CINQUENTA E CINCO

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Todas as coisas escondidas dentro de mim

São pesadas demais para que eu coloque em seu ombros, amor.

A vida carrega consigo um jeito estranho e até mesmo cômico de levar a situações até mim

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A vida carrega consigo um jeito estranho e até mesmo cômico de levar a situações até mim.

Durante os meus quinhentos anos de vida, eu pensei muito pouco sobre isso, sobre o destino e os fios nos quais as deusas manipulam na ponta de seus dedos no tear sagrado. Agora, de olhos fechados e parada na varanda da casa do vento, eu penso um pouco sobre isso.

Como as coisas evoluíram dessa forma? Eu sai de uma criança que gostava de olhar a lua para o desejo sombrio de um deus, uma parceira, uma general, uma treinadora, uma imediata, uma irmã.

Existem muitas coisas desagradáveis sobre a minha vida e os caminhos da minha história. Mas eu não estou certa se faria mudanças bruscas ou se só gostaria de ser capaz de parar o tempo para tirar uma lâmina do lugar ou enfiar palavras na minha própria boca.

Gostaria de ter tido mais tempo. Ao lado de Azriel, de Rhys, de Cassian, de Jolene... Gostaria de ter sido menos orgulhosa e talvez assim tivesse provado os seus lábios doces e afundado os dedos em seus cabelos macios.

Mas enquanto a garoa cai fina em contato com a minha pele eu sorrio para o vento que queima e corta meu rosto e penso que tudo bem... que eu esperei quatrocentos anos e tive ao lado dele apenas sete meses. Tudo bem. Eu consegui me esgueirar pelas pernas dos deuses e roubar mais tempo do que me deveria ser dado. Era só tempo emprestado. Que eu, como trapaceira, pude burlar.

Então eu passo as mãos pelos cabelos úmidos, confiro meu uniforme colado ao corpo e respiro fundo antes de entrar na casa vazia.

O escuro me faz abrir mais os olhos e dilatar as pupilas, meus dedos se contorcem ao lado do corpo e eu caminho com cautela pelo silêncio vazio preenchido apenas pela metade com o som suave da chuva.

Preenchido pela metade, como ela.

Vivian está parada em minha frente. Com calças justas e uma camiseta branca. Os cabelos prateados lhe caem sobre a testa e ela testa uma fivela em sua bota quando levanta os olhos para mim.

Ela está morta. Eu posso ver pela maneira automática que ela faz a volta no couro, pela forma que ela pisca duas vezes a cada dez segundos, pelo jeito que ela milimetricamente finge estar viva para lutar uma última vez. Ela não está viva, não é mais sua alma e seus sorrisos, ela é só um amontoado de carne e ossos e melancolia sem uma alma, porque sua parceira está com ela. Morta.

- Vivian... - Consigo murmurar seu nome com a garganta fechada.

Ela levanta os olhos e os músculos de seu maxilar se tensionam com força, ela se esforça com cada camada para se manter firme. Ela pisca duas vezes em dez segundos e está parada, os olhos vazios como uma caverna e a pele escura pálida e acinzentada.

A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora