DEZ

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Às vezes eu devaneio e penso que a noção de tempo não pode ser igual sempre.

Como é possível que um mês tenha se passado desde que Mor nos apresentou Lumus e cada maldito dia em que fomos privados na convivência com nosso grão-senhor e melhor amigo foi tortuoso e os minutos eram horas.

Lumus nos era uma companhia relevantemente frequente, mas bem como Varian, tinha suas ocupações, então nem sempre estava ao nosso lado.

Mas quando estava, os olhos de Mor eram duas bolas imensas brilhando para a fêmea. Me perguntava se elas tinham laço de parceria, mas nunca havia sentido cheiro nenhum disso nelas.

De qualquer forma, a vida segue, sempre segue.

A minha tem seguido entre encontros com Lucien na casa do vento, leituras no quarto, bebedeiras com minha família e, o mais importante, o treinamento das fêmeas no acampamento dos illyrianos.

Eu tinha duas turmas de 50 membros, Cassian me ajudava, muitas delas ainda me odiavam, mas as que estavam aprendendo de fato a se defender pareciam tão somente gratas a mim.

Elas se machucavam, era feio, dolorido, mas assim era o treinamento e pior que isso a guerra. A primeira semana foi a pior, tivemos tantas desistências que Devlon questionou se ainda valia a pena, com um sorriso cínico no rosto.

Mas a dor era suportável, a dor do treino não era nada comparada a dor da violação, e essas fêmeas deveriam aprender a se defender disso, saber cortar os culhões de um macho se ele tão somente demonstrasse merecer.

Algumas delas já gostavam de mim, me chamavam pelo nome e ficavam gratas por cada golpe dominado. Por essas, fossem duas ou três, eu continuaria indo todos os dias e ensinando.

Era final de semana, sexta-feira. Mor saíra da cidade para ficar com Lumus na casa da fazenda.

Rhys e Feyre foram para o chalé, tudo parecia muito vazio e monótono enquanto eu tomava vinho, aninhada no sofá.

- Vou sair com Nestha. – Cassian anunciou.

Me virei pra ele e dei um sorriso largo.

- É mesmo? Com essa roupa horrorosa?

Ele olhou para si mesmo com horror enquanto eu gargalhava, depois me xingou e saiu andando. Voltei os olhos para o meu vinho, observando a chuva que corria pelo vidro, quando senti a presença de Lucien.

Seu cheiro já era reconhecível pra mim.

- Vou só pegar uma roupa extra no meu quarto e volto. – Anunciei.

Ele assentiu com um sorriso e eu subi para meu quarto.

Enquanto tateava a cômoda em busca de um vestido simples, senti a presença de Azriel

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Enquanto tateava a cômoda em busca de um vestido simples, senti a presença de Azriel.

Meu corpo eriçou inteiramente, minhas pernas bambearam, eu mantive a fachada calma no rosto quando me virei. Ele estava ali, parado, em pé, as asas levemente abertas, a pele bronzeada linda sob a luz fraca da lua, as mãos em luvas.

Os olhos avelã fitavam profundamente os meus, minha respiração se descompassou e meu peito ficou dolorido. Essas coisas eu nem tentava esconder, ele sentia e certamente ouvia todas elas.

- Não vá. – Ele pediu.

Meu peito queimou em chamas e eu achei que fosse morrer com tanto calor em meu sangue.
- O que você disse? – Questionei.

- Não saia com Lucien hoje. – Ele tão somente disse.

Seus olhos observavam minha alma. Se ele não soubesse que eu o amo com cada fibra do meu ser, era muito idiota.

Mas meu peito se encheu ao mesmo tempo de uma dor tão terrível que eu quis morrer, porque ali mesmo, um mês antes, ele me deixou parada quando Mor veio.

Mas agora era está com Lumus, e a segunda opção, que sou eu, serve bem demais.

- Não ouse dizer isso! – Eu gritei de ódio.

A magia explodia em minhas veias.

Eu quebrei uma cadeira só de olhar tempo demais para ela.

Azriel se aproximou um passo de mim.

- Não vá, eu não quero que você vá. – Ele repetiu.

Suas palavras perfuravam minhas entranhas e eu queria tanto levantar seu corpo pesado e quebrar seu pescoço com um piscar de olhos.

- Você é muito... você é ruim, Azriel. – Eu cuspi as palavras – Eu não vou nunca me sujeitar a ser a pessoa que você agora quer porque não pode tê-la. – Eu disse.

Vi a expressão nos olhos dele mudarem, como sombras enevoadas.

Mas antes que ele pudesse me sugar com seus olhos ou sequer com sua presença, eu corri do quarto, chegando à sala, onde Lucien me esperava.

- O que aconteceu? – Ele perguntou, ao ver o horror em meus olhos. 

Eu não respondi, ao invés disso, coloquei a mão em seu braço. Jurei ver Azriel parado na escada um milésimo de segundo antes de eu atravessar.

Me apoiei na janela da casa do vento, respirando o ar limpo da cidade. Sentia os olhos de Lucien em mim, a pergunta implícita entre nós, mas ele não queria ultrapassar nenhum limite.

Ele jamais o fizera, jamais perguntou nada sobre Azriel, nenhuma vírgula sequer, ele era bom e decente demais, lindo, delicioso.

Parceiro de outra.

Eu caminhei de um lado para o outro do cômodo com o peito em chamas.

- Athera... – Lucien murmurou.

- Aquele... aquele infeliz! – eu gritei – ele me humilhou quando me deixou SOZINHA naquele quarto para sair com ela! E agora acha que pode, que pode pedir para eu não sair com você! Isso é RIDICULO. – Eu gritava.

Pensei que veria confusão nos olhos de Lucien, mas ele tão somente deu um sorriso muito leve e se aproximou de mim, tocando minha mão e me fazendo olhar em seu rosto.

O olho de metal rangeu enquanto ele examinava as lágrimas de ódio em meu rosto.

- Eu sinto os ciúmes dele, Athera. Sinto a raiva que ele direciona a mim, o ódio. Isso não me parece coisa de quem está te procurando porque não conseguiu ter outra. – Ele disse.

Então ele ouviu. Claro, eu berrei. Eu respirei fundo, mas minha mente não conseguia conceber a ideia de que Azriel me amava de verdade.

- Escute – ele disse novamente – Eu te adoro, você é linda, seu corpo, nosso sexo, é tudo delicioso. Mas eu não posso te pertencer – senti a dor com a qual ele dizia aquilo – e você também não pode me pertencer, não porque eu efetivamente pertenço a outra, mas porque você pertence a outro.

Eu me desvencilhei dos braços de Lucien e voltei a caminhar. Mas Azriel nem era meu parceiro, isso não fazia nenhum sentido.

Achei por um momento que Lucien pudesse ler mentes, porque ele me olhou e disse:

- Eu não escolhi isso, não escolhi pertencer a Elain Archeron – senti sua voz estremecer quando ele disse o nome dela – mas você tem a escolha, e vai escolher errado se deixar o encantador de sombras lá.

Eu continuei andando de um lado para o outro, respirando fundo.

- Vá, Athera, se decidir depois que não o quer, estarei livre para continuarmos fazendo as coisinhas travessas de sempre, acho que minha parceira não vai mudar de ideia como você. –

Ele disse, com um peso na voz.

Eu abracei Lucien, me apeguei a cada pedaço de seu corpo, enquanto atravessamos de volta para casa.

E eu corri para a varanda.

Para tirar a prova do que estava a tanto guardado em meu peito sobre Azriel.

A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora