Quando a raiva é demais esquecemos até mesmo de quem somos.
Matthew Stanley
A luz, alguém apague a luz...
Tem luz demais por aqui, eu quero dormir... virei na cama grogue colocando o travesseiro na cara, tinha um som estranho cortante além das ondas quebrando na costa parecido com um cano cortando o ar que me acordou
havia alguma coisa que eu não estava conseguido lembrar que me causou uma pontada de ansiedade... de repente a imagem de Samantha, a criança e Laurence baleado caído na areia inundou minha mente como um balde de água fria, eu saltei batendo às costas no teto e cai de pé no chão do quarto, eu estava no chalé como eu tinha ido parado lá era um enigma para mim, talvez Laurence estivesse bem e tivesse me colocado na cama... eu olhei a janela em pânico e relaxei quando vi o instrutor na praia, com o bastão de novo era daí que vinha o som, eu fui até cômoda e vesti uma calça de moletom folgada e pulei a janela, ele não estaria tão tranquilo ali depois de ontem, estaria? Ele não se virou quando me aproximei, continuava a girar o bastão tão rapidamente que ele desaparecia.
-Eh... bom dia instrutor Volga?. Saiu como uma pergunta mas ele não parou, os olhos fechados, a areia era atirada para cima com os movimentos de seus pés no solo fragmentado.
-Sabe como estão meus amigos? Samantha e Laurence... e a garotinha como está?. Perguntei, me perguntei porque eu me sentia tão bobo ali parado... será que ele era mudo?
-Samantha e Emma estão bem mas Laurence faleceu, todos estão se despedindo dele no cemitério. Disse ele, eu recuei com a notícia direta, sem nenhuma preparação, senti como se tivesse levado um soco, eu não estava preparado para sentir o que estava sentindo...
-Como?... então porque não está com os outros?. Perguntei, tinha alguma coisa fervendo dentro de mim... como surgiu? Acho que tinha alguma coisa a ver com toda a revolta acumulada e reprimida que sentia, o sentimento ligado a emoção era devorador como o fogo... o rosto de Ted estava em minha mente, uma imagem sólida que eu não conseguia tirar da cabeça.
-Penso que a morte não é o fim para todas às coisas... sei que ele sentia falta da esposa e do filho que perdera, o amor o levou para onde ele queria estar, com sua família... um velório é um ritual imbuído de tristeza e dor mas não para quem morre, com a morte a dor acaba e para àqueles que encontram os seus do outro lado, não há mais dor... lamento sua morte e estou feliz que ele esteja em paz agora. Disse o instrutor, eu não conseguia ver seu rosto a emoção fervente era mais forte.
-Não vai se despedir?. Perguntei minha voz saiu áspera enquanto a raiva fluía e queimava em minhas veias com o sangue... olhei os bastões de bambu aos meus pés na areia, não queria controlar a raiva queria deixá-la fluir como um rio de correnteza violenta.
-Prefiro ter em minha mente a lembrança da pessoa que ele fora enquanto vivia do que agora está lembrança fosse maculada por um rosto frio em um caixão... gosto de lembrar das pessoas que tem meu afeto dessa maneira a face vívida e corada, lembrar-se da morte não trás paz trás tristeza. Disse ele, a fúria em mim era como o fogo... só apagaria despois que a água fosse atirada sobre ele, para mim a água era encontrar Ted... nunca me senti assim, esse impulso... o desejo de ferir e aniquilar, são reações estranhas e intensas para mim, não posso dar às costas a esse clamor de justiça...
-Matt?. Chamou o instrutor, no instante em que ouvi sua voz me chamar, eu estava me virando para caçar Ted quando algo voou na direção do meu rosto, minha mão se lançou por reflexo agarrando algo no ar... um bastão, eu olhei para ele quase surpreso sem entender, ele se posicionou em uma postura de luta, o bastão em uma das mãos a suas costas, um dos joelhos meio dobrado e a outra perna quase completamente esticada como se fizesse alongamento.
