80: Busca pela Verdade

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Bella















-Vamos a igreja Derek quero visitar o túmulo de Ivy e depois iremos ao enterro de Ruth daqui a duas horas. Informei, ele assentiu acompanhando meus passos.
-E Emma... ela está bem? Não fez perguntas sobre o que aconteceu ontem?.
-Ela está muito bem senhora não se preocupe... não fez nenhuma pergunta sobre ontem. Disse ele, eu assenti mas ainda estava preocupada.
-Não é saudável para uma criança presenciar uma cena daquelas... uma pessoa morrendo, isso não pode ser natural para uma criança tão pequena... certas coisas devem ser evitadas a qualquer custo que uma criança veja, marcas podem ficar em sua consciência até em sua alma se não for evitado, imagens como esta em seu subconsciente podem virar pesadelos terríveis mais tarde... nem imagina o poder de absorção que os pequenos tem, pode ser uma experiência traumatizante... se houver algo naquela cena que a perturbe, talvez não agora mas futuramente isso poderá afeta-la de algum modo. Falei, ele abriu a porta do carro para mim e eu fui me sentar do outro lado, ele entrou depois e se sentou a minha frente.
-Imagino que isso possa ser um problema. Disse ele sombrio, e eu tentei justificar como deve ter sido sua infância com suas palavras... pôr quê traumas passou.
-Um problema grave que nem todo caso tem solução. Disse, ele concordou uma vez olhando a janela, eu estava curiosa com sua vida e enquanto o fitava procurei por uma forma de abordagem e exposição do assunto que não deixasse nem a ele e nem a mim desconfortáveis.
-Acredita que algo assim possa influenciar a vida de uma pessoa a longo prazo? Que sua vida na idade adulta tenha quem sabe reflexos de experiências ruins? Até feridas infligidas em sua alma que poderiam influenciar diretamente em traços de sua personalidade que possam vir a ser prejudiciais de algum modo? Coisas que possam altera-lo de alguma forma, possivelmente causar um dano que seja irreversível na vida de um ser humano adulto? Que nem ele, nem ninguém sejam capaz de curar?... acredita senhor Volga?. Perguntei, a psicologia era uma ótimo recurso mas e se eu estivesse sendo muito invasiva? Conviver com alguém como Derek tem sido um desafio contínuo e intrigante, mas porque ele me deixava tão curiosa? uma pergunta direta teria mais chance de uma resposta satisfatória... mas ele poderia escolher não responder ou mudar de assunto.
-Acredito que devamos encontrar uma forma de superação e Emma é boa nisso. Disse ele, eu assenti um pouco decepcionada... esperando que talvez ele pudesse colocar a si mesmo na questão mas ele era um homem... hesitante? Em seus sentimentos, em sua emoções... não sabia dizer ao certo não existiam palavras para qualifica-lo, só o que eu podia fazer era tentar... de qualquer forma, ele não os demostrava, mantinha seus sentimentos e emoções para si talvez por receio ou até mesmo medo? Felizmente pude presenciar uma fissura em suas defesas quando se tratava de Emma... ele não era totalmente imune, irrecuperável, um caso perdido, eu sinto que posso ajudá-lo como sempre ajudei os outros meninos... mas para isso preciso encontrar uma forma de chegar até ele, mas não agora, não posso colocá-lo contra a parede mal nos conhecemos, mas o tempo dirá por si mesmo, quem sabe com o tempo... agora Ruth era mais importante.
-Acha que Ruth é culpada?. Perguntei, ele se virou para mim inclinando a cabeça um vez em minha direção.
-As evidências apontam para ela senhora. Disse-me, eu concordei não negava isso mas acontece que essa pessoa... uma assassina fria e impiedosa não se encaixava na pessoa afável e amável que era Ruth, duas pessoas completamente diferentes... como se tivessem colocado a alma de um demônio no corpo de um anjo, usurpando seu corpo tirando sua alma. E ainda sim a história toda não tinha uma explicação, um porque... o motivo era sombrio, tudo era sombrio... porque ela iria querer tirar minha vida se sinceramente gostava de mim? Não sei como mas naquele último momento, antes de tirar sua própria vida de alguma maneira Ruth estava me salvando porque era minha amiga e me amava como eu a amava... é essa a minha relação com as outras meninas que trabalham na casa, amizade simples e sincera, somente Victória era distante de mim, relutante e evasiva... um pouco fria mas sua personalidade era assim, no início pensei que ela não gostasse de mim talvez até tenha chegado a sentir alguma aversão vinda de seu desprezo gratuito por tudo mas ela matinha todos distantes desse modo e com o tempo concluí que ela era assim... sempre silenciosa e observadora estabelecia pouco contato com quem fosse.
