3: Demétrius

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Traição

Séculos atrás, 1500 DC... o luto.

O lacaio assistia a melancolia de seu Mestre aumentar conforme o tempo passava, sentado em seu trono, o rosto escondido atrás da mão que o cobria encontrava-se profundamente aflito... Demétrius desejou fazer algo por seu mestre, qualquer coisa que o trouxesse de volta... ele subiu os poucos degraus que levavam ao trono colocando-se ao lado de seu Mestre.
-Há algo que possa fazer pelo senhor?. Perguntou ele pronto e disposto para atender suas ordens.
-Não há nada que você possa fazer Demétrius. Pronunciou o Amo às palavras sem vida de maneira lenta, refletia seu estado de espírito... vazio, sem vida.
A condição do Mestre lhe causava transtorno, raiva, uma emoção forte, incontrolável... Demétrius amaldiçoou a existência daquela mulher sobre a terra, a causa de tudo isso, matá-la foi um erro porque então já era tarde, o senhor estava profundamente enfeitiçado pela camponesa, o Mestre não estaria assim se jamais a tivesse conhecido... mas seu esforço fora em vão, mesmo estando morta ela ainda exercia poder sobre ele.
-Meu Amo talvez a morte dela seja uma lição a ser aprendida... ela não merece que esteja em tal sofrimento, não é digna de sua afeição. Disse o lacaio, seu senhor retirou a mão que lhe cobria a face e o encarou... os olhos azuis desolados.
-O maior erro é cometido quando julgamos previamente alguém sem ter um motivo concreto. Disse seu Príncipe, o olhar desviou-se dele amargo refletindo arrependimentos passados, percorrendo a sala a procura de algo que jamais voltaria a encontrar... queria pedir perdão a ela por seus erros mas agora era tarde, ela se foi, se foi para sempre... tornou a olhar o lacaio a raiva de si tornando seu rosto frio.
-Você não sabe de absolutamente nada sobre este assunto Demétrius, não tem direito algum de opinar sobre o que não sabe... este é um assunto que somente diz respeito unicamente a mim e há mais ninguém!. Vociferou, o lacaio recuou, mas a fúria do Amo logo transformou-se em tristeza.
-Aprecio alguns de seus concelhos mas não os dê se não tem o menor conhecimento sobre o assunto, por isso vou esquecer seu atrevimento em achar que poderia me fazer sentir melhor com qualquer coisa que tenha a me dizer... mas nada fará com que eu me sinta minimamente melhor agora, só existe uma pessoa que seria capaz de apaziguar meu espírito... e ela não está mais aqui. Disse o Amo tornando a cobrir o rosto com a mão inconsolável, Demétrius assentiu embora não concordasse com o Amo que vagou mais uma vez para os recônditos de suas lembranças mais felizes... nos primórdios da existência, em um tempo pregresso quando a viu sorrir pela primeira vez para ele envolta pela luz serena de uma manhã em um lugar distante da dor e do sofrimento.
-Ela voltará Heylel... mas ela nunca poderá pertencer a você. Profetizou um intruso, o Amo ergueu o olhar para o sábio que adentrara o salão... o lacaio ficou surpreso com a impertinência do intruso ao dirigir-se a seu Mestre.
-Quem é você e como conseguiu invadir meu palácio?. Perguntou o Amo, Demétrius esperava mais da ira de seu senhor, que expulsa-se o invasor com todo o peso de sua raiva ou retribuisse o atrevimento com o pior dos castigos. O estranho invasor vestia-se com trajes puidos, desgastados e velhos como um andarilho desafortunado... o rosto escondido na sombra de um capuz.
-Ela voltará algum dia, será a mesma de sempre, como sempre foi. Anunciou o sábio invasor com sua voz inigualável que continha o poder de tocar a alma de qualquer ser, a voz suave e altiva denunciava anos de sabedoria. O Príncipe Sombrio levantou-se de seu trono preso pelas palavras do sábio... "Ela voltará algum dia", a esperança aqueceu sua alma escurecida pelo mal, agarrando-se a ela com se estivesse a beira de um precipício.
-Como... como pode saber?. Perguntou o Príncipe avaliando o estranho, ele não respondeu sua pergunta a princípio em vez disso andou pelo salão escurecido em silêncio e sem revelar seu rosto.
-Um pastor acorda cedo para guiar sua ovelhas ao melhor pasto, uma mãe levanta-se antes de seus filhos para lhes dar o que comer antes da aula, um cão doméstico arranha a porta e seu dono a abre para que ele possa sair porque é preciso, seria o mesmo se me fizesse uma pergunta diferente, você saberia a resposta porque é a mesma. Disse o sábio, Demétrius entendeu porque seu Mestre não fizera nada contra o homem até aquele momento... aquela notícia embora fossem péssimas para ele tinha significado para o mestre, e percebeu que seu romance era mais que uma aventura passageira, suspeitou que fosse algo mais antigo.
-Nada é por acaso, tudo é preciso... meu pai dizia isso. Refletiu o Príncipe relembrando de alguém que a muito não via porque pensava que estivesse morto, havia desaparecido a tempo que o consideraram-no como morto.
-Mas sua alma pertence a outra, seu destinado foi traçado a muitos anos e você estava lá quando foi escrito, não há espaço para você na vida dela, esqueça-a para sempre antes que seja tarde... já se esqueceu de quem ela é e quem já foi no passado? Sua alma sempre esteve destinada a grandes coisas, a um propósito maior... ela voltará algum dia e deste dia em diante seu destino se cumprirá conforme está escrito. Disse o invasor desaparecendo nas sombras, o Amo piscou refletindo, alguém o fazia lembrar aquele velho sábio...

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