SESSENTA E CINCO

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Todas as coisas ao redor de nós dois, sempre.

Todas as coisas ao redor de nós dois, sempre

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Azriel, 8 anos. 

O silêncio absoluto é o único companheiro do garoto de olhos profundos e cabelos pretos que voam e caem pela testa quando uma fresta de vento passa pelos cantos das portas. 

Ele está sentado, abraçando as pernas e olhando para a parede de pedra. Ele conta as frestas, ele respira, ele cutuca o canto das unhas. Mais um sopro de vento. Ele sussurra sem voz e seus ombros caem. As asas pesam em suas costas estreitas. Ele é só um garoto. 

Sente falta da mãe. Ele esquece o nome dela as vezes, as vezes é um sussurro em seus ouvidos ou uma lufada de ar em seu peito pesado. Ele está cansado. 

Hoje ele tentou murmurar seu próprio nome para se sentir real. Mas ele não sabe mais seu nome. 

Garoto. 

Moleque. 

Peste.

Praga. 

É assim que ele é chamado. Quando é. Na única vez do dia que ele é tirado da cela fechada e escura e lhe é permitido ver o mundo. Nunca é periódico, as vezes se esquecem. A comida é jogada, uma massa que parece papel molhado. Ele come e bebe, respira, cutuca as unhas e pisca. Toca as asas que crescem e sussurra as sombras que passam pelas frestas. 

Um som alto, sem melodia, um tilintar e a porta se abre. Dedos em seu braço, silêncio. Ele fecha os olhos e o corpo atinge o chão. Grama, macia, cheiro de terra molhada. Hoje é um dia de sorte, é noite e ele foi jogado no campo aberto de treinamento perto de um dos jardins. Ele prefere quando é noite. 

Ele cheira o ar e enfia os dedos na grama, deixa a areia entrar no espacinho das unhas curtas e esfrega os joelhos. As asas se esticam em suas costas e farfalham atrás de seu corpo recebendo o vento.

Um grunhido. Ele não pode voar. Não pode treinar. Não pode se mover bruscamente. Os guardas mostram as lâminas e se escondem nas sombras. 

Mas ninguém pode se esconder nas sombras. Não dele. 

Ele abre os olhos grandes de cor de avelã e os cílios pretos que delineiam. A lua e as estrelas piscam e ardem no céu. Ele gosta das estrelas, o garoto. Mas ele gosta mais da lua. 

Ela canta pra ele, as sombras tocam seus braços, ele sorri. 

As asas batem suavemente e os guardas grunhem de novo, escondidos nas sombras. 

A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora