52: Sobrevivente

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   Bella

      


 


         Ele estava vivo mas como?
         Olhei mais do que surpresa, espantada olhei o rosto de Matthew Stanley, não pode ser... ele estava diferente, um garoto havia si perdido naquela musculatura grandiosa revestida de músculos, mas era ele, não havia sombra de dúvidas quanto a isso mas como ele havia renascido dos mortos, essa era a questão... surpresa demais fitei aos dois visitantes inesperados, temerosa, aflita com as reações mais diversas de antagonismo a Mikael... ele olhava Matt ao lado de Adam, seu olhar gélido atravessava o salão mirando Matt inexpressivamente, ambos se encarando... Mikael com menos intensidade do que Matt, não parecia surpreso mas eu não podia ter certeza havia algo a mais que ele não deixava passar, algo além daquela passividade e indiferença, Mikael não estava totalmente alheio embora não deixasse transparecer... os dois se odiavam era evidente, para quem quisesse ver... agiam como rivais, coisa de adolescentes, parecia que isso nunca iria mudar, me lembro de testemunhar um confronto dos dois na escola, parecia que eu estava voltando no tempo.
-Estava com saudades Matt?. Perguntou Mikael provocador.
-Nem imagina o quanto. Revidou Matt de braços cruzados.
-Não vai vir aqui cumprimentar um velho amigo?. Perguntou Mikael, um sorriso superficial surgiu em seus lábios mas o rosto imortal era frio como o gelo, Matt o olhou com desprezo.
-Se eu for até aí... tenha a certeza de que não vai ser para saudar sua visita. Proferiu Matt em tom de ameaça, Mikael riu e parou no mesmo instante, vi o desejo perverso se instalar em seu olhar, incentivado pela ameaça de Matt.
-Adoraria ver isso. Disse Mikael, os olhos excitados... eu vi o rosto de Matt endurecer e decidi dar um basta nisso antes que eles resolvessem resolver suas diferenças ali mesmo ou agrava-las ainda mais.
-Já chega! Parem com isso os dois agora!... não quero brigas nesta casa. Falei firmemente olhando de um para o outro, eles continuaram a se encarar.
-Ninguém veio aqui para brigar senhora, isso não vai acontecer... não aqui, não agora. Disse Matt, eu o fitei incrédula ouvindo o riso doentio de Mikael preencher o silêncio mortal e agressivo que se abateu sobre a mesa.
-Sempre tão reto Stanley, comovente... pensei que estava ansioso por reviver os velhos tempos.
-Mika por favor não o provoque. Pedi, um expressão surpresa cortou a fachada livida de Mikael ao meio talvez por eu ter escolhido chama-lo pelo seu apelido... por um segundo apenas ele se mostrou humano mas passou tão rápido, ele olhou o chão talvez para se recuperar e o vazio cobriu suas feições.
-Imagino que tenha uma boa explicação Mikael, todos pensamos que não fosse mais voltar... me pergunto o que o motivou a fazê-lo. Disse Adam seriamente, eu me sentei... ele retirou a mão debaixo da minha e a cobriu ternamente envolvendo minha mão.
-Eu voltaria mais cedo ou mais tarde... só precisava de um tempo para me colocar em ordem, refletir. Disse Mikael erguendo os olhos azuis de gelo para meu marido que o encarava com um olhar hostil.
-Deveria ter ficado e aceitado a ajuda se achava que estava fugindo do controle Mikael. Repreendeu Adam impassível, todos ouviam em silêncio... minha mãe ainda estava em choque, desnorteada, meu pai a consolava gentilmente passando a mão em suas costas... os olhares acusadores em cima de Mikael, todos na mesa até Arthur e Rosemary pareciam ter suas reservas, olhei o rosto perdido de Charlie... como ele deveria estar se sentindo no mesmo ambiente que o causador de seu atual estado? No mesmo recinto com a pessoa que o condenou a ser o que é, uma criatura amaldiçoada, no entanto raiva e ódio não eram sentimentos que meu irmão mais novo guardasse dentro de si, ele era puro e bom.
-Foi prepotência minha achar que naquele momento eu não fosse capaz de sucumbir, que não estava sujeito a cair tão baixo... eu tinha que resolver isso sozinho, sempre fui capaz de resolver meus próprios problemas sozinho... fui orgulhoso e prepotente ao achar isso, a falha foi minha, o erro é só meu e terei de conviver com isso para sempre, mas lamento profundamente ter causado mal ao garoto. Disse Mikael, um ruído de aversão escapou dos lábios de Jack a meu lado, observei as palavras de Mikael... ele parecia sincero ao reconhecer seus erros mas seu rosto não revelava nada.
