46: O Retorno de Charlie

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  Bella





       Eu corri até meu visitante tão esperado e me atirei em seus braços, o abracei em um ímpeto com a força da emoção que possuo depois me afastei de repente para olha-lo, olhar aquele rosto, eu tive que erguer a cabeça ao máximo para isso... Charlie está tão alto e grande, imenso, comecei a toca-lo... seu rosto, seus ombros largos, a faixa de músculos do peitoral esculpido sobre a camisa... esse não é meu irmãozinho, o que fizeram com ele?
-Eu sei... ainda me assusto um pouco quando me olho no espelho mas não sou o único que está diferente também. Disse ele tocando meu rosto e afastando-se para me olhar... ele tocou minha barriga, a testa franzida... percebendo o que era, os olhos voam para meu rosto de perplexidade.
-Você vai ser mamãe?. Perguntou ele chocado... eu assenti em meio as lágrimas emocionada pelo retorno de Charlie.
-Eu vou ser titio?. Perguntou emocionado, eu assenti novamente, não conseguia encontrar palavras para o que estava sentindo... ele estava aqui.
-Não posso acreditar... Bella, meus parabéns minha irmã... isso é lindo. Disse ele abraçando-me, aí então eu comecei a chorar de verdade.
-Você está aqui mas como?. Sussurrei em sei peito enquanto ele me envolvia com seus braços longos e fortes... antes em um passado não tão distante, eu o envolvia em meus braços, ele não chegava a meu queixo... agora seu queixo pousa no topo da minha cabeça enquanto ele me abraçava... mais uma vez me surpreendo, ele está tão alto! Toquei seu rosto como se a muito tempo não tivesse experimentado aquela sensação de alívio... sem conseguir me acostumar com a diferença, ainda com espanto... ele está mesmo aqui comigo?... seriam necessários uma dezena de anos para que eu me acostuma-se com ele já tão crescido, pareceria mais real se eu tivesse acompanhado toda aquela mudança... mas ele está aqui, não é um sonho ou uma ilusão qualquer das que tive em minha mente com sua chegada... se notaria alguma coisa, se ele continuaria o mesmo mas fisicamente ele está tão mudado... tão... forte, porém é ele mesmo... eu sempre soube que por mais que a aparência não fosse a mesma, os olhos seriam os mesmos... os mesmos inocentes olhos verdes intensificados pela transformação, tem um fulgor selvagem como os brilhantes olhos de um gato, como pedras preciosas, duas esmeraldas brilhantes... eu confiaria em seu olhar.
-Fui liberado a uma semana por bom comportamento, minha pena foi cumprida... tive alta seja lá como quiser chamar isso não muda o fato de que eu sou um homem livre... estou de volta, cheguei ontem a noite na cidade. Disse ele, eu ainda o fitava perplexa e encantada.
-Já foi ver o papai e a mamãe?. Perguntei imaginando como eles ficariam quando o vissem... como reagiriam a aquilo tudo.
-Sim... eu dormi em casa, Maria foi muito gentil... nunca comi tanto em toda a minha vida, eu realmente estava com saudades dela... de todos vocês. Disse ele, toquei seu rosto com a mão trêmula... eram tantas emoções juntas, depois de tanta espera, finalmente... estamos juntos, mas a sensação de completude não era completa claro, Alfred fazia uma grande falta... mas ver meu irmão certamente me trouxera uma paz que não sentia a algum tempo, vê-lo bem me deixou bastante feliz, como se as sombras fossem dissipadas e um raio de sol tivesse irrompido pelas nuvens escuras, uma esperança de que um dia ruim passasse e que pudesse tornar a ver o sol brilhar sobre esta terra desolada, eu percebi enquanto o olhava que precisava daquilo, precisava de uma notícia boa.
-Nós também estávamos ansiosos por revê-lo Charlie seja bem-vindo de volta. Rô se aproximou e eu percebi que eles ainda não tinham sido apresentados, fora Nicolay o encarregado de levar Charlie até a Ilha.
-Rosemary este é meu irmão Charlie... Charlie esta é Rô irmã de Adam, meu marido. Apresentei-os, Rô acenou e estendeu a mão.
