E eu sei que essas cicatrizes irão sangrar

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Eu não poderia e nem mesmo conseguiria exigir a presença do Michael. Ele não conseguiria ser mais o mesmo. Ele não consegue mais fechar os olhos por muito tempo, seu próprio corpo lutava contra tanta angústia. Eu escutava e sentia a sua respiração falhar em quase todas as noites, meu coração ficava apertado. Nem mesmo eu conseguia aceitar que o Donald não estaria mais aqui, quem dirá ele? Que viveu praticamente toda a sua vida com o seu parceiro, o seu melhor amigo. Os primeiros dias são os mais insuportáveis, a semana mais dolorosa de todas. Eu sei disso, por experiência própria. Michael estava distante, todos estavam. Não era só como se estivesse faltando uma peça, faltava uma vida.

Eu estava terminando de me arrumar, iria visitar novamente a Zazie. Essa primeira semana é a mais difícil, todos nós estávamos por perto, levando e auxiliando como dava, mas principalmente se fazendo presente. A Tessa ficou os três primeiros dias na casa deles sem exceção, Daniel e Lakeith visitavam elas frequentemente, Michael passava a maior parte de todas as manhãs por lá e dando uma atenção maior para a Skai, a pequena não estava conseguindo fazer nada, ou ao menos se distrair. Nem imaginávamos que a queda seria tão grande assim, ninguém imaginava o que se passava no coração das duas. Sai do quarto segurando o meu casaco e minha bolsa, desci às escadas, passei pela sala de estar e encontrei o Michael terminando o seu almoço na ilha da cozinha.

- Oi. - Murmurei, bem mais baixinho e com cuidado ao me aproximar, ele ergueu o olhar e com toda certeza, eu ainda não sei como me acostumar com esse olhar. - Eu tô indo ver a Zazie, mais tarde eu tenho alguns exames. - Ele somente balançou a cabeça assentindo e eu engoli em seco, eu pensei em chamá-lo, mas agora tive certeza que ele não iria querer vir comigo.

- Só toma cuidado, qualquer coisa me liga. - Foi a única coisa que ele disse, o que ele sempre diz.

Balancei a cabeça concordando, sem nenhuma outra opção. Me aproximei mesmo assim e beijei seu rosto, ele se virou devagar ao suspirar e deixando que somente a sua bochecha encostasse na minha de forma carinhosa, depositei um beijo nos seus lábios e suspirei antes de acabar saindo da cozinha. Michael encontrou outras maneiras de descontar todos os seus sentimentos e frustrações, descarregando suas dores nos seus treinos que só ficaram mais intensos. Quando a tristeza não consumia ele por completo, a raiva fazia esse papel. Eles não estão trabalhando, em nenhum negócio e eles nem precisam pensar nisso, de maneira nenhuma. Cada um tem encontrado outros jeitos para suportar a dor e luto nessa pausa. Respirei fundo, entrei no elevador e desci até a garagem, fui até o meu carro ao vestir o meu casaco e abri a porta, jogando a minha bolsa ao lado e saindo com uma leve pressa, a cada dia eu estou mais tensa.

Eu sei que para encarar o estilo de vida que eles vivem é uma escola e desafio, é preciso desligar todas as emoções para lidar com as outras pessoas e principalmente, com aqueles que consideramos inimigos. Só que deixa de ser um jogo quando perdemos um dos nossos. Era difícil o caminho até a casa da Zazie, mas a cada dia ela parece lutar consigo mesma para estar na melhor posição e tudo isso por causa da Skai. Não sabemos lidar, mas deve ter um caminho. Ainda não descobrimos qual. Eu acabei ignorando o último contato que eu tive com a Zendaya, Ariana e até mesmo com a Melanie, eu não estava com cabeça, mas Ashley tem sido mais acolhedora do que eu, vou dar um jeito nisso só quando eu conseguir deixar as coisas esfriarem até para o lado do Michael. Estacionei o carro na frente da mansão da Zazie, peguei minha bolsa e assim que desci do carro um dos seguranças já liberava à entrada pra mim.

Respirei fundo ao entrar, passando pelo jardim de forma mais atenta, estranhamente a porta de entrada estava aberta e escutei algumas movimentações, as vozes eram baixas e acabei entrando direto, ainda sem jeito de pisar aqui e não transparecer ainda mais dor para a Zazie. Assim que passei pelo hall de entrada e cheguei na sala de estar, a Skai estava sentada no sofá assistindo distraidamente, ou só focada para algum filme de super-heróis que passava na TV. A Zazie estava próxima da sua mãe, as duas pareciam organizar algumas prateleiras e quando pensei em falar, a mesma se virou e me encontrou, um sorriso fraco se formou no seu rosto, apesar dos seus olhos serem os mesmos olhos tristes de sempre e eu sorri de volta.

Crazy In Love IIOnde histórias criam vida. Descubra agora