SESSENTA E TRÊS

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Você pegou minha alma e a purificou.

O vento roçava meu rosto como um beijo e meus cílios acariciavam minha pele com carinho

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O vento roçava meu rosto como um beijo e meus cílios acariciavam minha pele com carinho.

Eu pisquei algumas vezes e vi as estrelas de novo. Brilhantes, grandes e inúmeras. Balancei as pernas de novo. Eu estava na varanda de casa, sentada no batente, as pernas contra o vento. Um vestido branco e fluido que esvoaçava com o som mudo do sopro natural.

Contabilizei todas as coisas que eu tinha certeza na vida. Eu tinha poder em mim. Eu tinha um parceiro, e eu o amava. Eu tinha um pequeno e fiel exército de fêmeas. Eu estava lutando contra deuses.

Eu não era culpada.

Assoprei as palavras pra noite e depois as disse em voz alta para mim mesma. Como um mantra, minha nova oração.

Olhei a lua. Alta, redonda, brilhante. Linda.

Morrigan e Lumus estavam com as malas prontas para ir até Beron. Até Eris. Ela iria de bom grado até seu pior pesadelo de olhos fechados. Eu lutava contra mim mesma a cada segundo para não abrir as asas e voar em seu lugar. Esfreguei as têmporas.

Como eu a deixaria ir? Seria o mesmo de me enviar de novo até aquela floresta. Até aqueles homens que no passado eu matei.

Contei minhas opções. Eu tenho um exército, eles também têm. Eles têm deuses. Eu tenho a mim.

Fechei os olhos por um momento, sentindo todo o mundo ao meu redor. O orvalho da garoa se acumulando em meu nariz, o frio subindo pela curva das minhas panturrilhas, o a superfície dura que comportava meu corpo, a sensação do tecido de seda que esvoaçava e roçava minha pele.

Então dentro de mim, olhei mais fundo. Carne. Sangue. Ossos. Tecido. Músculos. O abismo. Era como se eu fosse um poço de portas douradas, cada porta, um nível de poder, cada porta, a possibilidade de algo novo. Clamei minha magia como se cantasse, ela subiu e encheu meus olhos, como se um pingo de colírio fosse colocado ali, uma lente que me permitia ver o mundo com mais nitidez. Se eu fosse a um espelho, sabia que meus olhos estariam brilhando lilases.

Respirei fundo uma então duas vezes, dentro e fora, me aproveitando do oxigênio. Abri uma porta, estendi a mão, duas portas. O mundo ao meu redor afunilava e eu estava atenta a uma gota de água na ponta de meu nariz. Estendi mais fundo... um pouco mais... por favor.

Ali estava. Uma forma geoide, densa e brilhante, dentro de mim, muito fundo. O poder de Apollo, o poder de um deus. Brilhante, quente, fugaz e dourada. Chamei-a, com carinho e cuidado, ela flutuou devagar até mim, aquecendo meu corpo, minhas veias.

Olá, pequena desconhecida. Como vai?

Se eu... eu tinha a magia dele, e ele tinha a minha, eu toquei nele como ele tocou em mim. Se eu pudesse entrar na mente dele como um sonho, pela substância das nossas magias, pelo calor e pela luz?

A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora