98: Terror Noturno

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Bella












          Despertei no meio da noite com o choro de uma criança, ouvi seu choro distante chamando por mim enquanto andava pela penumbra da mansão fria e escura, o bebê estava chorando, ele precisava de mim... andei até chegar ao quarto banhado pelas sombras, eu estava feliz, me sentia incondicionalmente feliz e a alegria se devia ao meu pequeno milagre, meu filho, meu lindo bebê...
         Continuei a andar até chegar ao berço o sorriso que trazia em meu rosto se desfez ao perceber que estava vazio, peguei o cobertor macio e o abracei, ele não estava lá, meu bebê não está aqui, onde está meu bebê?... olhei o quarto soturno e frio em desespero a cada instante afundando mais e mais em algum lugar hostil e privado de luz, a sensação era como se um buraco tivesse sido aberto debaixo dos meus pés, a queda em um abismo infinito e profundamente tomado pela dor e escuridão, um mundo desolador, uma dimensão sombria caindo eternamente no vazio sem fim, era essa a sensação, um vazio se abria em meu peito quando em minha busca desesperada vi a porta, havia alguma coisa ali no corredor misturando-se às sombras da noite, só via um queixo alvo e lábios vermelhos repuxados em um sorriso perverso, uma mulher de manto negro, o tecido escuro do manto se fundia com às sombras da noite, sua figura parecia ainda mais etérea com aquele manto escuro como se fizesse parte das sombras... ela virou em minha direção, trazia algo nos braços enrolado em uma manta escura, eu me senti fraca quando soube o que era ouvindo seu choro baixo nos braços estranhos que o envolvia...
-Nunca mais tornará a vê-lo. Diz ela, a voz se tornando distante enquanto ela se afasta para longe sendo engolida pela escuridão, e é assim que o sonho termina, a mulher sinistra desaparece, eu saio a sua procura, ela está com meu bebê mas não consigo alcança-la na escuridão e quando percebo que ela se foi para sempre suas palavras me mantém presa ao horror indescritível eu finalmente me entrego ao desespero afundando cada vez mais no chão laminado e naquele vazio sem fim... esse é o sonho, esse é meu medo, e é aí que eu acordo diante do terror noturno aos prantos levando a mão a barriga quando sinto que ele está aqui, comigo, protegido em meu ventre me sinto instantaneamente melhor ainda que o terror do pesadelo envolva minha mente... Adam, meu marido, me abraça nesses momentos de pânico.
-O sonho de novo?. Perguntou ele baixinho, assenti choramingando baixinho em seu pescoço, um lamento dolorido, uma dor que nem se quer comecei a senti-la, mas que me arrasaria se chegasse a acontecer de verdade, se o sonho ruim se tornar real...
-Tudo bem, tudo bem... isso não vai acontecer, eu não vou deixar. Entoou ele em meu ouvido na esperança de que possa me acalmar, mas não conseguiria esquecer... o sonho é o reflexo do meu medo mais profundo.
       A criança é levada de mim e eu me perco para sempre no poço sombrio da dor, revivendo o horror contínuo do vazio...

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