107: Cinema

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Tita










Coisas estranhas acontecem por aqui, mas nem por isso deixamos de viver nossas vidas...
Eu estava correndo, não para me exercitar ou distrair como em geral fazia... para fugir de mim ou o que quer que fosse que deixava para trás quando meus pés tocavam o chão, afastando-se para longe tudo, correr era o que eu sempre fazia, não era estranho sonhar com isso, em meus sonhos eu sempre estava fugindo... mas o sonho que tem me assombrado que me fizera tantas vezes acordar no meio da noite não era nada parecido com os outros sonhos, eu estava fugindo porque temia que algo me alcançasse, porque havia perigo, esse sonho me revisitava com frequência, tem piorado esses últimos tempos por isso procurei me livrar do pesadelo da única forma que conhecia, sair... fomos assistir um filme qualquer no cinema já que a senhora Watson fechou o Café está tarde, me lembrei de Bella quando escolhemos o filme ja que ela gostava de filmes de terror... embora estivesse hesitante ao entrar na grande sala escura, não gostava de lugares fechados ou escuros e não gostei de me sentir como me senti assim que entrei, eu queria ir embora mas fiquei...
Naquela noite eu sabia que iria fugir correndo porque eu aprendi a dar ouvidos a esse tipo de sexto sentido... não era um sonho, eu não imaginei o que vi, mais assustador que tudo, mais que às imagens macabras na tela gigantesca porque eu sabia que não era de verdade, alheio às cenas de pânico, o terror encenado eu estava olhando outra coisa rastejar nas sombras do vão abaixo da tela... foi só quando todo mundo começou a gritar, não pelo palhaço fajuto tentando assustar a criança, mas pelo que aconteceu no palco, na frente da tela... foi aí que eu percebi que meu pesadelo estava para si tornar realidade, vivemos nosso próprio terror.
Um homem rastejava, branco e disforme por ali aos gemidos meus olhos curiosos seguiram seus movimentos, cheguei a pensar que era um daqueles idiotas tentando pregar uma peça com a intenção de dar mais crédito ao filme ou quem sabe promover o lançamento de outro filme, tudo bem típico, eu já me deparei em estreias com pessoas fantasiadas de Samara, a menina do poço, Chuck a um século atrás, Os Incríveis, o Huck magrelo daquela vez, um cara esquelético pintado de verde... estava escuro demais, indistinto, não conseguia ver direito para saber, o estranho ainda escondia-se no vácuo escuro abaixo da tela, tremendo e berrando cheguei a achar que fosse interessante a ideia, uma pegadinha não matava ninguém, não até que deixava de ter graça e começasse a ficar assustador...
O homem no palco rolou até a luz da tela enquanto se contorcia pude ver melhor enquanto assistia e mastigava peguei mais um punhado de pipoca do balde, minha mão parou na frente da boca, meus olhos se recusavam a se desgrudar da forma branca que rolou até a luz da tela... ele não estava vestido, não estava de roupa, nu ele começou a bradar feito um louco como se sentisse uma dor insana, incontrolável de cerrar os dentes e contê-la, em agonia ele começou a urrar como um animal ferido, exatamente como um animal por que aqueles sons emitidos iam além da capacidade humana, às risadas pararam com a cena que se passava... às perguntas comuns surgiram e os gritos começaram quando o estranho parou de se retorcer no chão e se colocou de pé ainda de costas... eu não sabia o que aconteceu de verdade, como fizeram para trocar os personagens, mas não daria tempo, foi rápido demais, às concussões do homem em um instante pararam e no outro enquanto se colocava de pé, às costas brancas haviam escurecido... não havia como uma troca de personagem, era impossível... nesse instante quando percebi o que era larguei a pipoca, ao se virar o homem com dor não era mais um homem, os olhos brancos... alguém cuspiu refrigerante atrás de mim, ou talvez fosse vômito mesmo.
O silêncio que se seguiu ao pavor foi supremo, cada nervo do meu corpo sabia que havia algo errado, era gritante e eu não poderia negar, aquela sensação de dejavú e perigo como se eu já tivesse vivido aquela mesma cena, aquele mesmo momento antes, instintivamente me coloquei de pé com cuidado preparando-me para correr.
-Ah!. Gritou alguém, a criatura saltou em direção a plateia.

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