capítulo 75. Fragmentos Do Passado

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    Na cozinha, enquanto Robson colocava o lanche na chapa, eu entrei devagar, com os pensamentos ainda confusos

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Na cozinha, enquanto Robson colocava o lanche na chapa, eu entrei devagar, com os pensamentos ainda confusos.
Sentei-me à mesa, observando-o mexer nos ingredientes. O cheiro do queijo derretendo tomou conta da cozinha, mas, por dentro, eu estava longe, perdida nas revelações que Santiago tinha jogado sobre mim mais cedo.

- Está com fome? - Robson perguntou, sem me olhar. - Fiz o seu preferido.

Sorri levemente, mas era apenas uma fachada. A verdade é que a comida era a última coisa na minha mente agora. Eu estava tentando processar outras coisas, coisas muito mais difíceis de engolir.
Coloquei uma mão na barriga, sentindo um leve movimento de uma das meninas.
Ao menos elas me traziam um pouco de conforto.

Robson se virou, secando as mãos no pano de prato e me encarando. - Pedi para Samuel ver se encontra alguma informação sobre o Santiago.

- Não precisa mais - respondi com seriedade.

Ele caminhou até mim e perguntou: - Por quê?

- Eu me lembrei dele... Santiago frequentava a boate do Fernando, mais especificamente o bar, todos os sábados. - Respirei fundo. - Ele sempre pedia uma cerveja bem gelada, tipo trincando.

Robson fez uma expressão de preocupação. - E o que você descobriu?

- Ele disse que pode ser meu pai - respondi, tentando controlar a emoção na minha voz.

Robson ficou em silêncio por um momento, processando a informação. - Isso é muito complicado. Como você se sente em relação a tudo isso?

- Confusa e traída ao mesmo tempo - admiti, passando a mão na testa. - Minha mãe se chama Raquel. Ela me escondeu isso a vida toda. Eu não sei se posso confiar em Santiago, e se ele estiver falando a verdade, tudo muda.

Robson se aproximou, colocando uma mão reconfortante sobre a minha. - E o que você quer fazer?

- E eu quero fazer um teste de DNA para confirmar.

- Ótimo, vamos marcar para amanhã.

Ele pegou o celular e ligou para a clínica Santa Clara. Após confirmar os detalhes com a recepcionista, marcou o exame para sábado.

- Obrigada, Robson - respirei fundo e o abracei. - Olha, o arco-íris no quarto das meninas está lindo.

Ele sorriu, tentando mudar o tom para algo mais leve. - Que bom que gostou.

Fiquei grata pelo apoio dele e pela sua presença tranquilizadora. O calor da chapa e o cheiro do lanche eram reconfortantes, uma pequena distração da tempestade que se passava na minha mente.

Depois de um momento de calma, ele me serviu o lanche que havia preparado.
Sentamos juntos à mesa; a comida era simples, mas o gesto dele tornava tudo mais significativo. Ele tentou manter uma conversa leve, falando sobre planos para o futuro e pequenas coisas do dia a dia, tentando distrair-me das preocupações.

- Você conversou com a Agatha esses dias? - perguntei suavemente.

- Sim, ela está muito animada; quer ser neurocirurgiã - respondeu ele, com um tom de orgulho na voz. - O único problema é a distância. Pode ter a idade que tiver, ela sempre será minha menina.

- A gente cria nossos filhos para o mundo, Robson. Fazer o quê.

- Você tem pensado em como vai organizar o quarto das meninas? - perguntou ele, tentando desviar a conversa para algo mais positivo.

- Sim, estou planejando algo aconchegante e alegre. Acho que vou começar a escolher os móveis e as decorações nos próximos dias.

Robson sorriu, parecendo aliviado por mudar de assunto. - Isso é ótimo. Organizar o quarto pode ser uma boa distração e um jeito de se concentrar em algo positivo.