-Como vai Charlie?. Perguntou ela afável, Charlie sorriu apertando a mão dela com seu olhar carinhoso.
-Estou muito bem sim obrigado, senhorita. Disse Charlie, nesse momento Rita Maldonado ou Tita como preferia irrompeu porta adentro passando por Charlie com uma caixa enorme nas mãos, nem se deu conta de sua presença... eu sabia que ela ainda não tinha se encontrado com Charlie porque ela morava com Jack no centro, em uma das casas modernas e bem mobiliadas destinadas a habitação dos funcionários. Jack e ela partilhavam o imóvel, era difícil imaginar os dois convivendo debaixo do mesmo teto sozinhos mas parecia ter dado certo para os dois de algum modo... se nenhuma guerra foi declarada ainda acho que podia dizer que se tornaram amigos.
-Desculpinha... com licença, você grandão segura isso aqui. Disse Tita despejando a caixa nas mãos de Charlie.
-Sabe o que é subir quatro andares com essa tralha toda nas mãos? Isso acaba com qualquer um... sedentário ou não... estou morta. Disse ela atirando-se na imensa cama branca do quarto de Rosemary.
-Oi também Tita é um prazer revê-la. Disse Charlie, Tita olhou para ele e piscou franzindo a testa.
-Ela ainda não viu você?. Perguntei, Charlie assentiu, ela se levantou da cama para olha-lo mais de perto, avaliando cada ângulo.
-Desculpe... nos conhecemos de algum lugar? De repente daquele lugar que fomos no ano passado Rô se lembra?.
-Onde fomos... seria difícil reconhecer qualquer um na Palestina mas não... não é de lá que o conhecemos. Disse Rô sorrindo deliciada com aparente confusão de Tita, ela virou para Charlie, os olhos estreitos.
-Hmm... já sei! Você estava naquele desfile de moda em Paris!, é modelo. Disse Tita, Charlie apertou os lábios para não rir mas sorriu com ternura.
-Eu não sou modelo. Disse ele, Tita estava a dois centímetros do peito dele o olhando de baixo.
-Espera um pouco... Ah!. Gritou ela, eu ri vendo o esclarecimento em seus olhos.
-Charlie?! Não!. Gritou Tita, eu me encostei na porta enquanto os dois se abraçavam em meio a pulinhos de alegria sentindo-me extasiada quando braços me envolveram ternamente por trás cruzando as mãos sobre a minha barriga... ele beijou meu pescoço.
-Você sabia que ele chegaria e não me contou. Acusei adivinhando seus planos tardiamente pelas minhas costas, Adam sorriu e me beijou, pousei as mãos sobre as dele.
-Claro... eu recebi os resultados de Charlie do laboratório por e-mail com a petição para sua saída... avaliei o laudo e achei que ele não precisaria mais continuar na Ilha se já estava tão bem, ele é um garoto notável, estou admirado que tenha conseguido tão bons resultados em tão pouco tempo de reabilitação... foi ideia dele fazer a surpresa, o que por um lado me deixou aliviado... não queria que sofresse por antecipação, pode fazer mal ao bebê. Disse ele em meu ouvido, estreitei o olhar, não acredito que ele fez isso comigo...
-E me fazer ter um ataque é mesmo um bom plano... muito saudável para a criança... ele quase saltou para fora junto com meu coração... devo parabeniza-lo por isso?. Perguntei com sarcasmo, ele me olhou assustado... Ah por favor, ele estava levando a sério, surtando.
-O quê? Se estiver se sentido mal talvez seja melhor consultar...
-Não Adam por favor... só foi uma brincadeira, o que eu quis dizer é que deveria ter me contado. Falei seriamente, ele riu aliviado e me envolveu com um beijo.
-Não sei porque eu estou sendo culpado aqui... não fui eu que tive a ideia de manter discrição... só contribui com o sigilo. Sussurrou ele em meus lábios.
-Você está sufocando ela Adam... por favor ela está grávida Deus do céu e não a ponto de morrer. Disse Rô abismada, ele poderia escuta-la mais vezes, ela tinha razão.
-Eu venho dizendo isso a ele... mas ele não me ouve. Disse, Rô assentiu fitando o irmão balançando a cabeça em desaprovação, Adam tentou se defender.
