Olhando para você torna isso mais difícil

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Eu aprendi a olhar para o meu corpo com um olhar curioso, ainda carregada de dúvidas e com medo de fazer algo errado, mas com a segurança de encerrar essa última semana do nosso terceiro mês. Ganhei um outro tipo de curva, o meu quadril ficou mais largo e minha barriga, a cada dia um pouco mais pontuda. Bebê, você mexe com todos os sentimentos que existe dentro de mim. Você aflora aos poucos tudo o que eu pensei nunca sentir. Que bom ter você, meu bebê. Só que de um jeitinho bem intimidador, eu ainda escondia um pouco o meu próprio corpo entre os moletons largos, mais nenhum jeans fechava e os meus vestidos só ficavam ainda mais justos, além de curtos. Eu tô aprendendo a viver com você, bebê. As últimas semanas não foram fáceis, mas estamos tentando sobreviver. Você deve estar sentindo toda essa mudança, todas essas noites de lutas.

Eu queria que o Michael pudesse ver o que eu conseguia enxergar, cada descoberta nova com a minha obstetra. Ele não está presente. Todos os dias eu tento entender, compreender e estar no seu lado para que ele mesmo pudesse conseguir ver a realidade por uma nova perspectiva, mas essa realidade não condiz com o que ele realmente sente. A ausência do Donald tem ferido, nos machucado e apagando todas as possibilidades possíveis de um pouco mais de esperança. Não existe trabalho para o Michael, assim como não existe um caminho para percorrer agora. Eu ainda fico assustada em todas as noites e procurando tentar ter um novo fôlego em todas as manhãs, mas Michael não mostra força, somente resistência. Ele não é capaz de engolir, ainda não. Eu me sinto melhor na questão dos enjoos, mas continuo com uma fome quase insaciável agora e os hormônios continuam mexendo com a minha cabeça.

Eu estava jogada no sofá, usando os mesmos moletons largos e tentando acompanhar qualquer coisa que passava na TV com um balde de pipoca. Hoje o Michael tirou mais uma manhã para treinar, era absurdamente nítido o quanto ele retornou a sua musculatura, ele estava bem maior e mais forte em todos os quesitos, seus olhos se cegaram completamente em todos esses treinos e lutas arranjadas dentro da sua própria academia com o boxe. Nessa tarde, ele ajudaria a Zazie com o processo de mudança, com as suas caixas e principalmente com alguns móveis, não foi somente ele que me aconselhou a ficar em casa por conta de todo o peso e ter cuidado com o final desse primeiro trimestre. Escutei o som do elevador, o que me fez me sentar rapidamente ao largar o balde de pipoca na mesinha de centro e abaixar o volume da TV, não pensei que o Michael voltaria antes de anoitecer, mas não era realmente ele. Assim que ergui o olhar, a Donna, mãe do Michael, apareceu no meu campo de visão e eu franzi o cenho, não esperava à sua visita.

- Oi, minha querida. Eu deveria ter avisado que estava chegando, mas nem mesmo dei um toque na portaria para alertarem à minha entrada. - Donna disse baixo ao se aproximar e olhar para a minha própria cara de surpresa, mas eu suspirei quase de alívio. - Estava passando por perto e resolvi aparecer, Michael não está atendendo as minhas ligações e por mais que eu fale com o Lakeith, além da própria Zazie, fiquei mais preocupada com vocês.

- Oi, Donna! É tão bom te ver, não precisa nem se desculpar. - Respondi rapidamente ao me levantar, assim que ela se aproximou e deixou sua bolsa em um dos sofás, ela me abraçou e eu a abracei com mais força. - Quando isso acontecer, não se preocupe em ligar pra mim.

- Não vou mais hesitar em ligar pra você, querida. - Ela murmurou além de forma doce, preocupada. - Como estão as coisas? Como está esse bebezinho? - Ela questionou ao me olhar atentamente, descendo as suas mãos gentilmente pelo meu moletom e tocando na minha barriga. - Michael não está por aqui?!

- Estamos bem. - Respondi quase confusa, Donna só me olhou mais preocupada e eu suspirei. - Michael não está em casa. Ele está com a Zazie, resolvendo coisas para tentar acelerar o processo de mudança dela. - Ela respirou fundo e eu apontei gentilmente para o sofá, mas a mesma acabou se sentando na poltrona mais próxima e eu me sentei no sofá de frente para ela, quase me encolhendo. - Tem sido difícil, Donna. Bem difícil.

Crazy In Love IIOnde histórias criam vida. Descubra agora