84: Possessão

7 2 0
                                    

Bella










     Na casa dos meu pais, Maria me recebeu com um abraço longo e carinhoso, quente e reconfortante como eu precisava, ela nos serviu limonada e o almoço na varanda dos fundos, Tita também apareceu para uma visita, a senhora Watson deu o dia de folga para todos os funcionários do café por ser seu aniversário, aproveitei essa oportunidade que às duas estavam juntas para lhes contar a verdade, após o suicídio de Ruth muitas lacunas ficaram no que elas podiam saber dessa história como Adam me pediu sigilo, e eu sinceramente estava farta de meias verdades, de omissões, evasivas frustrantes.
-E então vai contar ou não?. Perguntou Tita impaciente.
-Tenha paciência, eu vou contar... depois do almoço. Sorri e ela fechou a cara para mim porém resignada, Maria nos serviu apesar de estar tão ansiosa quanto Tita, os seguranças tinham mudado de novo, os outros tinham ido almoçar, Derek se sentou relutantemente conosco a mesa para a refeição com a insistência infalível de Maria que o olhava de um jeito... me perguntava o que ela estaria pensando dele, ele voltou a seu posto no canto da varanda depois observador como sempre, agradecendo a refeição a Maria educadamente, ela pareceu gostar dele.
           Maria, Tita e eu ainda estávamos sentadas a mesa, contei a elas sobre minhas suspeitas e as observações de Derek, elas ouviram tudo com paciência, Maria e o semblante grave de feições ficava cada vez mais sério a medida que relatava os acontecimentos, não deixei nada de fora, às mortes, a mensagem no espelho... eu quebrei o sigilo que Adam havia imposto e me sentia incrivelmente aliviada com isso mas Maria não estava muito satisfeita com isso, Tita ficou perplexa porém preferiu guardar silêncio observando a reação de Maria como eu, a expressão dela não era das melhores... ela ficou irritada, furiosa.
-Porque não me disseram nada antes? Era por isso que estava me evitando?. Estreitou ela os olhos na minha direção, eu avisei a Adam que Maria ficaria chateada por ficar no escuro com os outros.
-Desculpe. Sussurrei em vão, ela estava a ponta de explodir.
-Bella! Bolas de cristais são difíceis de achar hoje em dia! Como eu saberia se alguma coisa acontecesse a você?! Você tem que me contar se não como vamos poder ajudar?! Clarie vai enfartar quando souber disso. Disse ela, eu suspirei... levar sermão depois de adulta era difícil, ela veio até mim e olhou atentamente em meus olhos do jeito que só Maria sabe fazer e abaixou o olhar para meu pescoço ficando livida... o colar, eu não estava usando o colar, desde a morte de Alfred, eu nunca mais o coloquei.
-Onde está o colar mocinha?. Perguntou ela como se eu fosse uma criança insolente, eu me encolhi na cadeira pedindo apoio a Tita com os olhos, ela só balançou a cabeça em pânico me deixando nessa sozinha... mas a culpa era minha óbvio, eu procurei por isso agora tinha de arcar com todas as amplas consequências.
-Está guardado... eu sei Maria mas Adam não...
-O que ele pensa que eu sou advinha? Que só porque você está casada com ele agora eu não preciso me preocupar? Ele é a resolução de todos os nossos problemas? Ele não sabe absolutamente nada! Não tem noção alguma de com o que está lidando, o que ele queria? Resolver tudo sozinho com seu cavalo mágico tentando sair vitorioso com seu ato de heroísmo como da última vez?. Perguntou ela, eu suspirei depois de um tempo relaxando, eu sabia que ela iria encontrar um meio de culpa-lo no final dos das contas, não existiam argumentos ao meu favor que pudessem fazê-la desistir de acusar meu marido, não havia santo que pudesse fazer isso... coloquei meus pés em cima da cadeira enquanto ela desabafava.