        Mas Ruth ser uma assassina fria e calculista? Isso era absurdo, uma infâmia!... quando Rô me revelou que alguém de dentro estava fazendo isso eu não acreditei, todos eram amigos e se tratavam respeitosamente o companheirismo era admirável, lindo, somos uma família... por isso eu estava nessa busca pela verdade, porque acredito em Ruth, confio em minha família.
-Derek o quanto sabe sobre mim e minha família? Se esteve na Ilha sabe de nossos segredos... de nossos inimigos. Disse, ele olhava em meus olhos, o olhar sábio e vivido... eu queria que alguém apenas me ouvisse e que eu pudesse compartilhar minhas impressões livremente sem ser rechaçada por isso... Derek não acusava Ruth, não diretamente, às provas eram tangíveis tudo o que se podia ver... ou o que queriam que todos enxergassem, tudo bem ela poderia ser a responsável mas ser uma má pessoa era ridículo, não conseguia me libertar da sensação de que algo está errado de que havia outra pessoa por trás... uma mulher, ela como Ruth dissera... alguém poderia estar obrigando Ruth a acatar ordens sombrias de extermínio a qualquer preço, alguém que a avisou sobre onde eu estaria quarta passada, o dia do incêndio.
        A quanto tempo não temos notícias dos manipuladores das trevas?... os seguidores de Dark, a princesa das trevas, filha de magnólia, a rainha que a séculos queria dominar o mundo ao lado de um rei maligno... Dark sim queria minha morte, segundo o que Maria me contara uma vez, Amelie ou Dark como era conhecida queria que eu estivesse morta porque ela amava o Príncipe Sombrio mas seu amor doentio não era por ela era por mim, claro que não tínhamos notícias de seu paradeiro, ela havia desaparecido assim como a corte de seu príncipe, mas ela poderia estar fazendo isso, ela poderia ter possuído o corpo de Ruth... eu teria que falar com Maria para saber mais a respeito, minha babá era uma bruxa, e quem seria mais conhecedor da magia do que uma bruxa? Não tinha mais ninguém que eu pudesse consultar sobre o assunto, precisava saber mais sobre possessão das sombras, uma das artes das Sombras, um termo que aprendera ao ler o livro Sem Nome de couro preto que minha babá me dera para estudar, nunca fui capaz de compreender porque ela queria que eu estudasse sobre magia, eu não tinha tais poderes, era desprovida de magia como qualquer ser humano comum.
-Sei absolutamente tudo sobre a senhora que eu preciso saber para fazer meu trabalho.
-Conhece um vampiro chamado Demétrius? A corte do Príncipe Sombrio? Dark e Magnólia sua mãe... às histórias do mundo da magia?. Perguntei fitando seu rosto sereno.
-Estou a par de tudo senhora. Disse ele, eu assenti... isso era bom, eu podia confiar minhas divagações a ele.
-Ótimo... pense que Demétrius quer me ver morta, isso é um fato, Dark também desejava isso ou esse ainda é um sentimento forte para ela. Disse, ele acompanhava meu raciocínio atento a mim.
-Não acredito que Ruth seja conscientemente capaz de me ferir... mas inconscientemente, sem ter noção e controle de si, como um fantoche manipulado por alguém ela fosse obrigada a fazer o que fez. Disse, ele assentiu algo como surpresa passou por seus olhos mas se extinguiu rapidamente, a compreensão clareou seu olhar.
-Supõe que ela esteja possuída, é isso?. Perguntou, eu assenti olhando em seus olhos... o vi respirar profunda e lentamente fechando os olhos claros por um instante, os cílios longos e escuros.
-Também acredito que tenha sido exatamente isso. Disse ele voltando a se concentrar em meu rosto, eu pisquei perplexa.
-Como?
-Os olhos dela... olhos virados indicam possessão ou sonambulismo. Disse ele severo... o ar escapou por entre meus lábios, surpresa e aliviada que minha teoria tivesse fundamento e que mais alguém partilhava dela.
-Já viu isso antes?. Perguntei, ele fez que sim, eu me inclinei para frente com interesse.
-Como tem tanta certeza que não é sonambulismo e sim possessão? Você afirmou isso. Disse, ele assentiu devagar, ereto, os ombros alinhados, às mãos nas cochas completamente a vontade externamente... imagino se seu interior era tão calmo quanto por fora, livre de crises, sem sofrer um abalo, algo que o perturba-se ao ponto de tirar sua paz como eu tenho vivido esses últimos meses... como ele conseguia? Qual era o segredo?
