Bella
No final da tarde Derek me acompanhou ao hospital e Leônidas ficou em casa, afinal o que às pessoas diriam se vissem um leão andando no meio da rua durante o dia? E ainda por cima um leão que sabe falar e que valoriza como ninguém a moral e os bons costumes? Leônidas ficou na mansão após eu ter assegurado que ficaria sob a guarda de Derek em quem confiava implicitamente, ele se deu bem com Emma, ela gostava de gatos... no hospital eu fiz uma visita rápida a ala Oeste ao centro de tratamento do câncer e as crianças e depois fui a consulta com o Dr. Adolf, meu ginecologista... Adam passou o resto da tarde visitando às obras do estádio que estavam em fase de finalização já superando os imprevistos que teve com a construtora logo seria a inauguração, ele marcou de me encontrar no escritório do doutor no hospital, eu estava deitada em cima de uma cama acolchoada com a blusa enrolada na altura da barriga enquanto o doutor fazia todos os procedimentos para o ultrassom após a consulta de rotina quando uma leve batida na porta denunciou a chegada do meu querido e atrasado marido, ele espiou dentro da sala antes de entrar e encontrou meu olhar, tentei ser severa mas eu não consegui não sorrir extasiada ao vê-lo.
-Está atrasado senhor Lichtenfels. Falei, ele sorriu com timidez ao assumir a cadeira do lado aposto do médico e segurou minha mão... inclinou-se para me beijar rapidamente e olhou o monitor ansioso enquanto o doutor espalhava um gel frio em minha barriga.
-Desculpe querida... eles me prenderam por mais tempo do que eu julgava ser necessário mas eu diria que cheguei no momento mais exato, o timing foi perfeito. Disse ele apertando minha mão olhando a tela ansioso, eu ri... o Dr. Adolf ajustava o equipamento mas então o som intrusivo e indevido de um celular interrompeu nosso momento, o celular de Adam tocava... ele olhou a tela irritado e ignorou o telefone que tocava sem parar.
-Quem é?
-É do laboratório... não tem importância agora. Disse ele, eu revirei os olhos.
-Se é do laboratório é claro que é importante Adam melhor atender pode haver alguma emergência. Disse preocupada olhando o doutor ao falar, contrariado ele atendeu a ligação.
-Pode falar. Pediu ele, observei seu rosto empalidecer esquecendo-se completamente do médico enquanto ouvia... isso não me parece nada bom.
-Mas como isso pôde acontecer?. Perguntou ele pálido.
-O que foi?. Sussurrei, ele ergueu um dedo pedindo um momento, ele ouviu atentamente por um instante...
-Como está a situação agora?. Perguntou, Adam se recuperou do choque mais rápido do que imaginei e ficou profundamente sério oscilando entre raiva e amargura... observei seu rosto enrijecer a medida que ouvia, a preocupação vincando sua testa.
-Quantos fugiram? Qual o número de feridos?. Perguntou Adam baixinho, senti o pânico... olhei o doutor outra vez... ele viu minha expressão e a de Adam.
-Podemos fazer uma pausa?. Sugeriu ele, eu assenti.
-Preciso ir ao meu escritório pegar sua ficha de acompanhamento... com licença. Disse o doutor retirando-se, eu me voltei para Adam que estava de pé, tenso.
-Eu quero todo o pessoal nas ruas agora, chame reforço... peça a Nicolay que cuide disso, agora!. Disse ele desligando o telefone, ele respirou fundo fechando os olhos, ao abri-los ele me parecia extremamente infeliz... perdido, seus olhos dançaram pela sala até encontrarem os meus onde pareceu encontrar o eixo de novo, o centro da Terra...
-O que aconteceu no laboratório?. Perguntei, ele pareceu escolher muito bem às palavras enquanto me olhava.
-Os itens escaparam da contenção... as saídas não foram lacradas a tempo, estão soltos... todos eles soltos. Disse Adam, tentei soltar o ar mas alguma coisa obstruia minha garganta... pesando o significado por trás de suas palavras, só havia uma conclusão.
-Soltos... na cidade. Disse quase sem voz, tentei ficar o mais calma que podia mas tive um mal pressentimento do que poderia ser, havia angústia em meu peito e isso só poderia significar que alguma coisa muito ruim estava acontecendo nesse momento e me obriguei a pensar nas implicações daquele fato, nos envolvidos... minha mente fazia às conceções mais perturbadoras, laboratório... feridos... meu pai estava lá...
-Sim e eu preciso ir ajudar Bella mas gostaria de levá-la para casa em segurança antes. Disse ele calmamente... entorpecida pensei nas pessoas que eram importantes para mim, pensei em Tita trabalhando no café a essa hora, a mamãe e a senhora Watson estavam aqui em algum lugar do hospital atendendo às crianças com todo o carinho, Karoline e seus filhos estavam aqui também, Olly tinha leucemia e a anos vinha lutando contra a doença, Maria devia estar em casa fazendo biscoitos de gotas de chocolate podia quase ouvi-la cantarolar na cozinha, a senhora Amy na escola em que eu estudei durante o ensino médio, Charlie e Matt estavam bem em algum lugar acampando nas montanhas, eles saberiam se cuidar sozinhos como a maioria dos meus amigos invencíveis, com eles eu não precisaria me preocupar... mas papai e a cidade inteira estavam em risco.
-Não há tempo!... está anoitecendo Adam logo eles vão começar a caçar, isso vai se transformar em uma zona de guerra... leve Derek com você, você precisa de toda a ajuda possível, eu vou ficar bem... você precisa ir, agora!. Gritei, ele me olhou intransigente, inflexível.
