Em frente à luz de sua auréola

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Acordar com o cheirinho de café da minha mãe era uma das coisas mais gostosas, mas nada era comparável com o cheiro delicioso e irresistível do seu bolo de chocolate ainda no forno. Assim que abri meus olhos, eu automaticamente me levantei da cama e somente passei as minhas mãos no rosto, com preguiça de ir ao banheiro. Eu não perderia a oportunidade de descer e ir direto para a cozinha, não perderia a oportunidade. Não é sempre que a minha mãe acorda assim, tão inspirada. Isso já me fez rir. Prendi meu cabelo em coque enquanto descia os degraus da escada, em seguida me virei para entrar na nossa cozinha e me assustei, o que me fez paralisar.

É claro que ela tinha acabado de tirar o bolo do forno e colocado no balcão, o cheiro estava ainda mais forte e se misturando perfeitamente bem com o cheirinho vindo da jarra de café fresquinho ao lado, mas não era exatamente isso que me pegava de surpresa. Minha mãe estava sorrindo com um bebê nos braços, seus braços rodeavam aquele pequeno corpinho com total segurança e as mãozinhas gordinhas dele tocavam o seu rosto, ele abria e fechava a boca fazendo sons engraçadinhos que faziam a minha mãe rir. Rir apaixonadamente. Eu franzi o cenho e olhei para baixo, minhas mãos foram diretamente na minha barriga. Meu bebê? É o meu bebê? Ergui o olhar perdida. Até a minha mãe perceber a minha presença, ela se virou sem deixar de sorrir ao apertar o bebê nos seus braços e passou a mão carinhosamente nos seus cachinhos.

- Olha só quem chegou, neném. - Minha mãe cochichou chamando atenção do bebê, segurou a sua mãozinha e apontou diretamente pra mim ao sorrir. - A sua mamãe! - Disse mais baixinho, com mais carinho. - Ela vai ser a sua companheira para toda vida. A sua melhor amiga.

O bebê me olhou e abriu um sorriso, um dos sorrisos mais gostosos que eu já recebi em toda a minha vida, com a gargalhada mais linda. Ele abriu os braços pra mim, suas mãozinhas me chamavam e eu senti meu coração querer sair do peito em cada batida, um sentimento que eu nunca senti antes. Eu me aproximei, mesmo confusa ao olhar para a minha mãe e peguei o bebê. Seus bracinhos rodearam o meu pescoço, minha mãe só conseguia me olhar com extremo carinho e eu fechei os meus olhos, sentindo o perfume doce. Sentindo o perfume doce do meu bebê. Quer dizer, da minha bebê. Minha mãe me abraçou, seus braços nos rodearam e escutamos mais uma vez a gargalhada baixa, quase rouca e linda dentro do nosso abraço.

- Normani. - Escutei a voz alta do Michael me chamando de longe, foi quando eu percebi que tudo não passava de apenas um sonho. - Tá tudo bem?! - Ele questionou preocupado e eu senti suas mãos tocarem nos meus ombros. As minhas lágrimas caíram. - Normani, o que foi? Abre os olhos, linda. Diz alguma coisa pra mim.

Eu me estremeci, sentindo meu coração se afundar no meu peito de tanta agonia. Não só agonia, de tanta saudade. Minhas mãos tremeram antes que eu pudesse agarrar os travesseiros e desejar voltar naquele momento. Eu precisava sonhar de novo. Eu precisava sentir o cheiro do café, eu precisava escutar a voz da minha mãe mais uma vez, eu precisava olhar para aquele bebê e sentir ele nos meus braços, sendo rodeada pela proteção e segurança da minha mãe, eu queria viver isso. Eu queria. Michael praticamente me puxou para ele, o que fez chorar e me sentir completamente fraca.

- O que foi, Normani? - Michael perguntou ainda amais preocupado, tentando segurar o meu rosto, mas sem conseguir tirar as mãos do meu corpo. - Você tá passando mal, linda? Tem alguma coisa doendo?! - Balancei a cabeça negando, tentando controlar o meu próprio choro e quando abri meus olhos, ele me encarava completamente assustado.

- Foi só um sonho. - Sussurrei em meio às lágrimas e o Michael franziu o cenho, eu pisquei várias vezes até conseguir entender. - Eu sonhei minha mãe. Estávamos lá na nossa casa, ela... Estava segurando o nosso bebê. - Tentei dizer, ainda mais triste. - Eu podia sentir tudo, Michael. Eu senti o cheiro do café dela, eu senti meu coração batendo tão forte de tanta ansiedade e amor, eu senti o abraço dela de novo. Eu só não queria acordar, eu não queria acordar.

Crazy In Love IIOnde histórias criam vida. Descubra agora