ErickNa superfície, podíamos ver a agitação feroz da água, a luta silenciosa que acontecia lá embaixo, uma cauda debatendo-se, aparecendo hora ou outra até que de repente mais nada se movia, tudo ficou plano de novo, um espelho escuro que refletia o céu igualmente escuro, raios partiam dali, descargas elétricas do atrito de átomos... olhei a meu redor, os homens haviam começado a tirar o chapéu e levá-lo ao peito em sinal de respeito...
O mar me parecia um túmulo melhor para se repousar, um túmulo profundo, uma sepultura digna, sem cerimônia, a extrema unção era dada pela natureza em silêncio, os céus diriam da sua forma um terno discurso de despedida em forma de chuva, mas morrer daquele modo...
Surpreendentemente enquanto pensava na morte es que algo sinceramente surpreendente aconteceu, dado como acabado, vencido pelo monstro, eu sabia que ele não teria chance, ninguém teria... mas aquele homem indubitavelmente me surpreendeu quando ressurgiu das águas, subindo rapidamente pela escada, eu me afastei junto com os demais enquanto tentava me recompor do susto, ele não estava abalado, nem se quer tremia, estava ainda mais preocupado e agora confuso... a chuva caia.
-Acho que nosso cozinheiro não nos abandonou. Disse ele jogando um emaranhado de alguma coisa no chão, quando percebemos o que era todo mundo começou a gritar... quando a coisa parou de rolar no chão vimos a cabeça de Patrick Pierce envolvida por uma teia de rede de pesca.
-Mas... ma-mas... e o tubarão?. Perguntou Norton, o capitão parou de costas sem querer se virar abotoando a camisa e depois continuou andar sem se incomodar em responder a pergunta, confesso que não sabia mais o que pensar mas mesmo assim... eu me virei para água, alguma coisa branca, boiava ali, comprido, gigante... a barriga lisa e polida, alva, branquissima... o tubarão boiava de barriga para cima como um tronco de árvore podre.
-Morto. Respondi, mais tarde descobrimos qual era o problema da aelice, havia mesmo alguma coisa impedindo que ela girasse normalmente, o impecilho era uma rede de pesca enrolada a um corpo, um corpo, o corpo de Patrick já em um estado fétido de decomposição, o cozinheiro que no passado havia difamado dizendo que ele havia fugido.
Eu me concentrei em não me culpar por isso por que nada é melhor para enlouquecer um ser humano do que uma culpa, então deletei essa parte da história e me concentrei nos fatos... cinco desaparecidos, um corpo encontrado, os outros possivelmente tiveram o mesmo destino grosseiro... o fato era que pessoas estavam morrendo, nada mais assustador, só mais um motivo para paranóia... comecei a achar que estava sendo seguido e vigiado, e talvez estivesse mesmo... seria eu a próxima vítima? E quem estava por trás disso?
Quando aportamos no próximo destino na Somália o capitão dispensou a todos, como uma folga e a mim incumbido de uma tarefa, encontrar três colaboradores para aumentar o nosso pessoal e assim diminuir a sobrecarga de trabalho, decidi ir direto ao assunto, recusando-me a ficar perambulando pela cidade em busca de mendigos sem nada a perder dispostos a abandonar o que tivesse para ser um marinheiro, em geral eram esses os tipos que o capitão preferia, quem não tivesse mais o que fazer em terra, além do abastecimento de suprimentos e as entregas das mercadorias não havia mais motivos para que nos demorassemos em terra, todos nós tínhamos nos próprios passados que era preferível deixar para trás... assim o capitão queria uma espécie de alma condenada, o trabalho poderia ser ensinado é claro, ninguém nasce sabendo e ninguém é suficientemente retardado para não aprender e o dinheiro também não era ruim, em pouco tempo de trabalho a grana daria para uma aposentadoria confortável e sem estresse.
Trabalhando nesse aspecto só havia um lugar onde se podia encontrar perdedores, em um bar foi aí que eu decidi ir visitar um velho amigo, alguém de confiança que me daria uma cartela de pessoas com as características que procuro, dono de um bar, ele conhecia muita gente... muitos miseráveis sem comprometimento cuja a vida estava por um fio eram clientes frequentes de seu bar, por sorte ou por azar alguns deles serviriam e eu daria a arma para eles acabarem com resto de suas vidas sozinhos... um trabalho no navio do tão temido capitão Black.
Meu velho amigo Mohamed tinha uma pocilga de estabelecimento, só haviam ratos por ali, exatamente a estirpe que eu procurava mas selecionaria os melhores, passaria um pente fino até achar alguém razoavelmente descente e suportável. Mohamed era de origem mulçumana mas não exercia a religião, seus pais eram mulçumanos mas ele negava veementemente sua origem, a negação era decorrente de traumas de infância que aboliu de sua vida quando maior, mas além disso, ele era um bom homem, justo e sincero, um amigo gentil.
Ele sorriu quando me viu entrar, passou pelo balcão para me cumprimentar com um abraço.
-Meu amigo! Quanto prazer revê-lo. Exultou ele enquanto trocávamos um abraço caloroso, depois ele me convidou para sentar em uma mesa nos fundos, o lugar não tinha mudado muito ainda parecia a mesma taverna antiga medieval de sempre, tinham enfeites como chapéus de vikings e outras coisas como espadas e lanças enferrujadas... ele era mulçumano mas se comportava como um bárbaro... vai entender...
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A Presença
RandomLivro II Bella encontrou seu verdadeiro amor, a metade que lhe faltava e que sem ela sua vida seria uma desilusão emoldurada pela tristeza, com a nova chance de viver a paixão que foi antes interrompida pela morte da moça, onde puderam recomeçar de...