Azriel, 9 anos.
Estava tão escuro.
O corpo do garoto tremia e ele estava coberto de suor. Suas mãos estavam destruídas. Enroladas por faixas que já sangravam cheias de pus da cicatrização ligeira em seu instinto feérico.
Ele estava sozinho, as paredes de pedra eram geladas e ele queria beber água, comer frutas e dormir em paz, com sua mãe ao seu lado. Ele sentia medo, sentia dor no corpo, sentia os nervos paralisados e as asas pesadas demais em suas costas.
Ele era só um garoto.
A jarra passou pelo fecho da porta, alumínio amassado e furado em algumas partes. O líquido precioso já escorria. O garoto se apressou, gemendo baixinho de dor e pegou o recipiente, apoiando o peso nos pulsos para não forçar as mãos que ainda doíam. Queimadas.
Ele tentava afastar as lembranças, os risos cada vez mais altos de seus meio-irmãos e os gritos cada vez mais agonizantes de sua garganta enquanto sua pele se tornava líquida. Suas mãos. Queimadas.
Caminhou devagar até o apoio de pedra e posicionou, se ajoelhou e segurou a borda com os lábios trêmulos, fez o mais suave impulso e quando o liquido escoou em sua boca, molhando as pequenas rachaduras em seus lábios e o colar insuportável em sua garganta, ele arfou de alegria.
Por um segundo.
Foi o que bastou. A jarra virou em seu corpo. Molhou suas roupas e encharcou as ataduras.
Ele grunhiu, choramingou e se debateu de ódio. Estava frio, ele não tinha mais água nem mais roupas secas. Seria uma daquelas noites.
Mais um som. Metal. Braços, pele com pele e então seu corpo na grama. Faziam dias. Eles o trancafiaram mais fundo depois de seu ferimento e ele passou seu aniversário preso, sem ver as estrelas, a lua e o céu.
Mas hoje era noite. A terra grudava em sua camiseta molhada e ele tremia de frio. Mas ainda assim, ele ergueu os olhos. Seu nome cantou dos céus baixinho em seus ouvidos como melodia e ele sorriu.
Azriel.
Esse era seu nome. Ele se lembrou, mais uma vez.
Havia sangue. Muito sangue. Espirrando em meu rosto.
Tentei me segurar, mentir mais uma vez para mim mesma porque eu era muito boa em mentiras. Principalmente quando eram internas.
Mas o som. Lâmina rompendo carne e eu quase tropecei quando a espada atravessou o corpo de Vivian. No vão entre suas omoplatas e saindo no peito, atravessando pulmões e órgãos.
Me apoio em minhas pernas e seguro o corpo dela pelos ombros. Ergo os olhos, Apollo puxa a espada de volta, é só névoa e então mais nada.
O peso, eu a seguro, me abaixo e ela cai em meus braços, o sangue chega aos lábios e escorre pelos cantos, ela olha o céu e então olha para mim.
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A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)
Viễn tưởngAthera nunca quis mais do que uma vida tranquila ao lado de sua família, e agora, depois do fim da guerra que deixou traumas, marcas e cicatrizes, ela decide finalmente tentar. A imediata do grão-senhor mais poderoso do país vai em busca de liberda...