76: A decisão

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Bella








        Eu parei nesse instante fitando a arma em sua mão, ouvimos a descarga do banheiro e a porta do reservado foi aberta... Emma viu a arma nas mãos de Ruth e gritou, um grito alto e agudo... Derek apareceu com a arma nas mãos, Ruth recuou até o canto do banheiro mas não olhou para ele, a arma em suas mãos ainda estava apontada para mim... Emma correu e se escondeu atrás de mim.
-Sua hora chegou Bella, agora ninguém me impedirá de conseguir o que quero. Disse ela... eu a olhei sem entender, olhei dentro de seus olhos brancos àquela não era Ruth... algo estava errado mas o que? O que aconteceu? O que eu não estava vendo?... Derek se aproximou um passo dela e ela virou a arma para ele, Emma gritou de novo começando a chorar.
-Abaixe a arma. Pediu ele com a voz calma mas precisa.
-Fique longe. Disse Ruth, ele deu outro passo e a arma dela disparou uma vez no chão perto do pé dele, sufoquei um grito de horror.
-Derek por favor. Pedi, ele não disse nada somente a olhava sem se desviar, a espera de um movimento... eu olhei o rosto pálido de Ruth, tinha que haver alguma forma de fazê-la parar, de fazê-la ver...
-Ruth o que está havendo? Porque está fazendo isso?
-Você vai morrer, você tem que morrer.
-Ruth olhe para mim sou eu a Bella, lembra?. Perguntei, ela virou o rosto para mim no mesmo instante, a arma ainda apontada para Derek... ela piscou algumas vezes como se tentasse acordar ou afastar alguma coisa, seu braço tremeu e o corpo estremeceu... ela abaixou a arma e Derek relaxou, ela olhou para mim, seus olhos não eram mais completamente brancos, eram os olhos azuis inocentes e gentis que eu conhecia, agora desamparados e apavorados, ela estava com medo... ela me olhou desorientada e o ambiente por um instante como se não tivesse a menor ideia de como teria parado ali depois ela olhou para mim novamente e para Emma grudada a meu lado e um medo profundo se apoderou de seus olhos... ela olhou a arma na mão com pavor e depois para mim, a mão trêmula.
-Eu não queria... me desculpe eu não queria, ela me obrigou. Disse ela chorando.
-Quem obrigou o que querida?. Perguntei, ela ainda chorava com a mão livre na boca a mão com a arma ainda tremia... ela tentava me dizer alguma coisa.
-Ela.
-Ela quem?
-Me desculpe... eu não queria, não sabia como parar, ela me fez fazer, eu vi o rosto dela, eu me lembro... me desculpe, não sei o que fazer, não quero machucar você mas não posso evitar quando ela me chama... eu não quero machucar você senhora, por favor me perdoe... sei como fazer isso parar... sei como salvá-la. Disse ela em desespero erguendo a arma e apontando para si mesma... eu vi em seu olhar o que ela iria fazer, a decisão, Derek se aproximou mais dela para tomar a arma... mas foi tarde.
-Não!. Gritei com o som do disparo, senti Emma se agarrar mais a mim me virei e a peguei no colo, ela escondeu o rosto em meu pescoço e eu a envolvi com o xale... Ruth estava caída no chão sangue escorria da lateral de sua cabeça... Derek se abaixou e pressionou os dedos no pescoço dela.
-Ela se foi. Disse ele pegando o celular no bolso, já imaginava para quem ele iria ligar primeiro e saí para fora do banheiro com Emma chorando inconsolável em meu colo, seguranças da festa já convergiam para o local, às pessoas olhavam assustadas da porta... Derek conversou com alguns homens por um instante e depois veio ao meu encontro.
-A Polícia foi chamada e o senhor Lichtenfels já está a caminho senhora. Disse ele, eu assenti balançando Emma, isso a ajudava a se acalmar.
-Se a senhora não estiver se sentido bem eu posso ficar com ela. Sugeriu ele, eu balancei a cabeça.
-Tudo bem... eu posso ficar com ela, não tem problema. Falei, ele anuiu... Elizabeth e os outros vieram até nos em busca de respostas que eu não tinha no momento, desolada como estava Derek me conduziu para longe das pessoas pela lateral da mansão até o carro estacionado do outro lado da rua, Carl esperava preocupado ao lado do carro, ele segurou a porta para mim e eu entrei... Derek ficou do lado de fora.
-O que aconteceu? Ouvi uma algazarra lá dentro e um tiro. Disse Carl a Derek do lado de fora do carro enquanto puxava uma manta e cobria o corpinho gelado de Emma.
-Pronto, pronto já passou querida, vai ficar tudo bem. Entoei em seu ouvido.
-Estou com medo. Disse ela, o choro sufocado em meu peito.
-Eu sei, também estou... sabe o que faço quando quero que o medo vá embora?. Perguntei, não queria pensar no que vi, no que aconteceu... eu presicava distrair a pequena e isso me ajudaria a pensar no que importava... Ruth jamais seria capaz de me ferir... havia uma explicação para tudo, uma verdade em suas palavras, se nós tivemos tido mais tempos juntas eu descobriria mas agora ela... porque ela prederiu a morte? Porque a decisão extrema?
-O que?
-Cante... isso espanta o medo, quer que eu cante para você?. Perguntei ela ainda mantinha o rosto escondido em meu pescoço mas pude ouvir um sim em resposta a minha pergunta.