-Só estou agindo...
-Não... você está exagerando e sabe disso. Disse Rô, Adam suspirou.
-Realmente não há maneira de discutir com você Rosemary e eu não vou.
-Ela está certa, não é Tita?. Perguntei, Tita ergueu as mãos como quem diz "Não me coloque no meio disso".
-Ei... eu não quero entrar na DR. Disse ela, eu suspirei e ri e estendi as mãos para Charlie.
-Venha querido... deixe-me abraça-lo outra vez, senti tanta saudade sua meu irmãozinho. Falei, Charlie veio até mim e beijou minhas mãos, não conseguia parar de olhar para ele.
-Esse tempo todo... devo tê-la preocupado demais, sinto muito, mas devia saber que eu estaria bem de qualquer forma... não foi ruim, foi muito bom para mim, eu me sinto tão bem e ainda mais agora que estamos juntos outra vez. Disse Charlie, eu olhei seu olhar terno e impossivelmente difícil de não sentir aflição ao encontrar aqueles olhos inquietantes, a comoção era inevitável, especialmente no meu caso.
-Eu lhe disse que faria bem a ele mas você não quis me dar ouvidos minha senhora. Disse Adam, as mãos pousadas em meus ombros atrás de mim, eu ri enquanto chorava.
-Tudo bem aproveitem o quanto podem... mas eu não vou ficar sentimental assim por muito tempo... vamos almoçar e enquanto isso me conte tudo. Pedi a Charlie enquanto saíamos do quarto de Rô, Adam a meu lado envolvendo minha cintura enquanto eu segurava a mão de meu irmão Charlie, Tita e Rosemary conversavam logo atrás sobre a próxima viajem que fariam no meio do ano, alguma coisa envolvendo um safári na selva africana, no caminho para a sala de jantar encontramos Jack... eu sabia que ele não tinha encontrado Charlie ainda, Jack e Tita moravam juntos e então era provável que ele ainda não tinha se encontrado com nosso irmão caçula, eles mal iam até a casa dos meus pais com o trabalho e a vida agitada dos dois, não tinham tempo para isso.
-Outro guarda-costas irmãzinha?. Zombou ele em tom debochado, ele olhou minha mão e a de Charlie unidas.
-Adotou esse também? Os outros garotos vão ficar chateados. Disse Jack, Charlie riu o encarando mais de perto beijando e soltando minha mão.
-Ah qual é... só porque estou mais alto que você velho Jack?. Perguntou Charlie, Jack piscou olhando melhor.
-Charlie...? Não pode ser... é você cara?. Perguntou Jack com assombro... Charlie o puxou para um abraço surpresa dando tampas fortes em suas costas... mostrando que ele estava um pouco mais forte do que Jack eu acho.
-Como vai meu irmão?. Perguntou Charlie, Jack o fitou tão surpreso quanto eu.
-Ah eu estou ótimo... mas e você? Quando chegou? Mas isso merece uma comemoração... espere nossos pais já sabem?. Perguntou ele, eu tive que interromper lembrando de um compromisso importante com a construtora responsável pelo projeto do estádio na cidade, a obra foi atrasada e consequentemente a inauguração também, eu acompanharia Adam a reunião... olhei de Jack para meu marido.
-Nossos pais já sabem que Charlie está aqui Jack... você foi o último a receber a novidade... quanto a comemoração, não sei se teremos tempo... a reunião com o pessoal da WMC está marcada para hoje as sete em Seattle, temos que pegar o avião... e...
-Na verdade você pode ficar aqui querida, a viajem é um tanto longa demais, exaustiva, acho que deveria aproveitar esse tempo em que ficarei fora em companhia de seu irmão... imagino que tenham muito o que conversar. Disse Adam interrompendo-me, Jack convidou Charlie para ir na frente com as meninas enquanto Adam e eu entrávamos no nosso quarto... era a primeira vez que ele viajaria sem mim depois que nos casamos, eu o olhei preocupada.
-Tem certeza de que não é mesmo necessário que eu vá?. Perguntei pegando sua pasta e verificando a documentação enquanto ele vestia o blazer.
