99: Demétrius

7 2 0
                                    

Um inimigo à espreita.














       Em algum lugar em uma dimensão sombria na magnificência de um palácio antigo erguido pelo sofrimento de almas escravas, concebido em meio às trevas, nas sombras de uma sala escura o Soberano daquele lugar sombrio se sentava a frente de uma lareira fitando o fogo como se ele revelasse seus segredos... os olhos de gelo queimando às chamas flamejantes, seu semblante impassível demonstrava toda sua decepção e ódio, seu servo infiel aproximou-se respeitosamente do encosto da poltrona escura como todo o salão onde seu Amo repousa, sem encara-lo de frente não apenas por respeito por que temia que o Amo lê-se em seus olhos às mentiras e traições encobertas por seus pecados mais infames, nenhum ser sendo mortal ou imortal tinha a coragem para fita-lo nos olhos agora, tamanha era sua austeridade, o servo submisso embora fosse incapaz de sentir algo o temia não ousando encara-lo, todos entre o céu e o inferno o temiam.
       Seu rosto iluminado pelas chamas era tão sombrio quanto o aposento que ali se encontrava, o rosto pálido de um arcanjo que um dia não obstante contemplara o divino na casa do Senhor, criador de tudo que há na vastidão do universo portanto seu Pai, o Pai Celestial... diversas vezes seu filho sombrio recordava-se de sua bondade em momentos de meditação, da luz que emanava Dele, o rancor após a Queda... o ressentimento pela perda de algo, imensamente valioso, insubstituível dado por seu Pai a um terreno, uma traição inominável... ainda continuou vivo como a chama acesa que queima infinita na lareira, a revolta, a decepção com o Criador seu próprio Pai, o ser que lhe deu a mais brilhante luz, decepcionado frequentemente seu espírito endurecido permeado pela obscuridade que possuiu sua alma alimentava o desejo de poder reivindicar seus direitos e tudo que lhe foi tomado... mas nesse instante sua mente ardilosa nutria um desejo sombrio, punitivo... a desconfiança era um caminho turvo onde tudo se suspeita. Ele não estava satisfeito com o servo que durante eras lhe servira sem hesitações, acatando a todas às suas ordens e adorando-o como um astro, uma divindade suprema... mas agora ele parecia negligenciar seu dever de forma proposital, premeditada.
-Você me decepcionou outra vez Demétrius. Disse o Amo, a voz grave ecoou entre às paredes do salão, o fogo queimava sem lenha, era uma chama acesa, surgida do nada, um fogo diferente de onde se podia extrair certas mensagens transmitidas de toda parte por seus espiões, dessa forma o Príncipe Sombrio sabia de tudo, seus olhos variam o universo, estavam por toda parte, onipotente na escuridão seu poder era vasto mas só não era maior que Deus.... não haviam muitas formas de engana-lo, o servo sabia disso, manter oculto certas coisas, esconder segredos de alguém que enxerga tudo era uma tarefa que demandava esforço, extremada, difícil aos extremos.
-Meu senhor... Mestre. Começou o servo, Demétrius tentou em vão ocultar o retorno da Escolhida a terra até conseguir persuadir seu Mestre do erro que poderia cometer mas não estava em suas mãos o poder para enfrentar alguém com o poder e as possibilidades de um deus, ele não entendia porque seu Mestre desejava tanto a garota humana, fraca, um atraso em sua vida... o Mestre ergueu a mão para que o servo parasse, estava farto de ouvir mais uma desculpa e especialmente intrigado com a demora e negligência do servo, especialmente intrigado com o que a chama não queria revelar enquanto ele procura pelos caminhos sombrios os passos de seu servo mais estimado somem, ele está ocultado de sua visão, o Mestre sabia que escondia algo, a confiança foi abalada e poderia ser perdida para sempre.
-Aproxime-se diante de mim. Ordenou, o servo se pôs a sua frente de cabeça baixa, o Amo o fitou com seus olhos de gelo.