-Gosto muito de te ver leãozinho... caminhando sob o sol, gosto muito de você leãozinho. Comecei a cantar baixinho para ela em seu ouvido até que senti sua respiração acalmar, a frouxidão dos seus braços finos a meu redor, ela tinha ficado aquecida com a manta, quentinha e confortável ela pegou no sono enquanto cantava comigo, olhei a janela... Derek olhava para nós duas... o olhar vazio me parecia terrivelmente triste, o garoto perdido sem direção competia com o homem austero que cultivara mesmo em meio a desesperança em um terreno infértil a paz e a sabedoria que o mantiveram firme mas parecia não bastar... um homem não poderia viver sozinho para sempre, seria triste demais... vê-lo como apenas um garoto, isso me deixou ansiosa de uma forma estranha, como antes a tempos quando via em Adam algo parecido sentia a necessidade premente de consola-lo, mas para Derek de certo modo era diferente... sua tristeza ainda conseguia ser mais profunda quanto a dor de Adam... eu queria ouvi-lo, perguntar o que lhe afligia tanto como a uma criança queria trazê-lo para meu colo e acariciar seu cabelo... não sei da onde veio isso mas era tão intenso, meus olhos arderam, lágrimas queriam cair... dez minutos se passaram e eu vi Adam descer do carro escoltado por seguranças e amigos próximos, Nicolay e Arthur estavam com ele, eu o vi procurar por mim até encontrar meu olhar, ele atravessou a rua movimentada com os carros da Polícia e de convidados que se dispersaram da festa.
        Adam subiu na calçada com ansiedade andando rápido e elegantemente até mim, abriu a porta do carro e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa seus lábios estavam nos meus, senti seu alívio e sua tensão, eu toquei seu rosto.
-Você está bem?. Perguntou, eu o beijei outra vez.
-Estamos todos bem mas Ruth... eu não entendo Adam, porque ela fez isso?
-Sinto muito mesmo Bella.
-Ela ficou repetindo que alguém a tinha obrigado a fazer isso... eu não entendo, o que ela quis dizer?. Perguntei com angústia pousando minha testa na sua, toda sua angústia transparência em sua expressão.
-O pior já passou... nem acredito que eu não estava aqui, deveria ter vindo com você de qualquer maneira.
-Não se martirize Adam... Derek estava comigo o tempo todo, só não no banheiro feminino até Emma gritar.
-E como está a garotinha?. Perguntou ele acariciando os cachos volumosos de Emma com a mão grande, ela ainda parecia mais pequena enroscada em mim como estava.
-Ela dormiu... vai ficar melhor amanhã, espero que ela não fique com trauma.
-Crianças sobrevivem a tudo... não duvido que ela seja diferente, se não se importa meu amor gostaria de verificar como esta a situação agora. Disse ele, eu apertei sua mão e o beijei mais uma vez.
-Vai... pode ir, não fique preocupado comigo, eu estou bem. Assegurei, ele me beijou mais uma vez, murmurou em meu ouvido que me amava e saiu fechando a porta com cuidado... dois seguranças que não pude identificar quem eram ficaram próximos na calçada vigiando... vi Adam conversar com Derek e os policiais durante quase meia hora, vi um saco preto comprido ser transportado com a ajuda de dois homens até um carro com gavetas na traseira... o corpo de Ruth, não entendia porque ela tinha feito aquilo, o que tinha contra mim... não fazia sentido, desde a conversa com Sol nada fazia sentido, como se houvessem duas pessoas diferentes em um único corpo... momentos depois, Derek se dirigiu até o carro, deu a volta e abriu a porta do meu lado do passageiro, ele se abaixou na calçada sobre os calcanhares... seu rosto não revelava nada agora.
-Lamento não ter impedido a morte de Ruth senhora... sinto muito que a tenha desapontado e a colocado em perigo dessa forma.
-Não foi sua culpa Derek.
-Mas é minha responsabilidade seu bem-estar e segurança.
-Agradeço a consideração de sua parte Derek mas não precisa se desculpar por algo que estava fora de seu controle, não sabíamos que ela estava lá... ninguém controla a vida, o que pode ou não acontecer, coisas terríveis simplesmente acontecem, e estamos sujeitos a tais coisas. Disse, ele pensou nisso, a testa vincada... foi sua única reação desde que Adam chegara e ele voltou a ser o que era... ele estava vazio de novo, sem deixar nada passar, só então eu percebi que o vazio era um disfarce, uma forma de defesa, de se proteger mas do que?... geralmente eu estava certa sobre as pessoas ao meu redor, eu não estava errada com relação a Derek, sentia que não. Mas ainda haviam coisas que não estavam claras, algo a respeito da profundidade de seu sofrimento... sei que foi órfão e parte de sua tristeza pode vir disso mas sentia que havia mais, algo mais sombrio.
-Tem razão... às vezes às coisas fogem do controle e não há mesmo maneira de evitar. Disse ele, enquanto o fitava me perguntei porque esse fato teve um peso a mais para ele... ele olhou Emma e tocou seu rosto.
-É melhor colocar a pequena na cama... ela teve uma noite difícil e espero que não seja inesquecível.
-Ela vai ficar bem... Emma já passou por coisas muito piores. Disse ele puxando a menina dos meus braços com cuidado e aninhando-a em seu peito, eu vi Derek levá-la há um dos carros que escoltaram Adam até ali e partir... meu eterno amado apareceu alguns minutos depois e se sentou a meu lado trazendo-me para si, eu me permite pousar a cabeça em seu ombro enquanto Carl nos levava para casa.
-Os polícias queriam recolher seu depoimento mas propus que fossem até nossa casa amanhã para isso. Disse ele desfazendo minha trança, penteando meu cabelo com os dedos.
-Hmm. Murmurei, senti seu peito vibrar com um riso.
-Está cansada?. Perguntou, quando não respondi ele me envolveu mais e eu devo ter apagado, um sonho me deixou agitada... o sonho de uma figura estranha que me perseguia e queria minha morte mas eu não sabia quem era mas sentia que havia perigo... o perigo estava próximo mas para que lado olhar?

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