-Ter raiva é perfeitamente natural Matt mas você deve pensar na maneira como pretende descarrega-la... aprisiona-la dentro de si só fará mal a você mesmo, libera-la é o melhor caminho mas se escolher usá-la para machucar, isso não vai ajudá-lo em nada, só vai incita-lo a fazer coisas das quais pode se arrepender depois. Disse o instrutor, ele estava dobrando os dedos na palma da mão na minha direção... me chamando, eu passei por cima dos bastões de bambu na areia... com o que ele me ofereceu em uma das mãos.
-Um sábio me disse uma vez... tenha raiva, a sinta como qualquer outra emoção que nos faça humanos mas não seja escravo dela, não permita que o domine, não use-a para o mal, não deixe que ela destrua quem você é. Disse ele, eu olhei em seus olhos claros... o que ele queria dizer? Contar até dez e respirar fundo enquanto aquele miserável está solto por aí? A irritação me fez cerrar os punhos, senti o bambu se partir ao meio em minha mão e cair no chão.
-Então o que eu faço com ela?. Perguntei me aproximando mais, ele atirou outro bastão para mim usando o que estava em sua mão e de repente ele avançou como uma cobra em um bote certeiro que eu não esperava, ele me deu uma estocada no estômago com o bastão com um golpe e no outro instante acertou meu peito, eu voei como um míssil alguns metros com o impacto do golpe simples e preciso do bastão que ele usou, eu cai de costas no chão fitando o céu perplexo... mas que diabo foi...
-Se não aprender a lidar com suas emoções elas vão derruba-lo... elas podem ser o golpe mais mortal, uma arma que pode ferir se deixar e que pode machucar outras pessoas a sua volta também, não só seus inimigos mas também àqueles que você ama. Disse ele, eu me levantei com ajuda do bastão, o dele ainda estava intacto como diabos ele fez isso? Me derrubar no chão como um boneco de pano?...
Dessa vez mais concentrado eu vi o golpe chegar e defendi com o bastão, nisso seguiram uma sucessão de golpes, investidas por ele que eu impedia defendendo-me contra seus ataques... ele parou por um instante, nem se quer respirou fundo, sua respiração era tranquila em comparação com a minha que era quase arquejante... ele era rápido demais.
-Existe um limite tênue... uma fronteira entre quem você é agora e quem será se ultrapassar essa linha... pense no efeito que a morte de Ted sobre essas condições, raiva e ódio por vingança, teria em sua vida, matar ultrapassa a fronteira, corta o fino fio da alma... a raiva que sente agora poderia ter um gosto amargo mais tarde se suja-se suas mãos de sangue... talvez não agora mais um dia pode refletir em sua vida, por isso canalize a raiva para outras coisas... transforme-a em algo que possa ser trabalhado de outra forma, não a torne uma inimiga, aprenda com ela... não tenha medo de sentir, sinta e abrace o que sente, às emoções devem ser sentidas mas estudadas por nós... sempre procure saber porque sentiu alguma coisa, procure explicar seus sentimentos, conhecê-los, justifica-los... porque de outra formar eles vão derrota-lo. Disse ele recomeçando uma nova sequência de ataques dessa vez ele vinha para cima de mim me fazendo recuar.
-Quando aprender a usa-los a seu favor vai ver que tem forças para se defender. Disse ele enquanto eu continuava tentando me desviar e me defender, ele fez outra pausa.
-E somente quando aprender a usa-los para o bem verá que não poderão mais derruba-lo. Disse ele, seu bastão voou até o meu rosto e eu me curvei para trás mas não caí... mantive meus pés firmes fitando o céu por um instante depois me endireitei novamente olhando para ele.
-E quando enxergar isso você não somente saberá se defender como também começará a lutar para que não perca a verdade quem você sempre foi. Disse ele, eu experimentei essa sugestão e tentei uma investida... ele se esquivou do golpe óbvio e então eu comecei debaixo para cima alternando a frequência nas sequências de golpes em cima e em baixo procurando pontos fracos em sua defesa brilhante mas não havia, ele era insuperável de todas às formas entre defesa e ataque... enquanto tentava supera-lo golpeando tão rápido quanto ele se defendia pegando outro bastão quando um quebrava, não estávamos mais em linha reta como quando começamos a lutar agora estávamos girando em círculos, saltando quando um tentava derrubar o outro com uma passada de bastão na altura dos tornozelos, abaixando quando tentava por cima com o mesmo movimento, quando ele usou o bastão pela primeira vez para se equilibrar por um segundo para me dar um chute mortal direto no peito que me fez voar ao chão, dessa vez eu preferi ficar ali estava exausto.
