Velaris, 490 anos antes.
As estrelas brilhavam como nunca. Eu me sentei na varanda de casa, observando o céu se estendendo com a lua enorme e matriarca tomando o espaço. Sempre me cativou, meu astro favorito.
O sol sempre fora tão exibido, mas a lua, ela era feminina, cativante, sentia seu chamado inebriante em meus ouvidos como se fosse uma sereia e eu estivesse mergulhando em sua procura. Mas tudo era brincadeira de criança.
Meu pai havia ido voluntariamente a guerra pelo grão-senhor. Me lembro exatamente do dia que ele saiu de casa, alto e forte como um cavalo, mas imensamente gracioso, as vezes eu me perguntava se ele não poderia simplesmente flutuar ou voar, ele parecia um anjo, um serafim lutador. Com uma espada nunca usada no cinturão e a promessa do heroísmo ele saiu pela porta.
Deixando uma filha saudosa com uma mãe que claramente tinha nele seu universo. Mas eu a amava, minha mãe. Ela poderia ser uma fada, linda e de feições repuxadas e delicadas..., mas tão triste, as vezes me perguntava por que ela parecia sempre tão intensamente triste.
Então enquanto eu olhava as estrelas, ouvi seu grito rouco, a voz tão fina e aguda que quando eu desci as escadas de casa me embolando em minhas próprias pernas, não pude segurar seu corpo já caído no chão, ela chorava e se debatia como uma criança em seu agouro, as pequenas mãos com unhas afiadas agora arranhavam os braços pálidos e finos.
Tentei segurar suas mãos, mas ela me empurrou e eu bati com as costas na pilastra de mármore.
Só no outro dia ela achou que deveria me dizer que meu pai estava morto.
Porque a dor dela sempre foi mais importante que a minha.
Alguns anos depois, ela estava cadavérica, os braços mal se recuperavam dos filetes de couro que ela retirava com as unhas, as orelhas sempre vermelhas e os olhos sempre inchados.
Quando minha mãe morreu eu fiquei feliz por ela, havia pensado várias vezes em eu mesma cravar uma adaga em seu peito. Não porque eu a odiava, mas porque ela queria tão desesperadamente morrer que eu me sentia culpada em não dar uma ajudinha.
Então quando cheguei do treino de arco e flecha e a encontrei morta no quarto, o corpo calmo e sempre arranhado sobre a cama, fiquei feliz por ela, porque ela finalmente conseguiu o que queria. Seu rosto esboçava um sorriso suave. Faziam tantos anos que ela não sorria que eu me lembro de ficar sentada ao lado de seu corpo observando seu sorriso. Enterrei seu corpo na floresta e escrevi em uma pedra branca em cima de seu pequeno túmulo: ''Laisserai. Amou intensamente.''
Não chorei por sua morte, ela a queria, e não lamentei estar sozinha no mundo, eu sabia, em alguma parte dentro de mim que sempre estive, que de alguma forma, no dia que meu pai, o belo Chaol saiu pela porta de nossa casa, eu estava sozinha.
Mas tudo bem porque, de certa forma, era melhor assim.
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A Corte de Luz e Sombras (FINALIZADA)
FantezieAthera nunca quis mais do que uma vida tranquila ao lado de sua família, e agora, depois do fim da guerra que deixou traumas, marcas e cicatrizes, ela decide finalmente tentar. A imediata do grão-senhor mais poderoso do país vai em busca de liberda...