-Você lamenta?. Perguntou meu pai, a raiva transparência mas só por fora por dentro ele estava desolado como vi em seus olhos... os olhos eram os portões que guardam a alma... ele não parecia acreditar no que ouvia, Mikael assentiu.
-Sei que não é justificável mas o senhor não sabe como é quando algum de nós perde a cabeça. Disse Mikael, minha mãe se levantou apressadamente.
-Com licença... eu não me sinto bem. Disse ela saindo sem olhar para ninguém pela porta de acesso... ela não passaria perto de Mikael, mal conseguiu olha-lo.
-Mãe...?
-Eu cuido dela querida. Disse Richard, meu pai levantou e saiu atrás da minha mãe tão apressado que quase correu, Maria também se levantou e saiu com Tita logo em seguida.
-Então porque voltou só agora? Porque fugiu antes? Teve vergonha do que fez? Não me faça rir. Disse Rô com desdém.
-Também estou curioso com o que tem a dizer rapaz. Disse Nicolay fazendo eco a aversão de Rosemary.
-Foi horrendo o que fez, uma desonra maior de sua parte ter fugido daquela forma e agora ter a coragem de dar as caras por aqui garoto... sua audácia me impressiona. Comentou Ivan friamente.
-Decepcionante Mikael, uma atitude vil imperdoável que por muito pouco não resultou na perda de uma vida humana inocente... Charlie não morreu Mikael mas você o trouxe para as sombras conosco o que é muito pior do que a própria morte. Disse Ian enojado, eu estremeci com o que ele disse... perda... realmente se Charlie não tivesse sobrevivido minha tristeza seria ainda maior unida a perda de Alfred... somente Arthur continuou em silêncio enquanto os outros expressavam seu desprezo e acusações de maneira dura sem perdão. Adam convidou a todos a ouvirem.
-Meus irmãos... permitam que Mikael fale, imagino que depois de tanto tempo em silêncio ele deve ter algo a dizer. Pediu Adam, Mikael fitou o rosto de cada um dos presentes que restaram... Adam, Rosemary, Nicolay, Arthur, Ivan, Ian, Charlie, Jack, Matt e eu.
-Que alma errante não desejaria regressar para aos seus quando a solidão é demasiada, insuportável? Eu precisava de um tempo longe e sim me senti especialmente envergonhado pelo mal que fiz... foi um choque para mim também, não é da minha natureza cometer erros. Explicou ele olhando para cada rosto.
-Eu não acredito em você, não confio em você. Disse Matt, não me lembrava dele ser tão duro quase frio.
-Pouco me importa sua opinião garoto. Ralhou Mikael, os dois mal se moviam de tão tensos.
-Acho que posso listar algumas coisas que importam... os débitos que tem.
-Sim eu sei que tenho uma dívida com você mas pedir desculpas não vai adiantar, ou vai?.
-Tem razão não vai. Disse Matt sem se desviar um segundo se quer de Mikael até Adam tomar para si a palavra.
-O que pretende fazer agora Mikael?. Perguntou Adam sem rodeios.
-Pedir aos seis uma audiência para tratar de minha reintegração e demais assuntos relativos aos prejudicados com meu deslize lamentável... passei tempo o suficiente em reflexão, reconheço meus erros e estou aqui para responder por cada um deles. Disse Mikael, eu me levantei disposta a me retirar... essa conversa não me dizia respeito e eu não queria mesmo ouvir embora esteja preocupada com o destino de Mikael a ser discutido a mesa, perdi o apetite foram emoções de mais para o início de uma manhã que já não havia começado bem.
-Vamos deixá-los a sós para que conversem. Falei a Adam tocando seu ombro, ele assentiu sem me olhar.
-Vamos Charlie, Jack e Matt, me acompanhem por favor. Disse, Charlie se levantou e pegou minha mão, eu puxei o braço de Matt e ele cedeu, Jack lançou um olhar frio para Mikael antes de seguir conosco, entramos pela porta de acesso a cozinha, descemos as escadas.
-Eu ainda não posso acreditar que aquele cara teve a corajem de dar as caras por aqui depois do que fez!. Explodiu Jack aos berros na cozinha, minha mãe chorava baixinho abraçada a meu pai no deque do lado de fora, Maria e Pierre conversavam em um canto da cozinha para se distrair, mas o olhar dela era duro como pedra... Tita não estava mais ali, deve ter voltado para o trabalho no café.
-Tenha respeito e mais consideração Jack, você não está na pele dele para saber como foi... como deve ter sido difícil para ele esses últimos anos, se coloque no lugar dele. Falei enquanto ouvia as injúrias dirigidas a Mikael vindas de Jack, seu vocabulário depreciativo não era uma coisa agradável de se ouvir, eu tentei tranquiliza-lo... Jack se virou para mim o rosto avermelhado e os olhos em brasa.