-Uma luta para toda a vida em busca do equilíbrio de todas as emoções e os sentimentos... nunca carregue mais do que pode carregar dentro de si Matt, a raiva, o medo são a mesma coisa, em excesso nos forçam ações, nos tornam incapazes de ver através deles se acabamos por ceder a sua vontade... não ceda Matt pois se ceder, se atravessar a ponte não terá mais retorno. Disse ele estendendo a mão para mim, eu aceitei a ajuda e me levantei.
-Hoje não vai ter aula?
-Em respeito ao dia de hoje... não Matt. Disse o instrutor colocando o bastão junto com o único que restou, ele tinha ficado com o dele do início ao fim, não quebrou em suas mãos como eu quebrei mais de meia dúzia, eu estava sendo agressivo eu sabia disso, aceitando sua oferta ele me ofereceu um caminho de redenção, uma pausa para pensar... eu também coloquei o meu décimo quinto bastão ali e fui tomar um banho, assim que terminei ouvi os outros se aproximando do vilarejo, me vesti rapidamente passando os dedos no cabelo e abri a porta... Samantha estava lá de pé na pequena varanda segurando a mão da garotinha.
-O instrutor queria ficar com ela hoje mas eu preciso dela... ela me faz lembrar de alguém importante para mim. Disse Samantha olhando a garotinha de vestidinho preto que olhava as borboletas nas flores que cercavam a varanda, Samantha usava um véu preto como um capuz cobrindo os cabelos dourados, os olhos verdes avermelhados, a trouxe para meus braços e enquanto a abraçava... vi às pessoas andando juntas subindo a colina até o castelo todos de preto abraçados uns aos outros, não pareciam lobisomens pareciam só humanos indescritivelmente tristes.
-Para onde todos estão indo?. Perguntei, ela se afastou e eu toquei seu rosto.
-Haverá uma reunião agora a tarde depois do almoço, com tudo o que aconteceu ontem o diretor resolveu adiar a reunião para hoje, e também... querem poder discutir o destino dos culpados, todos tem que ir, vamos. Disse ela segurando minha mão e começamos a subida até o castelo.
-Como é que eu vim parar em casa? Se Laurence...
-O instrutor Volga o colocou na cama ontem, enquanto eu colocava Emma para dormir... ela ficou assustada. Disse Samantha, me surpreendeu ela ter colocado a menina na cama durante uma noite de lua cheia.
-Você já sabe se transformar sozinha? Sem aquela coisa da lua.
-Depois que você adquiri a consciência e sabe o que está fazendo como se transformar e não esquecer o que fez por exemplo... fica fácil.
-Você deve ser uma Flash então. Disse, ela quase sorriu.
-Cada um tem seu próprio tempo Matt, ninguém é igual a ninguém.
-Como achou a Luz?
-Eu não sei como explicar mas me lembro de sonhar com alguém que é importante para mim... minha irmã Sophia de três anos, ela é minha luz... eu não podia mais ficar perto, isso me causava angústia, eu só queria voltar por ela e por mais ninguém... o resto da minha família não vale a pena... se eles não tivessem me encontrado logo eu teria matado meu padrasto e minha mãe. Disse ela, eu a olhei.
-Eles devem ter feito algo bem ruim suponho.
-Minha mãe é alcoólatra... começou a beber depois que meu pai foi embora aí então ela começou a si prostituir e conheceu meu padrasto, outro bêbado... ele me perseguia quando minha mãe não estava por perto... um dia eu contei a ela e ela me bateu e me trancou no porão por uma semana... quando eu saí eu peguei minhas coisas e minha irmã menor e consegui um emprego de garçonete em outra cidade, fechava tarde... em uma ocasião era mais de duas da manhã quando sai do trabalho, meu carro estava estacionado do outro lado da rua perto das árvores, eu não vi da onde veio... só me lembro do rosto de Rosemary quando acordei, ela estava com Sophia nos braços e disse que me ajudaria que não nos deixaria sozinhas... dois dias depois eu estava na Ilha... Rô esta cuidando de Sophia para mim. Disse ela, será que ninguém naquela Ilha tinha um passado normal sem sofrimento?