-Você não está empenhado o bastante para conseguir me satisfazer, o que peço não é algo impossível de se conseguir... estou cansado de notícias vazias, de promessas vãs... sobretudo Demétrius estou cansado de suas explicações... elas não justificam sua incompetência, não me servem de nada. A voz do Mestre era musical, um canto que nem todos tem o privilégio de ouvir, o fogo iluminava a gravidade suas feições pálidas, belo, sem imperfeições... como se aquele rosto não fosse capaz de verter a maldade mas às aparências enganam, são os piores meios para se descobrir a verdade, a pacifidade daquele rosto era um mal sinal, o servo o fitava com hesitação buscando uma interpretação mas seu Amo apenas o encarava, o olhar letal... isso era ruim, se por acaso ele descobrisse seus planos seriam detidos mas pior do que isso seria a condenação por tanto... precisava ganhar mais tempo.
-Senhor o que quer que eu faça? Qual é o vosso desejo? Eu o atenderei...
-Você sabe muito bem qual é o meu desejo. Disse o Mestre, o servo abaixou a cabeça... o Amo o olhava com um olhar capaz de violar a carne e atravessar a alma, vendo seus pecados.
-Mestre creio que seu pedido não está ao nosso alcance... como bem sabe ela não está entre nós. Disse o servo, a ira de seu senhor foi súbita e recaiu sobre ele em um tom feroz.
-BASTA! Há anos ouço às mesmas palavras! Você anda contando mentiras para mim a muito tempo, não ouse me enganar. Disse o Príncipe, o servo ergueu a cabeça com aflição.
-Eu jamais...!
-NÃO MINTA MAIS PARA MIM. Irou-se o Príncipe, o fogo se retraiu na lareira diminuindo mudando de cor mais avermelhada como se reagisse a ira do Mestre, o silêncio se abateu sobre a sala que ficou mais sombria quase na escuridão e fria como se a própria morte estivesse ali... esperando. Demétrius permaneceu imóvel silenciado pela reprimenda.
-Minha confiança em suas capacidades era até então algo de que eu não podia duvidar mas minha paciência esmorece a cada dia com o desgosto que me causa... serei mais firme desta vez, não admito mais erros de sua parte agora... se não conseguir o que quero Demétrius minha confiança em vós estará ameaçada e quando perda-la completamente me canserei de vós também e isto é de longe o seu maior problema no momento!... não tente me enganar, poupe-me de sua bajulação na tentativa de me agradar, ouça-me não falhe novamente pois não acredito que incompetência seja seu problema e não quero pensar Demétrius... não me faça ser severo com você, sua preocupação nesse instante deve ser priorizada naquilo que almejo e nada mais do contrário... se falhar não hesitarei em puni-lo e serei implacável... você sabe que o Senhor do céu é o deus da compaixão mas eu sou o deus da punição essa é a maneira como governo em meus domínios... não queira me testar Demétrius, cansei dos seus joguinhos e suas mentiras!. Disse o Amo, ele parou e o fitou com maior severidade.
-Além do mais eu sei que ela está viva por aí em alguma parte do mundo, só Deus sabe onde e eu não! E isto é intolerável!... estou lhe dando uma última chance de se redimir Demétrius, a única chance... conheço você o bastante para saber que não hesitaria em me trair, acaso esqueceu-se de quem traiu a confiança no passado?
-Não meu senhor. Respondeu ele se retraindo, o Amo o encarou friamente.
-Eu não sou seu antigo Mestre que era bom e gentil com todos e que o perdoou pelo que fez... acaso também esqueceu-se de quem eu sou?. Perguntou, Demétrius apenas balançou a cabeça.
-Ótimo... agora de retire e não retorne até que tenha algo de concreto a me dizer.
-Sim Alteza. Disse o servo, o Amo o dispensou com um gesto impaciente... a voz fria e descontente de seu Mestre o fez parar, o medo o paralisou por uma fração de segundo e antes de ir estas palavras o acompanharam...
-Não me desaponte novamente Demétrius porque será a última vez.

A Presença Onde histórias criam vida. Descubra agora