-Depois de tudo o que aquele cara fez... acha que ele merece o nosso respeito e compaixão?
-E se fosse seu irmão que estivesse sendo apontado como Judas o traidor? Você atiraria pedras nele? Um pouco de humildade e humanidade Jack... não sabemos como foram as coisas se ele veio até nós temos de ouvi-lo. Falei, ele me olhou ainda mais irritado e saiu pela porta dos fundos... me virei para Charlie, ele não parecia guardar nenhum sentimento ruim, ele nunca ia mudar nesse ponto.
-Como você está?
-Bem... não sinto raiva. Disse ele dando de ombros, eu sorri e toquei seu rosto.
-Sei que não... não dê ouvidos ao que Jack diz é a maneira como ele demonstra que se preocupa... brigando... vai ficar tudo bem.
-Eu vou ver como a mamãe e o papai estão e vou falar com o nosso esquentadinho. Ofereceu ele, eu assenti e o beijei no rosto, ele saiu atrás dos nossos pais e de Jack e eu me virei para Matt, ele olhava a janela sem ver com um olhar sombrio.
-Então Charlie foi seu amigo na Ilha?. Percebi por intuição, alguma coisa me dizia que era sobre Matt que Charlie me contara... ele assentiu virando-se para me olhar, levei a mão ao coração... Ah Matt, você também...
-Rosemary me ajudou a sair da cidade. Disse ele, então foi por esse motivo que Rô tinha viajado tão repentinamente após a suposta morte de Matt a quase três anos... agora eu entendo, claro... sua ausência durante semanas, ela foi cuidar de Matt.
-Não posso acreditar que você está vivo Matt. Falei, minha surpresa e inquietação transparentes em minha voz... me aproximei mais dele para tocar seu braço ainda com espanto, ele riu sem alegria e eu puxei uma das oito cadeiras altas metalizadas da bancada comprida no meio da cozinha com o tampo estofado preto, o convidei a se sentar também.
-E eu não posso acreditar que você é uma senhora casada e grávida... depois das historias que ouvi ao seu respeito e do senhor Lichtenfels, e que Charlie disse que conhecia a bela donzela redentora de inigualável beleza, eu estava ansioso para conhecê-la, mas não pensava que fosse você a irmã dele e a heroína do conto.
-Mas como foi que tudo aconteceu? Quando você descobriu o que era, o que aconteceria depois?. Perguntei extasiada que ele estivesse vivo e ignorando completamente a parte que me toca... eu não me via como a heroína da história, na verdade eu diria que eu sou a única responsável por tanta desgraça, por minha causa um Reino foi levado ao caos mas não quero pensar sobre isso, não mais... Matt suspirou com tranquilidade fechando os olhos por um momento e depois quando os abriu e olhou para mim, pareciam quase vazios, cansados de certo modo como vi em Charlie, a mesma exaustão... tantos foram os sacrifícios para estarem aqui, devia ser um fardo impossivelmente pesado de se carregar... nesse momento Branca nos interrompeu.
-Com licença senhora esqueci-me de avisar que chefe Pierre teve que sair por um momento mas não vai demorar. Disse Branca segurando um vaso de cristal com um enorme arranjo de rosas vermelhas de caule comprido quando me dei conta de que Pierre e Maria não estavam mais na cozinha... devem ter saído enquanto discutia com Jack e meus pais se despediram com um aceno apenas a distância depois de falarem com Charlie, tristes demais para uma despedida costumeira, eles foram embora.
-Senhora onde devo colocar essas flores?. Perguntou Branca, eu assenti pensando... aquela casa era tão grande, administra-la sozinha me parecia uma tarefa que exigia mais esforço do que uma casa comum, pelo amor de Deus aquilo era uma mansão, não havia maneira de cuidar de tudo sozinha... sem Alfred eu estava no escuro, não sei como sobrevivemos essas semanas sem ele e sua supervisão afiada, talvez por um milagre, mas isso viraria um caos em breve se providências não fossem tomadas, a menos que...
-Alfred faz mesmo muita falta por aqui, não faço ideia de como cuidar disso tudo sozinha Branca... preciso de sua ajuda.
-Conte comigo senhora... sempre. Disse Branca sempre muito gentil, solícita, eu peguei o vaso de rosas de suas mãos e o coloquei na bancada de mármore, olhando o movimento na cozinha enquanto bandejas e mas bandejas de comida e louças do café da minha desciam para a cozinha... estavam retirando a mesa, olhei o relógio na parede... 8h45min... como estão às coisas lá em cima?