-Se a criada Ruth não estava envolvida com Demétrius porque motivo ela faria isso? A mensagem no espelho dizia "Ele é meu"... o que ela reclamava que era dela?. Perguntou ele, eu pisquei de novo tinha me esquecido daquilo, ele continuou explorando seu pensamento expondo para mim.
-Minha suspeita inicial é que talvez ela estivesse apaixonada por seu marido, um amor não correspondido, ela não poderia ficar com ele, vendo na senhora um obstáculo que tinha de ser superado... no entanto Ruth não apresentava sinais de que isso fosse possível, mas a mensagem no espelho foi feita por ela... não saberia dizer se ela teria feito aquela ação consciente ou inconscientemente porque não estava presente para ver o ato no momento da ação mas sei que ela não é sonâmbula e então isso nos leva a acreditar que ela estava possuída quando escreveu a tesoura a mensagem. Disse Derek... Ruth apaixonada pelo meu marido? Eu um obstáculo? Não, era impossível... apesar disso, sua teoria não me parecia totalmente descartável.
-Como sabe que ela não era sonâmbula?
-Minha casa porventura é ao lado da que ela morava, Ruth adormecia no sofá a noite e ficava nele até o amanhecer... sei que seria necessário mais algumas semanas de observação para descartar completamente a hipótese do sonambulismo mas tenho certeza de que ela não pegaria no sono no serviço considerando sua personalidade enérgica e ativa. Disse ele, eu o olhava chocada... ele era um bom observador, Ruth nunca parava sempre de um lado a outro pela casa toda trabalhando.
-Sim... mas Ruth não poderia estar apaixonada por meu marido por que estava apaixonada pelo meu irmão Jack, ela me contou isso... eu via os olhos dela sempre que meu irmão estava por perto.
-Sim... também percebi isso. Disse ele, Ruth era tímida e jamais conseguiria dirigir um olhar ou mesmo uma palavra a meu irmão, ela fugia dele, tentava disfarçar mas o sentimento não podia ser ignorado... mas espere um minuto, algo que ele disse sobre saber que Ruth dormia no sofá a noite toda... como ele podia saber dessas coisas a menos que não prega-se o olho a noite toda...
-Espere... para saber se ela era mesmo sonâmbula ou não teria que ficar acordado a noite toda.
-Eu percebo muitas coisas a minha volta há um só tempo e eu não preciso dormir madame. Respondeu ele a minha observação... quem era esse homem? Nesse mundo sobrenatural quem era realmente Derek Volga? Se ele não era um lobisomem, nem um vampiro, nem bruxo o que ele era? Ele estava longe de ser um mortal comum, isso deveria me apavorar porém eu não sentia medo dele... queria entender cada aspecto daquele ser pois em mim sentia que era importante embora não soubesse como explicar porque mas este não era o momento, ainda não.
-E também há mais uma coisa que está me incomodando. Disse a ele e contei-lhe sobre minha observação a respeito dos horários da ação que ele ouviu sem me interromper educadamente.
-Os horários não batem. Disse ele por fim quando terminei de expor meu pensamento.
-Ela não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo porque o garçom disse a Sol que ela passou a manhã toda no café agindo estranhamente.
-Sim... é de fato uma informação importante, isso colocaria mais outra pessoa ouvida na questão como inicialmente a senhorita Lichtenfels pensou, um informante que pode estar atuando secretamente também... alguém que pode ter sido responsável pela depredação e é provável que esteja tentando envenena-la... e é possível que esteja se aproveitando da história de Ruth ser a única culpada para continuar agindo sem levantar suspeitas... até este momento. Disse Derek, eu o olhei grata por tudo... por me ouvir principalmente e sem julgar, ele tinha falado tanto, eu estava admirada... era bom ouvi-lo falar.
-Precisamos ir a casa dos meus pais depois da cerimônia de sepultamento de Ruth... sei exatamente com quem temos que falar... mas obrigada Derek, não sabe o quanto fico aliviada em começar a entender às coisas. Agradeci enquanto ele me ajudava a sair do carro.
-Há muito o que esclarecer ainda nessa história e eu não vou descansar até descobrir, preciso desfazer essa injusta cometida contra Ruth... sei que a lei dos homens diz que ela é culpada e a condena e quanto a isso não há o que eu possa fazer mas vou cuidar para que pelo menos os amigos dela saibam qual é a real verdade não posso permitir que a acusem e apontem o dedo para ela quando ela não está aqui para se defender... não admitirei esse tipo de coisa. Disse enquanto subiamos às escadarias da praça da igreja, Derek e mais um punhado de seguranças me seguiam.
-Derek me permite esclarecer uma coisa?
