Ela vai se levantar
Em sangue, suor e fogo
Destruir o mundo e reconstruir a sua forma
A sua corte
Luz
e
SombrasOs olhos fechados e o rosto com uma expressão suave e descansando.
Assim ele estava ao meu lado, ressonando e dormindo.
Me levantei da cama silenciosamente. Caminhei até o banheiro e tranquei a porta. Me sentei no chão e cruzei as pernas.
Ele valia. Todos eles valiam, todo o risco, todas as possibilidades fora da curva.
Fechei meus olhos e abri todas as portas de vez, meu corpo tremeluziu e sangue escorreu pelo meu nariz e molhava minha língua. A luz dourada piscou e queimou dentro de mim, aquecida e brilhando.
''Me leve até ele'', eu sussurrei.
Não senti nada.
Como é possível não sentir nada? Nem uma dor ou dormência. Eu não senti nada. Pisquei e abri os olhos e ele estava na minha frente.
Um salão aberto, pilastras de mármore talhadas e construídas com maestria e não por mãos humanas. Eu estava escondida em uma parede, atrás de uma porta, senti meus pés no chão, plantados na textura lisa e respirei fundo, mas todas as sensações eram anteriores a tudo, tudo parecia borrado, os sabores, o cheiro e tudo que eu ouvia possuía algum eco.
Ele estava sentado em uma mesa, em uma cadeira de madeira escura, mapas, papéis e inúmeras outras coisas estavam na mesa, mas eu só via ele. O corpo estava coberto por um tecido branco que transpassava seu peito. Os braços musculosos e a pele clara brilhavam dourada em um sol que parecia vir de dentro dele.
Os cabelos loiros caindo em cachos sobre a testa, os olhos azuis, o furinho no queixo. Ele era lindo. Uma conclusão óbvia e até boba, ele é um deus. Como ele poderia ser feio?
Mas não era a beleza dele que se destacava. Ele estava cansado, a mão grande foi ao peito e ele tossiu, puxou o tecido e um corte avermelhava a pele, onde eu cravei a adaga.
Bom, eu sabia que o havia machucado. Bem como a mim, aço era uma fraqueza física a ele. Onde estávamos? Não faço ideia, as janelas e todo resto pareciam em segundo plano porque eu o observava.
Ele tossiu e uma forma alta e loira estava ao seu lado. Sua irmã. Ártemis.
- Como está? – A voz dela era um sopro, abafada como eco e eu me sentia tão cansada.
A mão foi a mesa, ele chocou o punho contra a madeira e ela rachou ao meio. Ártemis não moveu um passo.
- Como pareço estar, irmã? – a voz dele, ao contrário da presença e da voz da outra deusa, eram claras – estou a ponto de jogar tudo para o alto e tomar ela a força.
Esse foi um questionamento que subitamente me surgiu a mente. Ele poderia, não poderia? Vir e me tomar para si. Ele era um deus, eu era uma grã-feérica poderosa, apenas.
Sempre supus que ele estava brincando, formulando uma caçada ou uma espécie de gato e rato comigo. Mas se estava exausto e irritado, por que não apenas me capturar e fim?
- Você sabe que não podemos. – A voz em um eco respondeu.
Não podemos.
Não podem?
- Mais do que ninguém eu sei. Mas isso será resolvido, a escória desse mundo vai matar a corte dela e ela estará tão embebida em culpa que será fácil tê-la. Afinal, você viu como o exército deles é deficitário. – Ele disse.
Ela estará tão embebida em culpa que será fácil tê-la
Ela estará tão embebida em culpa que será fácil tê-la
Ela estará tão embebida em culpa que será fácil tê-la
Ela estará tão embebida em culpa que será fácil tê-la
A frase girava em minha mente enquanto eu me sentia cada vez mais fraca, segurei o mármore e engoli a tosse.
- Ela não sabe ainda, você tem certeza? – Ártemis murmurou.
Voltei minha atenção a conversa.
- Claro que não, sua idiota! – ele gritou, e cuspiu sangue dourado na mesa – você acha que se ela soubesse que...
Então eu cai.
Não doeu para ir, mas meu corpo inteiro ardia para voltar.
Os sons eram caóticos e eu estava abraçando minhas pernas.
- Athera? – a voz de Azriel era rouca e preocupada, ele me balançava – vamos abra os olhos!
Eu obedeci e ele respirou fundo. Eu estava em volta de muito sangue, molhada em suor enquanto ele estava ajoelhado sem camisa e com os joelhos molhados no... meu sangue?
Minha nossa. Eu sangrei muito, pelo nariz, pela boca.
- O que foi isso? – Ele perguntou.
A porta estava reduzida a pedaços atrás dele.
Eu pisquei algumas vezes, me acostumando a luminosidade, aos sons novamente nítidos.
- Eu tentei, tentei ir até ele, com a magia e ver... – Eu balbuciava, ainda cuspindo sangue.
Azriel me pegou em seu colo eu respirei fundo, seus braços, seu coração, eu estava bem, viva. Sim, tudo está bem.
- Me conte o que houve. – Ele pediu, com a voz controlada.
Eu toquei seu rosto, para me sentir real, me sentir existindo de novo. Ele acolheu meu toque, ainda com os dedos sujos de sangue e segurou minha mão.
- Eu fui até ele, eu clamei a magia que ele depositou em mim e fui até ele e ele parece...
- Cansado. – Azriel disse.
Eu pisquei, assustada.
- Eu vi tudo, amor, como um sonho, acordei com seu grito no banheiro. – Ele disse.
- Como?
- Somos parceiros, nossas almas... nós, a essência, são coisas ligadas. Você estava levando sua magia, sua essência a outro lugar, o que te faz pensar que eu não iria junto?
A realidade pesou meu corpo como um tapa. Azriel e eu éramos... pelos deuses. Eu não pensei nele, que ele pudesse se ferir.
Antes que eu pudesse falar, ele me levou a banheira e me lavou, trocou meu vestido branco sujo por um vestido azul e me levou até a cama. Eu estava aninhada entre os lençóis e... exausta. Confusa, mas exausta.
- Você ouviu tudo? – Eu murmurei.
Ele fez que sim com a cabeça, sentado com as costas na cabeceira da cama enquanto eu estava sentada, abraçando os joelhos em sua frente.
- Eu não entendi bem o final... eu estava caindo, mas ele disse algo...
Azriel ergueu o dedo e segurou meu rosto com as mãos, seus olhos eram grandes e preocupados.
- ''Você acha que se ela soubesse que está sugando a magia dos deuses, ela não faria algo que não nos destruir?'', Azriel repetiu as palavras de Apollo.
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A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)
FantasyAthera nunca quis mais do que uma vida tranquila ao lado de sua família, e agora, depois do fim da guerra que deixou traumas, marcas e cicatrizes, ela decide finalmente tentar. A imediata do grão-senhor mais poderoso do país vai em busca de liberda...