- Amanhã você vai estar de folga, poderíamos ir juntos assim que saímos da clínica. - Olhei para ele e perguntei. - Vai para a boate hoje?

- Tenho quer ir, faz alguns dias que não vou. Samuel é meio doido da cabeça - ele ri.

- Acho interessante a relação entre Samuel e Laura - levantei-me para pegar água. - É tipo "não te quero, mas também não te largo". É engraçado.

- Eles são completamente complicados.

Enquanto conversávamos sobre os planos para o quarto das meninas e outros assuntos, o ambiente ao redor parecia menos carregado. A comida simples que Robson havia preparado era um consolo inesperado, e as pequenas distrações da conversa ajudavam a desviar um pouco a mente dos problemas que ainda precisavam ser resolvidos.

Assim que Robson saiu, o silêncio da cozinha me envolveu como uma capa pesada. Peguei meu celular e liguei para Santiago, a ansiedade apertava meu peito.
O telefone tocou, e a cada toque, o aperto no meu peito aumentava. Minhas mãos estavam suadas, e o ar parecia mais denso ao meu redor.

- Alô? - a voz de Santiago finalmente ecoou do outro lado, carregada de preocupação.

Respirei fundo antes de responder. - Santiago, sou eu... Cristina - minha voz saiu trêmula, apesar de eu tentar soar firme. - Eu decidi fazer o teste de DNA. Robson agendou para este sábado.

Do outro lado da linha, o silêncio se prolongou. A ausência de resposta parecia um peso que caía sobre mim. Eu conseguia quase sentir o impacto da notícia em Santiago.

- Entendo... - sua voz finalmente quebrou o silêncio, carregada de emoção. - Cristina, e depois?

Um nó se formou na minha garganta. Era estranho como a voz de alguém que eu mal conhecia, mas que tinha um papel tão grande no meu passado, podia trazer tanto conforto em meio ao caos.

- Vamos esperar o resultado, e então conversamos - consegui dizer, minha voz quase falhando ao final. - Isso... isso significa muito para mim. Eu só precisava que você soubesse. O teste será às 10h.

Houve uma pausa breve, como se ele estivesse processando minhas palavras.

- Tudo bem - respondeu, com a voz mais baixa. - Obrigado por me avisar.

- Até lá, Santiago - finalizei, sem saber o que mais dizer.

Desliguei o telefone e me permiti respirar fundo, sentindo o peso das palavras que acabei de trocar com ele. Era estranho como a expectativa de respostas podia ser ao mesmo tempo assustadora e libertadora.
Uma sensação de desamparo tomou conta de mim, misturada com um alívio sutil por ter dado um passo em direção à verdade. Fechei os olhos, tentando controlar a enxurrada de emoções que ameaçavam me submergir.
Voltei ao quarto das meninas, onde o silêncio acolhedor contrastava com o tumulto na minha mente. Enquanto olhava para os espaços vazios que eu planejava preencher, a ideia de criar um ambiente feliz e acolhedor para elas parecia um pequeno farol de esperança. Cada escolha de móvel e decoração se tornou um ato de determinação e carinho, um lembrete de que, apesar das incertezas, havia algo que eu podia controlar.

Quando Robson voltou, o tom da conversa tentou suavizar a carga emocional do dia. Mas cada palavra, cada risada compartilhada, era um lembrete de que o futuro estava repleto de incertezas e esperanças entrelaçadas. O calor da comida simples que ele havia preparado e a promessa de um futuro juntos eram âncoras em meio ao mar revolto de dúvidas e ansiedades que me acompanhavam.
A noite avançava, e a expectativa pelo teste de DNA misturava-se com o desejo de ter respostas rápidas, enquanto eu me agarrava ao apoio de Robson e ao planejamento para o quarto das meninas, tentando encontrar uma paz temporária no meio do caos.

Amor e Desejos {🖤Dark Romance🖤}Onde histórias criam vida. Descubra agora