-Tenho... além do mais não ficarei fora por muito tempo, não vai levar mais do que um dia mas de qualquer forma vou ter que passar a noite em Nova York... preciso ver Leon... não quero fazê-la se cansar tanto, fique e não se preocupe, voltarei amanhã a noite. Disse Adam enquanto eu arrumava sua gravata.
-Está bem então eu vou fazer uma reserva em um hotel para você, mando o endereço por e-mail... já que diz que não a problema mas estarei com o celular em mãos... ligue quando precisar, eu te amo. Falei entregando sua pasta, ele me beijou.
-E eu também amo vocês... terei um ótimo motivo para querer voltar logo ou melhor dois. Disse ele tocando minha barriga.
-Vai ficar bem mesmo sem mim?. Perguntei, ele riu.
-Eu posso sobreviver por algum tempo... você sabe como essas reuniões de negócios são chatas mas não é algo que eu não possa suportar... está tudo bem.
-Vamos sentir saudades. Acrescentei no plural para que ele soubesse que estaríamos esperando por ele, o bebê e eu... Adam acariciou meu rosto e a barriga outra vez.
-Eu também. Disse ele, eu o acompanhei até a porta, ele me beijou demorando-se um momento em meus lábios naquele início de tarde nublado e escuro e depois desceu a escadaria rapidamente, entrou no carro que o levaria a pista particular, acenei enquanto ele partia.
-Ele costuma viajar muito sozinho?. Perguntou Charlie aparecendo a meu lado envolvendo minha cintura.
-Sozinho não... eu sempre vou com ele.
-Não precisa ficar só porque eu estou aqui... pode ir, temos muito tempo ainda. Disse ele... olhei seu rosto, sempre tão amável, eu não estava preocupada com Adam apesar de ele ter dito que encontraria o chefe da segurança, Leon... o que será que Adam queria com ele? Eu sabia que era Nicolay e os outros do clã que estavam cuidando das investigações, mas porque Adam queria falar com Leon? Teria ele mudado de ideia e aceitado a participação de Leon? As coisas estavam tão sérias assim? Descontroladas ao ponto de Nicolay e os outros não darem conta? Meu Deus o que será que está acontecendo? Eu teria de esperar Adam voltar para saber afinal notícias ruins são as primeiras que chegam e ele estava tão calmo sinal de que estava tudo bem, ele não estaria tão tranquilo se não estivesse, conclui que era melhor esperar.
-Está tudo bem Charlie... estou fazendo tempestade em copo d'água é a gravidez que me deixa mais sensível.
-Me conte... pelo que ouvi no internato - Ele franziu o cenho- Há uma história por trás... você e ele... eu não sei se entendo muito bem esse lance que vocês têm. Disse ele olhando o carro de Adam desaparecer a esquerda depois do portão, eu ri escolhendo palavras que pudessem explicar o que nós tínhamos... na época Charlie foi embora tão depressa que não tive tempo de explicar nossa situação a ele.
-É complicado a primeira vista é sim. Falei regressando às águas passadas fechando os olhos por um instante e depois me virei para meu irmão.
-Tudo foi tão rápido quando você partiu que nem tive a chance de explicar eu mesma como aconteceu... você acordou e eu estava...
-Casada e eu tinha virado um monstrinho, quanta mudança. Suspirou ele quase cansado, eu assenti olhando seus olhos entre o terno e o selvagem.
-É mesmo não é? Quanta mudança. Disse olhando a minha volta... agora ali era a minha casa, não era mais o lar de senhor solitário que vivia dentre suas dependências, enclausurado observador da vida a seu redor, eu me casei com esse homem e agora ao seu lado ele fizera de sua morada a minha.
-Mas você está feliz? Digo... para mim não me importa realmente saber como foi que aconteceu, só quero saber se está feliz... eu ficaria mais tranquilo se soubesse... se ouvisse de você. Disse Charlie, eu peguei sua mão, colocando minha palma na sua, minha mão era tão pequena em comparação... antes era o contrário.