-Se Rô não tivesse me encontrado eu tenho certeza que eu teria encontrado uma forma de fazê-los pagarem por tudo, eu ainda tinha muitos ressentimentos com relação a minha família... por minha mãe não ter sido forte e me abandonado, por meu pai ter ido embora sem dizer nada... isso me causava muita revolta... sei que minha parte consciente não teria sido capaz de fazer o mal mas eu não poderia dizer o mesmo de que eu não faria se estivesse fora de controle agora, meu subconsciente sabia o que eu queria, depois que me transformei eu teria seguido pelo caminho da tentação... controlar minhas emoções foi muito difícil no começo, se não fosse pelo senhor Volga eu não teria conseguido antes e nem agora me manter sã, cuidar das minhas feridas é o que tenho feito por aqui, nunca tive tempo para isso, para pensar em mim e no que estava me matando por dentro... eu queria matar todos eles sim mas agora eu sei que os perdoo por tudo... sei que agora eu conseguiria abraça-los e não me sentiria mais tão mal assim porque eu me perdoei antes de ser capaz de perdoar cada um deles... o perdão é sua melhor arma contra todas às coisas Matt, perdoe... sei que o que houve com Ted deve tê-lo abalado. Disse ela, eu assenti com um suspiro por que negaria? Eu ainda não sabia como lidar com minhas emoções... pensando em meus pais, e em coisas que me ressentia do meu pai... por ele ter escolhido o trabalho e o dinheiro em vez do filho e da esposa... será que eu algum dia conseguiria perdoa-lo? Ou pior se não aprendesse logo como lembrar das coisas quando me transformo eu seria capaz, por ressentimento, de procurar meu pai? Pensar assim me causava aflição, eu não queria machuca-lo... mas não conseguiria evitar, isso estava comigo e eu tinha o poder para fazer às coisas mudarem... eu era um lobisomem, admitir o que sou agora me fez perceber muitas coisas, demanda certa responsabilidade e consciência da minha parte... mais do que um dia fui capaz quando era humano.
-O que aconteceu com Ted e os outros caras?
-Depois que você quase arrancou o braço de Ted... foi atrás dos outros dois... você estava com raiva mesmo. Disse ela, gostei da parte que ela disse que eu quase arranquei o braço do ursinho de pelúcia demoníaco me fazia sentir melhor no entanto nesse momento eu percebo o que teria acontecido se pela raiva eu tivesse me transformado em um monstro de verdade do tipo que mataria sem parar... tenho medo do que poderia ter acontecido, medo de quem eu poderia ter me tornado e eu não quero ser assim.
-Eu os matei?
-Não... mas foi uma briga feia, todo mundo ajudou a separar não se preocupe.
-Eles estão machucados?. Perguntei horrorizado.
-Estavam... quando nos machucamos dependendo do grau dos danos podemos nos curar rápido ou pode levar um tempinho... Ted esta de tapa olho por sua causa. Riu ela, eu a olhei incrédulo.
-Isso não é divertido.
-Claro que é você deu uma boa lição neles... é o herói e acho que merece um prêmio por isso. Disse ela parando em uma árvore no jardim, Emma corria alegremente na frente e nos deixou para trás, a sombra de um pinheiro com formato de árvore de natal puxando a gola da minha camisa, Samantha me beijou... ouvimos alguém tossir e ela me largou.
-Gostariam de se juntar a nós durante o almoço casal de pombinhos?. Perguntou Rosemary reprimindo um sorriso, Samantha riu baixinho levando-me junto com ela pela entrada ogival do castelo com suas imensas portas abertas.
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A Presença
RandomLivro II Bella encontrou seu verdadeiro amor, a metade que lhe faltava e que sem ela sua vida seria uma desilusão emoldurada pela tristeza, com a nova chance de viver a paixão que foi antes interrompida pela morte da moça, onde puderam recomeçar de...