-Eu saberia cuidar de uma casa normal sozinha mas de uma mansão... eu estou perdida, com tudo que tem acontecido conosco não tive tempo para pensar em contratar um novo mordomo mas pensando bem eu tive uma ideia melhor, Branca o que acha da ideia de você ser minha assistente?... esteve mais tempo com Alfred do que eu e com certeza sabe bem mais... preciso que me faça um levantamento de todos as tarefas da casa, não quero mudar nada mas fale com os outros funcionários por favor, eles estão sob suas ordens... Gostaria de ser governanta da casa? Acha que dá conta?. Perguntei, ela sorriu e assentiu polida... não pude deixar de soltar um suspiro de alívio.
-Perfeitamente madame.
-Mais tarde a levarei até madame Lenine para tirar as medidas do uniforme do seu novo cargo... por enquanto faça o que lhe pedi mais tarde veremos as roupas, qualquer dúvida que tenha e o que precisar fale comigo... está bem?. Perguntei, ela assentiu mais uma vez com seu rosto sorridente.
-Sim senhora.
-Vamos nos dar muito bem querida não se preocupe... pode ir. Falei tocando seu rosto brevemente, ela corou e sussurrou um "com licença" e saiu, eu me virei para Matt, tive a necessidade de explicar...
-Nosso mordomo Alfred faleceu recentemente... as coisas tem sido difíceis por aqui desde que ele se foi.
-E como aconteceu?. Perguntou ele pousando a mão sobre a minha amigavelmente enquanto lembranças repercutiam por minha mente.
-Colocaram veneno na bebida.
-Lamento. Disse, olhei em seus olhos com tristeza.
-Era para mim... a bebida era para mim. Sussurrei, seus olhos se arregalaram um pouco.
-O quê...
-Era para eu estar morta agora... não sabemos ainda quem foi, estão investigando.
-Porque alguém faria uma coisa dessas com você?. Perguntou ele em choque, eu apenas balancei a cabeça, não queria mais falar disso, ele notou isso enquanto eu remexia nas flores e sorriu.
-Eu jamais pensaria que um dia pudesse ver isso mas estou vendo... dona de casa.
-Você não poderia saber disso... mal passou uma semana comigo na escola.
-Eu sei mas você tem que admitir que não tinha bem o estilo de esposa, dona casa, mulher zeladora do lar essas coisas... você era gótica é difícil de imaginar. Disse ele, eu dei um empurrãozinho em seu ombro, ver Matt novamente me fez lembrar dos tempos de escola... não que eu tivesse muitas lembranças boas daqueles tempos, algumas eram principalmente amargas como quando a notícia do meu noivado com o multimilionário solteiro mais cobiçado vazou... minha vida não foi tão fácil no Colégio depois disso, eu era a primeira adolescente casada da escola se brincar da história, não foi um noivado natural eu admito mas eu estava apaixonada e Adam sempre foi tudo o que eu sempre quis, o que mais desejo... de qualquer modo, as fofocas e acusações foram ofensivas mas não ao ponto de que isso fosse interferir na minha decisão de me casar com ele, com o tempo as pessoas se acostumaram e respeitaram minha decisão, além dessas lembranças houveram outras ainda mais desagradáveis, destrutivas... as torturas que vivera, tudo parecia tão distante agora, um sonho deturpado pelo tempo.
-Para que você saiba estou casada há dois anos e três meses e exerço muito bem meu papel de esposa e além disso é preconceito pensar que sendo gótica não poderia ser dona de casa... e eu não visto preto a muito tempo.
-Eu queria ter visto isso... vê-la de noiva toda de branco, deve ter ficado ainda mais bela. Disse ele, eu pisquei e depois corei com o elogio e dei de ombros mudando de assunto.
-Vai me contar sobre como foi na Ilha ou esta se fazendo de difícil? Quero saber o que realmente aconteceu. Disse, ele sorriu um pouco e assentiu com uma expressão quase martirizada, eu toquei sua mão encorajando-o... ver Mika e Matt em um espaço de tempo tão curto, era muito para assimilar... naquela época Mikael não estava bem não poderíamos culpa-lo por ter perdido o controle e atacado meu irmão, não poderíamos culpa-lo pelo que aconteceu embora todos o tenham condenado, ele quer voltar, quer ter uma segunda chance... em vista da atmosfera negativa lá em cima, ele teria outra chance? E Matt... se ele está aqui e esteve na Ilha com meu irmão é porque sobreviveu a um ataque lobisomem... um sobrevivente como Charlie e tantos outros.
-Eu vou contar como foi que aconteceu... como renasci dos mortos... foi confuso no começo... eu só sentia dor e frio, cheguei a pensar que estava morto ou quase lá, não entendia o que estava acontecendo, me sentia apavorado, aterrorizado... o medo que eu me perdesse nas sombras me parecia a única coisa real...

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