-Eu não posso dizer que sou a pessoa mais infeliz do mundo porque não sou... estou feliz, não a mais feliz porque felicidade dentre muitas coisas não se compara mas eu estou imensamente feliz e em paz apesar das circunstâncias. Disse isso sabendo que uma parte de mim reclamava que não era cem por cento essa a verdade... uma parte se devia a Alfred e a outra a aproximação do sombrio, sentia isso também embora fosse algo que grande parte de mim rejeita com veemência... a possibilidade de que tudo pudesse acabar, que este mundo que conheço talvez viesse a perecer ou até mesmo a desaparecer segundo palavras de Clarie que ecoavam em minha mente desde então, palavras de tanto tempo... esse era um medo que eu deveria sentir mas minha recusa era patente... não, eu não podia pensar dessa forma, a luz prevalece e a amanhã não será diferente.
-Isso é ótimo... eu fico feliz se você estiver também. Disse Charlie tirando-me do caminho do precipício para o qual seguia, não pensaria mais dessa maneira, sempre há esperança não podia deixar minha fé abalar desse jeito, tudo está bem agora, meu irmão está de volta e é somente o que importa... os devaneios de perigos podiam ficar no canto por enquanto.
-Não imagina o quanto me alegra saber que para você tudo bem mas então... está me devendo muitos relatos incríveis... como foi sua temporada de férias na Ilha?. Perguntei, ele sorriu e suspirou apertando minha mão.
-As ilhas são bem escondidas por um portal invisível que muda de lugar, não a acesso ou saída por outro meio, é uma dimensão paralela, as Ilhas não estão exatamente nesse mundo por isso é difícil localiza-las... a entrada é protegida por magia, a passagem pode aparecer em qualquer lugar e só abre por apenas poucos minutos, os que entram sem saber se perdem e podem acabar morrendo por causa do labirinto de rochedos em meio a um nevoeiro denso... é impossível enxergar mas os que conseguiram chegar a praia com vida fizeram das Ilhas o seu lar, exploradores a cerca de setecentos anos em busca de novas terras onde pudessem viver em paz encontraram a passagem por acaso e conseguiram chegar até a Ilha onde refizeram seus reinos, parece que eles foram expulsos de sua terra natal algo assim... o capitão é quem sabe como chegar... ele sabe o segredo para entrar no domínio das Três Irmãs, é ele quem transporta os novatos pela passagem inclusive alguns dos mantimentos que não são produzidos na Ilha. Disse Charlie, o olhei intrigada conduzindo-o até o pé da escada onde nos sentamos nos primeiros degraus enquanto tentava imaginar como devia ser isso... dimensão paralela, passagem que muda de lugar...?
-Passagem?
-Se você a procura-se em um mapa certamente não acharia Bella... como eu disse as ilhas estão em uma dimensão paralela, em outra realidade... se você visse o que eu vi pensaria que estava louca... mas é tudo real é como em Percy Jackson e o Mar de monstros, tem coisas naquelas águas que... são impossíveis... mas todas aquelas coisas existem, é como quando eu descobri o que era é... surreal. Disse ele fascinado, olhei seu rosto de repente vendo o garotinho de antes em seus olhos com sua curiosidade infantil intacta.
-Está se referindo a magia?
-Já sabia?. Ele me olhou intrigado.
-Eu passei a sua frente há alguns anos... então a Ilha é realmente mágica?. Perguntei recordando sobre Adam dizer ainda que fosse de uma maneira diferente e eu houvesse interpretado de outra forma... claro que naquela época eu não sabia sobre essas coisas, ainda que ecos do sombrio perseguissem meus pensamentos quando me foi revelado algo do meu passado distante de séculos atrás, eu só temia a aproximação do vampiro, o demônio que incansavelmente procurava por mim, e ainda sim eu ainda não entendia quando Adam dissera que era difícil não ver magia ali... mas pensava que ele se referisse ao amor e não a magia propriamente dita, ou talvez ele se referisse aos dois... então como deveria ter sido? Um Reino encantado? Em meus sonhos passados eu sempre acordava sozinha em uma cidade fantasma da floresta das estações, haviam os vagalumes... as fadas, pontinhos de luz azulada que me guiavam pelos caminhos, mas não era só isso, Clarie me mostrara apenas uma pequeníssima parte de um passado mágico que vivi na Ilha... tinha muito mais, eu sabia que tinha, estava em mim... coisas inimagináveis que assim como enfeitiçaram meu querido irmão também me fascinaram.
