108: Ameaça

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Bella












Alívio e horror foi o que senti... o horror era óbvio, mais fácil de explicar do que qualquer outra emoção, o que meus olhos viam era simplesmente aterrorizante, mas o alívio insano que senti foi perturbador, ninguém deveria sentir alívio quando se sabe que vai morrer mas eu senti profundamente, em um ponto que tocou minha alma, acabou... não haveria mais mortes inocentes, só a minha mas quando minha mão desceu inconscientemente até minha barriga, um gesto involuntário daqueles que só se percebe depois que é feito, eu soube que mais um pagaria por mim, meu pequeno príncipe, meu bebê não, se houvesse uma maneira de salvá-lo... porque tinham que vir justo agora? Eu queria tanto dar esse filho a Adam, dar o melhor de mim, um pedacinho meu para que ele pudesse ter paz em minha ausência.
A primeira vista minha vida era perfeita mas não era bem assim, eu tinha meu amor, um amor único e imensurável o qual era grande parte de minha alegria, era o motivo para querer levantar todas às manhãs... mas há às pequenas coisas, as tristezas que acompanham a vida, que por elas não era completamente feliz, mas eu tinha o amor pelo qual lutar, o amor que fez suportável qualquer dor que senti, minha vida não era perfeita mas era indescritivelmente melhor com o amor de Adam... até o momento em que meus olhos lampejaram para aquele rosto sarcástico e cruel e pude sentir que minha felicidade estava em risco... era inadmissível que nossa felicidade fosse interrompida daquela forma, mas não se pode lutar contra o destino não é mesmo?... ele teria que me achar a qualquer hora, para exigir algo exorbitante, além da minha capacidade... será que eu não poderia ter uma vida normal com o homem que eu amo? Era pedir demais? Tinha cotas a pagar? Limites para o que era bom? Limites para felicidade? Onde eu só poderia viver uma porcentagem admissível, delimitada, determinada de alegria... isso era uma injustiça.
Minha mente foi capaz de indignar-se, mas só de maneira parcial, superficialmente... o resto de mim só via o terror descrito naquela cena...
Os três homens de preto, os cavaleiros da morte que anunciariam o meu fim se aproximavam lentamente no corredor gélido, sem ansiedades, era só eu que estava morrendo...
Cada um deles me fitava, os três, um deles era Demétrius e os outros dois que o seguiam não sabia quem eram, mas o do meio... eu o reconheceria de qualquer modo, porque ele fazia parte do meu passado e era a sombra do meu presente... uma sombra que tomava forma, rosto, era real... Não era mais uma lembrança pavorosa da última vez, em minha vida anterior, em que ele era meu assassino... ele era real, uma ameaça? Não, não era uma ameaça, ele era letal. Eu não entendia porque o surto... porque a surpresa, iludi-me ao pensar que aquilo poderia ser adiado, até evitado, mas eu sabia que não era assim, o bom de estar sonhando é que se pode acordar do pesadelo, mas o que fazer quando o monstro passa para vida real? Se materializa?...
Eu repetia para mim mesma que não era real, seduzida pelo desejo de um sonho, seduzida pelo pesadelo para que ele pudesse continuar sendo só isso mesmo, algo assustador, ameaçador mas que não possuía a forma de me machucar, possuir, tragar para às profundezas mais obscuras... Demétrius olhou para mim, seu olhar vazio com algo como um triunfo cruel, uma vitoria fácil pairando no fundo encontrou o meu... ou talvez estivesse fitando os meus desde que entrara naquele corredor, aquele olhar podia muito bem ser traduzido para "Peguei você", como uma brincadeira infantil de pique-esconde até que o outro chega e diz que encontrou você, acabou a festa, game over... mas não era uma brincadeira infantil era um jogo mortal em que eu realmente poderia me machucar. Eles entraram na sala um de cada vez a elegância em seus movimentos lentos, em sincronia, Demétrius foi o primeiro a entrar e o último deles fechou a porta atrás de si suavemente. Demétrius esperou um momento em sua glória sombria antes de falar observando-me, avaliando-me antes de sorrir se divertindo.
