TRINTA

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- Bom, hoje eu consegui efetivamente invadir apenas dez, e com algum esforço, elas estão mesmo se esforçando. – Feyre dizia, enquanto caminhávamos para fora do acampamento um mês e meio depois do treinamento que começamos juntas.

Mor andava ao nosso lado, a testa suada e as mãos com alguns cortes.

- Quanto a você? – Eu perguntei, olhando no rosto dela.

Ela me virou as mãos e deu uma risada alegre.

- Foram elas. Estão cada vez melhores com as espadas. – Morrigan disse, alegre.

Elas se esforçavam a cada dia, e embora estivéssemos exaustos e amedrontados pelos boatos que já se tornaram algo muito maior e mais forte, a alegria e o contentamento com o trabalho delas, que eram tão pequenas e frágeis meses antes nos aquecia o peito.

- O que faremos quando chegar a hora de batalhar? – Feyre perguntou, bebendo uma bebida âmbar.

Eu inspirei fundo, tentei protelar em pensar nisso, mas obviamente a hora iria chegar, quando organizássemos os acampamentos e decidíssemos batalhar, aconteceria e não seria simples ou gentil, seriam ossos e carne, sangue que escorreria pela terra úmida.

Se colocaríamos elas no campo? Eu não sabia mais, me afeiçoei a elas, a cada uma delas, a jovem astuta Vivian, que conseguira me dar um olho roxo alguns dias antes, a doce Marea, que chutava como ninguém e principalmente a Narcissa, agora já era a melhor em arco e flecha.

Mas também a todas as outras, a Atrudite, uma pequena fêmea que tinha o nariz achatado e a pele morena, a Judirah, uma jovem de apenas 17 anos que era quase da altura de Rhysand e derrubava qualquer um com um soco. Ainda tinha Jolene, forte e tão linda, eu notei que ela e Vivian estavam se olhando momentos a mais nos treinos.

- Eu honestamente não sei, Feyre. – Eu confessei, entornando meu copo e deixando que queimasse minha garganta com a bebida.

Estávamos esparramadas no sofá de minha casa, sujas e suadas nos embebedando depois do treino exaustivo.

- Elas vão querer lutar. – Mor afirmou.

E eu sabia que sim, que quando fôssemos nos impor contra os opositores, elas iriam desejar estar na fronte.

Mas como eu permitiria isso? Como eu viveria se perdesse uma delas? Se na semana após a batalha, eu treinasse menos delas? 

- Elas são só crianças. – Eu disse, as mãos segurando o rosto.

Feyre esfregou a palma em minhas costas, me confortando.

- Elas são capazes disso, Athera. – A voz suave de minha grã-senhora entrou em meu corpo.

Se alguma delas fosse capturada? Só a ideia de Narcissa nua e torturada como eu fui me deixava nauseada.

- Crianças, Feyre, são crianças. – Eu repeti, sem conseguir levantar o rosto.

Ouvi o som de Morrigan enchendo o copo enquanto eu inspirava e prendia o choro, ou o vômito dentro do estômago, eu sequer sabia mais.

- Athera – a voz grave e firme de Mor de tirou de meus pensamentos quando levantei o rosto e olhei em seus olhos, ela estava ajoelhada em minha frente – elas vão lutar, elas precisam disso, precisam que confie nelas, que esteja por elas, essa luta é delas.

Eu deixei que a represa quebrasse e as lágrimas escorreram quentes em minhas bochechas.

- Se fizerem com elas o que fizeram comigo, Mor? O que fizeram a você? – Questionei.

Mor colocou o copo cheio de bebida entre meus dedos e acariciou meu braço.

- Não irão, porque nós vamos destruir a eles antes disso. – Ela prometeu.

A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora