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Pov Lucien

Dentro das paredes frias e sombrias da prisão, eu enfrentava uma batalha silenciosa contra os demônios da minha própria mente. Sentado no chão sujo, meus olhos fixos no vazio, comecei a proferir frases filosóficas que ecoavam pelas paredes escuras como um mantra enigmático.

_Quem sou eu? - murmurei novamente, minhas palavras se misturando ao sussurro do vento que penetrava pelas grades.

Cada vez que repetia essa pergunta, sentia como se estivesse arrancando camadas da minha própria identidade, em busca de algo perdido nas profundezas de minha alma atormentada.

Provavelmente os outros prisioneiros achavam que minhas palavras eram apenas mais um sinal de minha crescente loucura.

Acredito que era algo normal para eles, afinal, aqui todos são considerados loucos, certo?

Mas para mim, cada sílaba carregava um peso gigantesco, uma tentativa desesperada de encontrar sentido em um mundo que havia perdido todo significado.

Pois afinal, quem era Lucien Vanserra? Um príncipe gay que nasceu para ser torturado até o limite e depois jogado em uma cela imunda onde passaria o resto dos meus dias?

Não, nem ao menos isso eu poderia ser, pois eu não era um Vanserra.

Fantoche? Talvez esse devesse ser meu novo nome, combinava mais com a minha história: usado enquanto útil e descartado quando não lhes servia mais.

Sinto um gosto amargo em minha língua sempre que penso no adultério de minha mãe, sempre que percebo que fui rejeitado não por um, mas por dois pais.

Inútil. Esse deveria ser meu novo nome, aquele que não serve para nada; que se revela tão imprestável que é indigno de atenção e afeto.

_Você... Você é ele - murmurou o prisioneiro da cela à frente, com uma voz rouca e cheia de medo.

Franzi o cenho, meu coração acelerando com a estranheza da declaração.

_Quem sou eu?

A pergunta soou mais inocente e sincera do que eu pretendia, já havia cansado de tentar descobrir a resposta.

Quem eu era? Quem eu realmente era? Para minha infelicidade, o prisioneiro apenas me deu uma resposta delirante.

_O Feérico do Olho de Ouro.

respondeu o prisioneiro, sua voz tremendo.

_Eu vi... Eu vi seu olho. O olho de ouro. Você é ele.

Minha vontade de xingá-lo veio tão rápido quanto se foi. Respirei fundo, não podia julgá-lo; logo seria tão louco quanto ele, se continuasse aqui, senão pior.

_O que você quer dizer com 'o Feérico do Olho de Ouro'? - perguntei entediado, buscando algo para passar o tempo e fazer-me ignorar o quão miserável eu sou.

O prisioneiro soltou um suspiro pesado antes de começar a contar a lenda, suas palavras sussurradas eram a única coisa ouvida diante daquele silêncio mórbido da prisão, deixando a atmosfera ainda mais sinistra.

_Há muito tempo, diz a lenda, havia um Feérico misterioso com um olho de ouro. Ele percorria as terras, observando silenciosamente as ações dos mortais. Alguns diziam que ele tinha poderes além da compreensão humana, capaz de conceder desejos ou lançar maldições terríveis. Mas havia um preço a pagar por sua intervenção: uma alma, um juramento, algo de valor inestimável.

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