômetros.
Ela era agora Athera Helena Lysbærer
Aquela que carrega a luz
Ao seu lado caminharia Azriel Skyggebærer
Aquele que carrega as sombras
E juntos eles destruiriam uma era
Construiriam uma nova a sua maneira
Luz
e
Sombras
Azriel estava parado em minha frente e ele tremia. Seus dedos perfeitamente retos e sempre controlados, tremiam. Seus olhos marejados e cabelos bagunçados caindo em todas as direções.
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A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)
FantasyAthera nunca quis mais do que uma vida tranquila ao lado de sua família, e agora, depois do fim da guerra que deixou traumas, marcas e cicatrizes, ela decide finalmente tentar. A imediata do grão-senhor mais poderoso do país vai em busca de liberda...