BellaEu vi uma sequência de gavetas na escrivaninha de Alfred, puxei a cadeira e me sentei, comecei a abrir as gavetas, debaixo para cima, comecei a perder as esperanças quando cheguei a penúltima das cinco gavetas, não tinha nada por ali no entanto quando abri a primeira, havia um maço de folhas envolvidas e presas por um cordão, tantas folhas, podia jurar que tinham mais de mil páginas naquele bolo... desenrolei o cordão e as coloquei sobre a mesa, a primeira página era uma dedicatória.
-Aos meus bons amigos Rosemary, Bella e Adam Lichtenfels. Sussurrei surpresa e curiosa, olhei as páginas, me pareciam poesias... Alfred era um poeta, olhei chocada e de repente envergonhada por estar violando sua privacidade mas eu não tinha mais para onde ir, não sabia mais o que fazer e então peguei a primeira página, olhei as letras esparramadas no papel e comecei a ler... a primeira fora intitulada como "Poema ao Sentimento"...
-Entendo bem pouco de vós, oh sentimento que quando brando enternece porém quando pranto esmorece a alma,
Sinto-me infeliz nestas frases frias,
Sinto-me só nessas noites minhas,
Há o que procuro mas não sei o que és, e vós ainda encontra-se indeciso, não sabe se chora ou canta se canta ou chora,
São minhas amargas outras caras lembranças, oh sentimento tu és influência que recai sobre mim, sou o cata-vento em tuas hábeis mãos de vento, usa-me e provoca-me o espanto, sou submisso a ti...
Às vezes choro em coro com as saudades tantas, outras horas luto com ferocidade contra vós, não queria sentir, não queria ser sensível em tuas mãos.
Oh sentimento, despido estou, tocado por ti, sofri em tuas mãos, entreguei-me sem importar-me com os danos e hoje aqui estou perdido e lívido na vastidão da solidão de minh'alma mas não há arrependimento pois a verdade que me satisfaz é saber que embora me sinta sozinho possuo meus caros amigos.
O que me promete em nosso próximo encontro?
Anseio em ver-te de novo pois sem ti não há vida, sem sentimento a vida é um lago parado, não escorre, não tem para onde ir, perece refém de si mesmo, a vida e o amor tem o preço de lágrimas e por tão pouco pagaria para senti-los, oh sentimentos.
Dizia um trechinho do primeiro poema mas eu não consegui terminar, já estava chorando, o desentendimento com eu, às alegrias e às angústias que trazem os sentimentos, a desolação do sentir-se só, a confusão da ambiguidade das emoções, o homem de recordações boas e ruins regido pelo sentimento, as aflições e os momentos de desespero, vulnerável ao apelo das emoções confessando que se sente só mas que não se arrepende... oh Alfred... um homem apaixonado pela vida que já teve seus desentendimentos com esta, um homem de sentimentos que pagaria para vive-los.
-Bella?. Ouvi Adam chamar, me virei e ele encontrou meu olhar, não precisei dizer nada ele já tinha visto tudo em meus olhos e veio me abraçar, eu chorei em seu pescoço.
-Eu estava procurando por você quando ouvi a música. Disse ele, eu me afastei, peguei um dos poemas de Alfred e entreguei a Adam.
-Veja isto. Pedi, ele se sentou na beirada da mesa e leu em silêncio.
-Ele escrevia... não é lindo?. Perguntei, Adam assentiu com emoção.
-Nós tínhamos um poeta debaixo de nosso teto e não sabíamos.
-Ele nunca contou que escrevia?
-Não, Alfred era muito reservado mas um bom ouvinte, tornou-se meu confidente ao longo dos anos... não posso acreditar que ele não tenha me contado sobre isso... ele é mesmo muito bom. Disse Adam pegando outras páginas.
-Acho que podíamos fazer algo por ele, o que acha?. Perguntei já tendo em mente o que queria fazer.
-O que quer fazer?. Perguntou ele, eu olhei as páginas soltas em cima da mesa... os poemas.
-Acho que daria um bom livro.
-Quer publicar?. Perguntou ele, eu assenti sorrindo olhando as palavras de Alfred. Adam se abaixou ao meu lado pegando minha mão, eu me virei para ele... me parecia bastante sério.
-Preciso que você saiba de uma coisa... a morte de Alfred foi uma fatalidade para a qual não estávamos preparados. Começou ele, eu assenti olhando nossas mãos já sabendo o que ele diria mas a culpa era mais forte e a lembrança de Alfred caído no gramado... sangrando até a morte me invadiu.
-Sim... foi horrível, eu nunca vou me esquecer, aquele imagem não saí da minha cabeça ficou marcada... se eu não tivesse devolvido a taça...
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A Presença
RandomLivro II Bella encontrou seu verdadeiro amor, a metade que lhe faltava e que sem ela sua vida seria uma desilusão emoldurada pela tristeza, com a nova chance de viver a paixão que foi antes interrompida pela morte da moça, onde puderam recomeçar de...