-Sim... eu me senti como em um retiro em monastério dedicado a encontrar a paz interior, a sarar todas as feridas da alma... a disciplinar nossas emoções antes que o monstro as use a seu favor... alguns não vêem dessa maneira, pensam que é uma prisão e esse pensamento os aprisiona dentro de si mesmos e continuam no escuro... se eles ao menos enxergassem um terço de como eu vejo as coisas muitos deles também estariam livres dessa, mas o pessimismo os mantêm onde estão, aprisionados. Disse ele deixando seus pensamentos fluirem com tristeza.
-O que você fazia lá?
-Os treinos eram principalmente cansativos mas eram essenciais para que o esforço vale-se a pena... eu vejo mais ou menos como a preparação que os soldados recebem para resistirem a suas missões embora nunca tenha vivido algo parecido mas eu tomo os filmes como um indicativo visual... porém eu também não posso comparar um humano com a criatura que sou, nossas habilidades diferem umas das outras por sermos mais resistentes e aprimorados em nossos sentidos e capacidades. Disse ele, eu toquei seu rosto.
-Deve ter sido tão difícil para você.
-Fisicamente não foi um problema. Disse ele com um sorriso satisfeito.
-Esta bem máquina mortífera. Falei, ele riu e seu rosto ficou um pouco mais severo quase cansado.
-Mas não poderia dizer o mesmo do outro lado... a parte complicada de dominar... talvez sua preocupação fosse porque eu era novo demais, e ainda sou... existem coisas nessa nova vida que pensei que não poderia suportar sozinho, cheguei a achar que não conseguiria mas eu não estava completamente só... eu tive amigos para passar por essa fase de minha nova existência neste mundo. Disse ele, meu coração se apertou no peito enquanto olhava seu rosto.
-Ajudaria se eu estivesse estado lá? Com você?.
-Você se preocupa demais... e olha que eu não sou nem seu filho. Ele fez uma careta e depois sorriu.
-Você sabe que não faz diferença, eu posso ser sua irmã mas nunca deixarei de me preocupar com você Charlie... diga como foi?. Pedi, ele suspirou passando as duas mãos no cabelo e libertando-o do coque no alto, ele se inclinou acomodando a cabeça em meu colo, baguncei seu cabelo liso e ele sorriu.
-Já basta... sabe o suficiente... para que se torturar? Eu estou de volta. Disse ele fechando os olhos, os cílios compridos e dourados nas pálpebras enquanto mexia em seu cabelo... puxando uma mecha dava um pouco abaixo em seu ombro.
-Não posso passar por isso sem superar junto também.
-Eu te amo. Disse ele com um sorrisinho meigo nos lábios rosados sem abrir os olhos, meu coração se aqueceu e ele prosseguiu... suas feições assumindo uma suavidade, uma certa paz.
-Não foi sempre ruim... eu sorri e ri muito com meus novos amigos, o companheirismo foi outro meio de filtrar os momentos difíceis... a amizade foi uma forma de sobreviver no começo... quando cheguei lá eu me senti tão perdido, sentia saudade de casa, de você, da mamãe de todo mundo aqui, às vezes a noite quando eu... não era mais eu mesmo foi como se voltasse a ter cinco anos de novo com medo do escuro... mas essa escuridão era diferente... no meu quarto eu sabia que não havia nada no escuro para temer... mas nesse escuro havia um monstro de verdade, demorei um tempo para perceber que era eu mesmo nas sombras o tempo todo... o mesmo reflexo do espelho... era eu e eu deveria aceita-lo, aceitar a mim mesmo. Disse ele cobrindo minha mão em seu peito.
-Por isso eu lhe digo que não faria diferença se você estivesse lá ou não... era eu mesmo que deveria tentar por mim, era eu que teria de lutar... eles me deram apoio mas eu que deveria superar meus obstáculos sozinho minha irmã. Disse ele... como ele dizia, o processo era individual, cada alma era diferente da outra, cada um tem suas próprias prioridades e batalhas para conquistar e vencer sozinho... acho que isso eu podia entender por mais que quisesse não poderia segurar a mão dele para o resto da vida tentando afasta-lo de um caminho ruim... eu o ouvi em silêncio sem interromper.
