9: Erick

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    Erick

     Martin e eu estávamos prendendo as caixas que não couberam em um contêiner a cordas para que não se movessem de lugar durante a tempestade que vinha as nossas costas, muitas daquelas mercadorias eram frágeis demais, cobrimos com a lona, fixamos e depois que acabamos ali, subimos de volta para receber novas ordens e comunicar o cumprimento das anteriores ao capitão quando o vimos discutir com Norton.
-Senhor os motores não estão funcionando.
-Como assim não estão funcionando?. Perguntou o capitão, ele não era um homem facilmente irritável, era controlado e suas mais leves expressões de descontentamento ainda eram de arrepiar.
-Meu palpite é que há algo que pode estar atrasando a aelice, os motores estão sendo forçados ao máximo mas a velocidade não é correspondente... é possível que algo esteja preso, uma rede talvez e que isso interfira no pleno funcionamento da aelice... se forçar mais os motores pode haver uma pane que provocaria a parada brusca e total das máquinas, eu recomendo que é melhor pararmos para verificar qual o problema. Disse Norton tecnicamente, a tradução é que não era boa coisa... se o motor pifasse como rebocar um navio de aproximadamente 225 mil toneladas? O capitão tirou a jaqueta e jogou no banco, tirou o quepe/boné com a insígnia militar da primeira guerra mundial do EUA, me pergunto como ele conseguiu aquele boné e depois colocou na cabeça de Martin e saindo porta afora... o olhamos confusos por um segundo antes de segui-lo.
-Desligue os motores... eu vou verificar. Disse o capitão, eu pisquei só percebi o que ele iria fazer quando começou a desabotoar a camisa branca e atira-la no chão... ele iria mergulhar!
-Mas senhor as águas são muito escuras como vai enxergar lá embaixo? Sem o auxílio de uma lanterna e um equipamento de mergulho adequado...
     Comecei a falar mas quando vi o navio tinha parado, a âncora descia e ele se dirigia a proa, as costas largas do homen eram marcadas por cicatrizes, quando alcançou a ponta que iria pular o navio tinha parado completamente e ele pulou de uns bons 24 metros de altura em um mergulho perfeito na água escura e desapareceu nas águas, desenrolei a escada a meu lado e atirei para baixo.
    Norton já tinha espalhado a novidade aos quatro ventos, os homens estáticos e pasmos se prostraram a meu lado para olhar com ansiedade a água.
-O que ele fez? Por que mergulhou?. Perguntou o doutor ajeitando seus óculos de garrafa no rosto angustiado.
-Pode haver um problema com a aelice. Expliquei também angustiado quando algo em minha visão... na água me deixou frenético.
-Um tubarão. Sussurrei, qualquer tolo saberia o que era uma barbatana de um tubarão para fora da água, pontiaguda e triangular, como uma lâmina escura, e depois que ele pulou para fora da água para abocanhar um peixe espada relativamente dez vezes menor em comparação, mais ainda grande, o peixe espada na tentativa desesperada de salvar a própria vida pulara para fora d'água, mas seu algoz estava em seu encalço era mais ágil e forte, com a potência de um torpedo ele se atirou para fora da água descrevendo um arco no ar com toda sua musculatura em um bote perfeito com suas mandíbulas mortalmente afiadas se fechando no ar... um tubarão branco.
      Ele tinha falhado ao tentar pegar o peixe espada, quase pude ouvir o som de suas mandíbulas se fechando, batendo de encontro uma na outro dilacerando o nada, em choque o vi voltar para a água... o capitão ainda estava lá embaixo.
-Eles são rápidos na água... ele não vai conseguir escapar. Disse Norton, eu me debrucei contra a proteção para ver algum sinal do capitão quando ele surgiu na superfície um pouco afastado do navio um canivete na boca começamos a gritar quando vimos a barbatana do tubarão traçar uma linha reta infalível na direção do capitão, nem um ser humano seria rápido o suficiente para chegar a escada a seis metros de onde ele estava.
-Tubarão! Saia da água!. Gritamos aos berros.
   O capitão não olhou para nós, ele viu que não daria tempo, mas não parecia estar com medo, o rosto era tranquilo o que fazia da cena ainda mais perturbadora, nós e ele vimos quando barbatana submergiu... desapareceu e com ela o capitão também sumiu.
   O pânico foi mudo, sem gritos, sem nada a dizer, ouvi Martin gritar e depois mais nada.

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