-Diga senhora. Disse ele, eu assenti lembrando da conversa que tive mais cedo com meu marido... como Adam deu a entender segundo às palavras de Derek que Ruth estava louca, porque ele diria isso se achava outra coisa?
-Porque disse a meu marido que Ruth estava fora de si se na realidade você sabia da verdade? Ele está muito magoado com Ruth.
-O senhor Lichtenfels não me permitiu expor a questão ainda, ele não estava muito satisfeito com o que os policias disseram a ele está manhã e acabou tirando suas próprias conclusões. Disse Derek, conclusões precipitadas, eu assenti olhando seu rosto compassivo.
-Ele estava de mal humor, lamento que tenha descontado no senhor também.
-Ele só se preocupa com a senhora, sua segurança é muito importante para ele... só não quer que a machuquem e descobrir em Ruth um traidor, alguém que deveria ser de total confiança... é natural que o tenha deixado apreensivo. Disse ele, suas palavras foram generosas ao descrever o estado de espírito nuclear do meu marido está manhã, eu também poderia aceitar essa descrição se não julgasse que o comportamento normalmente benévolo da Fera foi extrapolado para um lado intragável, eu parei no meio da praça da igreja para olhar em seus olhos, o dia estava frio, as árvores centenárias se moviam com o vento, meu cabelo e o dele formaram um redemoinho castanho-escuro com a ventania... os demais homens que faziam minha escolta se dispersaram na praça.
-Não, não é... é inaceitável, ele não estava me ouvindo, não parou para ouvir o que eu tinha a dizer pensou com a razão e se esqueceu de ter misericórdia... não vi compaixão nele hoje... agora o senhor parece lidar com isso de outra forma, não aderiu às acusações logo de cara, às questionou, procurou outra explicação em vez de se ater aos fatos, me diga porque senhor Volga... o senhor está aqui só a alguns dias, não teve tanto tempo de convivência conosco com Ruth principalmente. Disse, seus olhos ficaram de um tom de azul mais escuro ao tempo nublado.
-Por mais que os fatos sejam legítimos não devem ser aceitados prontamente... enquanto houverem dúvidas haverá outra explicação, injustiças das mais diversas são cometidas por aceitar provas aparentemente irrefutáveis.
-Sim mas às provas apontam Ruth como a única culpada, porque realmente a legitimidade delas é inquestionável, ela cometeu alguns atos... se o senhor não detive-se conhecimentos que a esta hora o faria se questionar, não teria porque estar ao lado de Ruth, poderia até mesmo compartilhar dos mesmos ressentimentos que os outros sustentam. Disse, Derek ergueu a cabeça para o céu, parecia que iria chover com a densidade e a coloração escura das nuvens, o tempo estava mesmo ruim... sua testa se vincou como a minha, mas seu rosto retornou a mesma calmaria imperturbável mas os olhos... àqueles olhos que tanto lembravam a mim mesma escondiam algo terrível no cerne de sua alma, pobre menino homem a que tragédias viveu?
-Há um perigo na forma plena que alguns sentimentos e emoções se manifestam... um perigo imensurável cujas consequências podem ser fatais se for tratado levianamente, por isso não me prendo a nenhum deles.
-Eu sei... convivo com homens de temperamentos fortes todos os dias senhor Volga quase feras indomáveis... mas como lidar com a raiva? As emoções e os sentimentos? Ninguém pôde controlar a natureza, nem a própria... são forçar irredutíveis... ninguém é capaz de escolher não sentir mas podemos escolher o quão isso pode ser agressivo a si e ao outro... o senhor prefere não sentir então? Como consegue evitar certas coisas?. Perguntei um pouco pálida com sua pequena revelação.
-Devo sentir mas no limiar da emoção procuro esvaziar minha mente da negatividade, tudo que for ruim para mim deve ser descartado ou canalizado para outras coisas que sejam produtivas.
-Porque controlar? Porque se restringir tanto? Entendo que o senhor queira manter o controle não é que eu esteja incentivando uma reação diferente, é bom manter certas coisas que sentimos disciplinadas para não machucar principalmente àqueles que amamos mas o senhor não é lobisomem para ter tudo sob o mais perfeito controle. Disse, ele não disse mais nada por um longo tempo só me olhava profundamente em torpor.
-Não precisa responder Derek, tudo bem. Tranquilizei-o, por um instante ele pareceu perdido, vi o seu medo... ele não queria responder parecia um assunto doloroso para ele mas seus olhos me deram uma pista... uma resposta curta e vaga e que não correspondia principalmente o que eu queria, eu olhei a praça em busca de apoio tentando me recuperar, tentando entender... quando avistei o padre no alto das escadarias de pedra escura de mármore.

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