-Já terminou?. Perguntei, ela me encarou ultrajada.
-Por enquanto.
-Será que podemos ir direto ao assunto que realmente interessa?. Perguntei, ela concordou mais calma, respirou fundo e se sentou a mesa.
-Possessão.
-Sim. Disse, Tita se inclinou mais para frente para ouvir com atenção, eu apenas cruzei as mãos sobre a barriga, o bebê se mexia agitado.
-Você acha que a menina Ruth foi vítima de possessão e acha que Dark esta por trás disso?
-Não tem outra explicação... quem mais teria poder para isso e que me odeia?
-É uma possibilidade mas eu precisaria verificar em pessoa. Disse ela, o que ela queria dizer com isso? Ir ao túmulo de Ruth? Será que teríamos que desenterra-la? Ah não, essa não.
-Porque?
-Existem formas diferentes de possessão e além disso eu conheço a essência da magia de Dark porque convivi com ela... fui sua ama, assim eu poderia saber se foi ou não ela que está por trás disso. Disse ela, eu assenti... não havia muita coisa que eu pudesse saber sobre possessão além do que todos já sabíamos... uma entidade de poder maligno poderia possuir objetos inanimados ou até mesmo pessoas por almejar ter vida, viver no plano em que vivemos.
-E quais são as formas de possessão?
-Existem três modos diferentes de possessão... primeiro um espírito desencarnado se apossa do corpo de um mortal como um parasita mas isso requer muita energia e nem sempre a possessão dá certo... segundo por um agente da magia negra especialista em necromacia, a arte de domínio dos corpos nesse caso o dominador possui sua vítima com magia negra ou terceira por um demônio o que é bem pior... os imortais não podem ser possuídos, sua energia espiritual é muito forte, a alma esta praticamente soldada ao corpo físico sem chance dar espaço para esse tipo de invasão, somente os mortais que são maleáveis podem ser possuídos, seus corpos são como uma "concha" e seu conteúdo é a alma sem ela o corpo é apenas uma concha vazia, manipulável, onde qualquer hospedeiro pode entrar... os mortos são mais complicados de possuir um humano, forçar outro espírito a sair da concha que lhe pertence, ceder um espaço para eles... por mais debilitado espiritualmente que esteja é quase impossível a menos que o fantasma tenha motivos fortes e fortes emoções... como a raiva o ódio, nem todos sabem que são capazes de possuir e mesmo que tentem ainda sim é muito difícil, já um agente da magia negra, domina métodos eficientes de aplicar a possessão a força se for preciso e o mortal quase nunca ignora esse tipo de "chamado" se ele estiver fraco espiritual e emocionalmente é tão fácil que é como atrair uma criança com uma árvore de guloseimas irresistíveis... admito que possuo um conhecimento limitado sobre o assunto, vejo que se faz necessário convocar uma assembleia com Karoline e Emily... Emily pode nos dar uma aula sobre isso melhor do que eu. Disse Maria, percebi que Derek a olhava.
-Maria é uma bruxa... entende dessas coisas. Expliquei a ele, ela sorriu para ele, Derek assentiu como sempre voltando a fitar o jardim... a floresta margeando a casa. Tita tinha se levantado a pouco para preparar um chá e retornou rapidamente com a chaleira e às xícaras em uma bandeja.
-E quem é o garoto?. Perguntou Maria olhando para Derek por cima da xícara de chá.
-Ele não é um garoto.
-Para mim qualquer um que seja dez anos mais novo do que eu é um garoto. Disse ela, Tita e eu rimos.
-É meu guarda-costas... uma exigência de Leon como se Adam não fosse apoiar qualquer coisa que ele propusesse que tivesse a ver com a minha segurança... ultimamente ele vem levando isso aos extremos, depois dos atentados... só posso dizer que eu tenho dó dos coitadinhos que tem que ficar plantados debaixo desse sol. Disse, Maria gargalhou rindo da minha desgraça.