-Não esperava uma visita? Geralmente as futuras mamães recebem muitas visitas, presentes, atenção... o prestígio pela gestação, devo parabeniza-la... meus parabéns. Regozijou-se ele, não identifiquei uma nota de falsidade em sua congratulação, eu assenti levemente.
-Obrigada. Disse a meia-voz, a boca seca.
-Seu marido é um homem de negócios, achei atraente a ideia de podermos negociar hoje, gostou do meu traje? O alfaiate me disse que essa é a última moda... elegante não?. Perguntou, eu não me dei ao trabalho de olhar o que ele vestia.
-Não veio me matar?. Perguntei, minha voz sem tom algum, ele pareceu surpreso com minha pergunta mas deu um sorriso que pelo que entendi ele estaria cogitando a ideia.
-Até que seria interessante... mas esses dois aqui não me deixariam fazer nada do que eu quero. Disse ele apontando para seus amigos atrás de si separados um em cada canto do sala... eu os olhei com receio por instante antes de me virar e fitar os olhos sem vida de Demétrius com desconfiança.
-Não acredita em mim, não é? Se por acaso eu tentasse fazer algum mal a um fil de cabelo eles vão impedir então não tema... eles estão aqui justamente para se certificarem de que eu faria o meu trabalho e nada mais... então fique tranquila... você deve saber porque eu estou aqui. Disse ele, eu ainda o encarava com dúvida.
-Não, não acredito em você... se não veio me matar, não sei mais o que pensar...
-Se estou aqui hoje Bella isto significa que meu senhor sabe que a senhora está viva. Esclareceu ele com desprazer, percebi que o fato não o agradava tanto quanto a mim... então ele já sabe que estou viva, o Príncipe Sombrio como Maria o chamava, tentei ser direta... se Demétrius não veio me matar porque estava aqui?
-O que quer negociar exatamente?
-Tão direta senhora Lichtenfels, a convivência com aquele principezinho vagabundo a tem deixado mais afiada. Ironizou, estretei o olhar decidindo acabar logo de uma vez com isso.
-Se o senhor está aqui devo imaginar que tem algo a me dizer além de insultar meu marido Demétrius.
-Mas a senhora tem razão... vamos chegar lá não se apresse, temos tempo, então não há motivo para se preocupar... seus cães de guarda estão bastante ocupados nesse momento. Disse ele, me lembrei de Tobey e Allen lá fora e o sangue fugiu do meu rosto.
-O que fez com eles?
-Eu não podia simplesmente soltar todos os "Sem Alma" aqui dentro, seria um desastre e eu preciso de você viva já que meu senhor deixou bem específico nesse ponto... como disse antes não se preocupe, não é comigo com que tem que se preocupar, sua segurança será garantida, meu Mestre quer que seja assim mas não sei como ele vai reagir a isso. Disse ele olhando minha barriga.
-Imagino que ele não vá se sentir muito feliz com esse pequeno acréscimo na entrega. Disse ele, agora eu estava entendendo onde ele queria chegar.
-Você vai me sequestrar? Adam jamais...
-Eu sei querida Bella... sei que seu marido moveria céus e terra para impedir algo do tipo, é por esse motivo que estamos tendo essa conversa... a proposta que farei é irrecusável, eu pensei muito esses últimos tempos, não haverá erros é simplesmente perfeito. Disse ele teatral, sua civilidade era mais assustadora do que sua frieza... mas o que ele estaria planejando?
-Continue.
-Pois bem... seu precioso marido jamais permitiria que a levasse, a cidade está cheia de vermes iguais a ele, todas as saídas são monitoradas... eu não sou tolo em relação a isso, e nesses últimos tempos tive que mudar minha dieta para poder estar aqui... eu sei, acredite não foi a melhor experiência do mundo, foi um desafio em suas amplas proporções que assume com muito horror. Disse ele franzindo a testa e os lábios com aversão.