-Por isso alguns levam mais tempo que os outros para sair, encontrar a luz... eles perdem o controle por que ainda não conseguiram encontrar-se na escuridão, aceitar o próprio monstro... e outros jamais conseguiriam voltar, o medo também pode ser um empecilho.
-Mas você conseguiu.
-Porque você me mostrou um caminho... a dois anos enquanto a perseguia na floresta, aquela era uma sombra do que eu era... eu era incompleto, eu estava separado... era como se houvesse duas partes de mim... uma que eu conhecia e que vivia sob a luz e a outra que desconhecia e que vagava pela escuridão, procurando uma maneira de tomar o controle... mas você me uniu, me fez encontrar quem eu era... é preciso um motivo para querer voltar, e você me deu essa escolha. Disse ele só sorrisos para mim, algo dentro de mim se aquietou enquanto olhava seu rosto, podia dizer que estava em paz e orgulhosa por ver que meu garotinho conseguiu.
-E quem eram seus amigos?
-Bom... todos nós aprendemos a conviver uns com os outros, éramos amigos na maior parte do tempo quando não estávamos brigando... é surpreendente como agora eu me irrito com facilidade... eles diziam que aquele inferno era um tratamento de choque... quanto mais estivesse a beira de um colapso é assim que se aprende a conquistar a confiança em si mesmo para saber a hora de parar... mas tinha alguém mais paciente e moderador no grupo, ele era amigo de todo mundo mas ele foi mais meu amigo do que o restante deles foi para mim... ele me trazia a razão quando achava que eu não conseguiria aguentar, me protegia, era meu mentor... ele me faz lembrar você quando cuidava de mim.
-E quem é ele?. Perguntei olhando seu rosto, Charlie fez menção de que iria dizer mais alguma coisa... seus lábios se abriram mas fomos interrompidos pela campainha.
-Ai lembra quando estávamos nos mudando para cá? E que eu queria ir a uma corrida?. Perguntou Charlie, os olhos brilhantes em excitação, eu sabia do entusiasmo dele... carros velozes.
-Só um minuto. Gritei para a porta e me voltei para Charlie.
-Bom... eu não posso dirigir mais... Adam teria um enfarte se me visse atrás de um volante ainda mais de um carro de corrida... mas amanhã eu posso pedir a Jack acompanhar você ou eu mesma se preferir... se bem que amanhã terá a corrida teste no autódromo para a classificação das posições de largada, eu posso pedir a uma das equipe para colocar um visitante vip no carro com um dos pilotos... a corrida de amanhã será mais como um teste daqui a uma ou duas semanas não lembro a data... haverá um campeonato beneficente em prol da causa das crianças com risco terminal, serão feitas apostas, era para ser uma corrida de cavalos mas a primeira dama e Adam acham que seria mais emocionante uma corrida de carros... se quiser... eu posso lhe fazer um favor.
-E eu não poderia dirigir sozinho?. Perguntou ele, eu o olhei com severidade.
-Quando tirar carteira... podemos pensar no assunto... você  não mudou tanto assim. Notei sorrindo, ele assentiu.
-Ainda sou o mesmo mas não posso dizer o mesmo de você, está diferente.
-Diferente como?
-Mais feliz em comparação com a Bella de antes.
-E isso é bom?. Perguntei ainda ouvindo a impaciência bater a porta.
-Estaria mentindo se dissesse que preferia você como era antes... você está melhor agora do que antes, eu gosto dessa Bella. Disse ele, eu sorri e abri a porta para meus pais e Maria que entraram.
-Como está meus bebês?. Perguntou minha mãe me abraçando.
-Estamos bem sim obrigada... Boa noite pai como vai?. Perguntei passando para os braços do Dr. Richard.
-Estou ótimo meu amor e vocês?.
-Muito felizes em vê-los. Respondi e abracei Maria.
-Olá querida... e o chefe Pierre?. Perguntou ela, eu revirei os olhos e apontei para o corredor a direita no hall.
-Na cozinha. Respondi vendo-a seguir por ali toda sorridente.

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