-E você deixa ele fazer o que quer para que ele se sinta melhor. Disse Maria, eu concordei com a afirmação era o que eu estava acostumada a fazer... deixá-lo feliz, eu não tinha problemas com isso, o casamento era uma parceria onde podíamos sempre reavaliar e negociar novos termos para que haja harmonia.
-O que posso fazer? Eu faria qualquer coisa por aquele homem. Disse e dei de ombros, ela riu ainda mais.
-Ouvir uma dessas me faz feliz por saber que não estou casada... sou uma mulher de sorte.
-Ou talvez não tenha encontrado o príncipe encantado. Riu Tita entusiasmo, contente pela conversa ter saído um pouco do âmbito sobrenatural, ela não tinha muita paciência com essas coisas.
-Essa história de príncipes já esta me cansando... por Deus estamos em que século?!
-Não é tão diferente de antigamente... se uma mulher encontra um cara que seja quase perfeito hoje, ela também vai pensar que ele é um príncipe porque está apaixonada demais para enxerga-lo de outro modo. Disse Tita a expert em relacionamentos, eu às ouvia discutir em silêncio deleitando-me com a companhia.
-Esse é papinho de adolescente... o amor acaba exceto...
-Exceto os eternos. Intercedi piscando para às duas, Tita segurou minha mão sobre a mesa feliz por me ver feliz.
-Eu ainda não posso acreditar que você realmente está casada e grávida.
-É como a vida é... nos apaixonamos, casamos e temos filhos.
-Eu pulei essas etapas, graças a Deus. Disse Maria erguendo as mãos ao céu, eu ri e provoquei.
-Ou talvez a senhora ainda está na primeira... Pierre me parece um cavalheiro muito gentil. Aprovei pisando no calo dela bebericando o chá.
-Eu não tenho mais idade para ser mãe... criei e cuidei de Amelie, Clarie, Jack, Charlie, Tita às vezes e você tive muitos filhos não acha?.
-Que tropa de elite... bom embora não tenha mais idade para ter filhos... pode aproveitar a parte boa de fazer filhos. Disse Tita abaixando os olhos para a xícara esperando sua reação, eu olhei Derek constrangida... ele tinha saído do seu posto na varanda para conversar algo com August e Marcus.
-Vocês jovens são muito parecidos como coelhos. Disse Maria, vi um leve rubor em seu rosto, Tita riu... era estranho como eu não sentia mais esse tipo de constrangimento bobo... mas Tita estava atrevida hoje.
-Eu não posso ter mil filhos por ano... mas posso tentar como você também pode.
-Rita!. Repreendeu Maria, irritada.
-Está bem, eu calo a minha boca... que culpa eu tenho se sou romântica?
-Isso que você está dizendo não tem nada a ver com romantismo. Rebateu Maria, Tita riu...
-Claro que tem se duas pessoas se amam elas podem...
-Você não vai mesmo terminar essa frase, vai?. Perguntou Maria encarando Tita, eu ri das duas e olhei Derek... ele tinha voltado a varanda e continuava na mesma sem dar uma palavra, impossivelmente discreto... eu me virei para segurar a mão de Maria.
-O que Tita na verdade quer dizer Maria é que é mais que natural você ter esse tipo de relacionamento com quem quiser... você já nos criou e muito bem a considero a melhor pessoa do mundo a mais bonita e eu a amo, gosto muito de você exceto quando me obrigava a descascar um quilo de batatas no dia de ação de graças. Brinquei, ela sorriu... continuei.
-Quero que fique bem, que seja feliz... não existe melhor coisa do que amar e ser amada... não quero que passe o resto da eternidade sozinha por nossa causa ou talvez esteja na esperança de cuidar de nossos filhos também, dos meus filhos cuido eu, agora está na hora de pensar em você mesma. Falei, ela assentiu pensativa.