-E...?
-Mas ainda sim eu venci Bella e você perdeu... se eu quisesse levá-la agora em um vã escura isso seria feito mas eu pensei, disponho de tempo o suficiente para me divertir um pouco... e se pudéssemos tornar às coisas mais interessantes... e se você quisesse vir conosco? Claro que não quero compartilhar essa parte com seu marido, ele não precisa saber que estou aqui, não quero me expor... mas e se você partisse de livre e espontânea vontade?. Perguntou ele, eu teria rido se não estivesse preocupada com onde ele queria chegar... aquele se era preocupante.
-Isso jamais aconteceria Demétrius... eu não vou com você.
-E se eu dispuser de uma maneira de obriga-la?. Perguntou ele, eu o encarei surpresa e meio em pânico.
-Do que está falando Demétrius? o que você fez?. Perguntei, um sorriso lento e triunfal se abriu em seu rosto.
-E se sua partida dependesse da continuidade da vida de alguém importante demais para você que não tenha escolha a não ser aceitar? Você não se arriscaria a esse ponto, não quando a vida de alguém que você ama está em jogo, obrigando-a a fechar um acordo comigo, obrigando-a a partir... vocês humanos são tão previsíveis e tão fadados a sacrifícios incluindo sacrificar a si mesmo em prol de algo que acham ser mais importante do que suas próprias vidas. Disse ele... um beco sem saída, era exatamente nessa posição que ele queria me colocar... sua suposição estava certa, eu faria o que fosse preciso se alguém que amo estivesse correndo perigo... ele percebeu pela minha expressão vacilante que havia me pegado nesse ponto porque era meu ponto fraco, ele estava certo.
-Você já foi humano um dia Demétrius... realmente deixou tudo para trás? Não restou nada aí dentro?.
-Não, não sobrou nada aqui dentro e eu não costumava ser um santo em minha vida humana... agora é você que está tentando desviar o foco da questão, não queria ir direto ao assunto?.
-Queria que você pensasse de outra forma. Falei, ele riu achando graça.
-Quer mudar os meus princípios? Fazer-me enxergar da perspectiva de sua espécie? Quer que eu tenha compaixão? Não percebe o quanto soa ridículo esperar isso de mim?. Divertiu-se ele, o encarei abertamente sem medo algum... era mesmo ridículo tentar entender um cubo de gelo.
-Na verdade acho que é bom para variar, compensar os erros passados... nunca em todos os anos de sua vida teve uma centelha de bondade?
-A gentileza não é meu forte. Disse ele mas então parou e me encarou com curiosidade.
-Isso explica porque estava com tanto medo de mim, se você está com aquele coisa que chama de marido, acho que devem ter descoberto... eu me pergunto como.
-A verdade?... sim, eu descobri a verdade, eu me lembrei de algumas coisas da minha vida anterior... fazer Adam pensar que havia tirado a minha vida foi de uma monstruosidade tal... você é um covarde inescrupuloso da pior estirpe de sua espécie, assassino. Acusei, ele ainda sorria.
-Obrigado pelo elogio mas não foi tão bom assim para você, não é?. Perguntou, não havia nada de humano nele, nem uma centelha se quer... nada havia nada ali.
-Adam pensou durante séculos que havia tirado minha vida, culpou-se como ninguém jamais seria capaz de suportar... e ainda me pergunta se foi bom para mim? O que pretendia?
-Que estivesse morta? Se tivesse continuado morta não estaríamos aqui agora tendo essa conversa Milady.
-O que você quer?. Exigi cansada de tantos rodeios, ele sorriu ansioso como se eu fosse um brinquedo e ele mal pudesse esperar para me arruinar como uma criança que tem prazer em maltratar um boneco. Pelo menos isso estava claro, ele sentia um prazer mórbido e cruel em me atingir de todas às maneiras possíveis.
-Muito bem vamos acabar logo com isso...

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