-Eu apoio, pense bem Maria. Concordou Tita colocando a mão sobre às nossas, eu me lembrei de nosso assunto principal para que estivéssemos reunidas ali e fitei Maria.
-Bom e o que pretende fazer para descobrir como Ruth foi possuída?
-Se ela já foi enterrada a única forma de conseguir essa informação é a meia noite no cemitério. Disse ela, eu pisquei... Tita se remexeu na cadeira, o cemitério não lhe trazia boas lembranças, ela evitava ao máximo ter que ir até lá, eu apertei sua mão.
-Porque essa hora? Porque não agora?
-A meia noite é a hora mais propicia para falar com os mortos querida. Respondeu Maria, eu assenti pensando no que diria a Adam, é óbvio que ele não iria querer que eu fosse com Maria visitar o cemitério durante a noite, nós vamos brigar e eu não vejo como evitar isso.
-Ótimo eu venho...
-Não... você não vem comigo Bella vai para casa e amanhã vou visitá-la quero ter uma conversinha com seu marido pessoalmente. Disse ela e pelo tom de sua voz, Adam escutaria poucas e boas.
-Vai brigar com ele?
-Não, só quero deixar bem claro que dá próxima vez que ele resolver me deixar fora de algo que envolva você especificamente... ele vai estar muito encrecado e eu tenho que comunicar isso a Imperatriz.
-Como você faz para se comunicar com ela?. Perguntou Tita, eu engoli em seco ao imaginar o que Clarie diria... eu não escolhi não usar o colar de propósito, eu só tinha me esquecido completamente dele.
-Fantasmas são ótimos informantes se bem recompensados... eles tem mais facilidade de passar pelos portais entre os mundos.
-Porque não faz isso você mesma?. Perguntei, os sete portais do mundo mágico protegidos por seus guardiões, os Sete, os anciãos da Luz... além deles haviam obstáculos a ser vencidos em cada portal para se conseguir entrar, criaturas ou às vezes labirintos contendo perigos inimagináveis.
-Eu levaria dias para chegar ao portal mais próximo... eles costumam ficar em lugares inacessíveis de difícil acesso aos humanos.
-São quantos portais?. Perguntou Tita, eu teria respondido isso mais Maria foi mais rápida, ela sorriu para mim com gentileza.
-Sete portais, sete dimensões, sete anciãos da magia cada um responsável por seu setor... são como sentinelas, guardando e protejando às entrada dos portais... quando a situação fica crítica eles selam às passagens.
-E onde está o mais próximo?. Perguntou Tita, Maria se levantou pegando às xícaras.
-Grand Canyon, Arizona... agora você vai para casa. Disse ela a mim, mas porque?
-Mas Maria...
-Não pense que eu me esqueci daquela vez em que você saiu escondido com Tita e passou a noite no cemitério. Disse ela olhando nós duas, Tita começou a assoviar figindo que não era com ela.
-Como sabe disso?
-Porque eu passei a ser mais precavida quando vocês começaram a andar... não podia deixa-la completamente solta. Disse Maria olhando para mim.
-Isso é espionagem.
-Tanto faz... o que eu não deveria ter feito era ter confiado demais no seu marido, eu devia ser avisada.
-Não entendo porque vocês me protegem tanto.
-O mal está em toda parte querida e você é importante... já deveria saber disso, lembre-se do que Clarie lhe disse. Disse ela olhando fixamente em meus olhos com ternura, eu me levantei sorrindo e a beijei esquecendo o quanto o dia tinha sido doloroso e desgastante, eu precisava disso para continuar... ainda tinha muitas coisas pelas quais valia a pena lutar.
-Tudo bem mamãe coruja eu vou fazer o que está pedindo... amo você. Disse, ela me abraçou embaraçada e nos acompanhou até a porta, Tita iria ficar um pouco mais e se despediu de mim ali mesmo.

A Presença Onde histórias criam vida. Descubra agora