-E deixá-la sem proteção?
-Deixe os mais novos... Tobey e Allen estão aqui, eu vou ficar bem... você vai precisar da experiência de Derek, por favor Adam...
-Está bem. Disse ele ainda hesitando, eu não deixaria ele ir se não soubesse que ele sabia se cuidar sozinho, sabia que era difícil para ele me deixar mas todos precisavam dele agora mais do que eu.
-Eu vou ficar bem. Garanti, ele pegou meu rosto... vi tantas emoções se passarem em seus olhos mas nenhuma delas era tão forte quanto o medo de me deixar.
-Quero que vá direto para casa assim que possível Bella... não espere que a noite caía, não quero vê-la na cidade depois do pôr do sol... eu te amo. Disse-me beijando-me intensamente por um instante, depois ele se foi... o médico entrou novamente.
-O senhor Lichtenfels não vai ficar? Ele estava tão ansioso.
-O senhor Lichtenfels teve um imprevisto de última hora. Respondi monótona a sua pergunta me sentindo nauseada.
-Negócios? Devia ser mesmo muito importante ele saiu tão depressa... bem creio que isso não é da minha conta, vamos direto ao ponto, temos que ser rápidos... há um toque de recolher, às pessoas estão sendo convidadas a ficar na segurança de suas casas ao que me parece alguns animais selvagens estão vindo em direção a cidade mas temos alguns minutos... já chegamos até aqui não é mesmo?. Perguntou o doutor, eu olhava a porta com ansiedade por onde o amor da minha vida havia saído, o amor mais lindo, o mais belo amor que já existiu... ele estava lá fora correndo perigo, o pensamento era devastador mas ainda sim havia algo naquela ansiedade, um medo mais profundo, quase como se pressentisse a chegada de algo terrível... senti em meu torpor quando o doutor posicionou a sonda em minha barriga e começou a falar...
-13 semanas senhora Bella... o mais provável é que o parto aconteça entre o final de Setembro e o início de Outubro quando fará 39 e 42 semanas, somente 4% dos bebês nascem na data prevista, a partir da trigésima nona semana de gestação o bebê estará completamente desenvolvido e pronto para nascer. Disse o doutor, eu assenti sorrindo nervosa mas ele não me olhava, e continuou.
-Depois de quatro ultrassonografias... acha que teremos sorte hoje?. Perguntei quase sufocada minha voz saiu baixa e fraca, ouvi seu riso.
-É o que vamos descobrir agora. Disse o doutor o vi estreitando os olhos para a tela do monitor ajeitando o óculos de grau em cima do nariz... ele sorriu novamente depois de longos cinco minutos analisando o monitor.
-Acho que hoje não é nosso dia de sorte... às pernas estão cruzadas mas podemos tentar outros métodos se é realmente importante saber, alguns pais ainda preferem não saber antes do parto... mas a senhora pode tentar outros exames como o de sangue, o de urina... existe um teste de farmácia que o resultado sai em apenas dez minutos e é pela cor é fácil deduzir azul para menino e vermelho para menina, também há o exame genético com a coleta da placenta ou do líquido amniótico. Disse ele, eu apenas balancei a cabeça, era uma forma de distração embora não fosse o suficiente para prender minha atenção... olhando às imagens do meu filho na tela de fundo escuro e manchada... lá estava meu bebê, meu menininho lindo embora ele não quisesse compartilhar seus segredos conosco, lá no fundo em algum lugar dentro de mim eu sabia, não precisava da confirmação do médico, eu o conhecia.
-Acho que terminamos por hoje senhora Lichtenfels, vou pegar o papel toalha em minha sala para que a senhora possa se limpar... acabei me esquecendo, Ah a idade é mesmo um desafio. Disse o Dr. Adolf caminhando devagar por causa da idade, ele deixou a porta aberta ao sair... o corredor comprido e branco estava estranhamente vazio a não ser pela presença de Tobey e Allen... ouvia a transmissão do toque de recolher para às pessoas por altofantes, a caçada na cidade seria um pesadelo... vi os olhos de Adam, entendia seu pânico tão nitidamente quanto minha mente permitia suportar, todos os itens a solta, a solta, a solta... os ecos da voz de Adam em meu consciente me faziam tremer, e se alguma coisa acontecesse a ele? Um estremecimento reverberou por minha coluna como um choque elétrico mas foi interrompido pelo som de gritos vindos lá debaixo, dos pisos inferiores... vi Tobey e Allen saírem de seus postos e andarem até o final do corredor para ver o que estava acontecendo, a área em que estávamos haviam vários corredores, era uma encruzilhada de acessos, os dois se separaram... eu ia me levantar quando o doutor surgiu na porta com uma caixa de toalhas descartáveis...
-Aqui está senhora Lichtenfels...
Ele se interrompeu no final da frase quando seu rosto ganhou um tom avermelhado e sangue começou a escorrer entre seus lábios, gotejante e vermelho, seu corpo dobrou e ele caiu, havia algo sombrio atrás dele, algo que não podia ser comparado com aqueles lobisomens que eu conhecia porque aquele tinha os olhos brancos, profundamente pálidos, sem nenhuma consciência, uma casca vazia, um Sem Alma, olhei às garras de uma de suas mãos fechadas ao redor de algo vermelho mas não me permite adivinhar o que era... o susto foi tremendo mas breve quando um lobisomem de olhos verdes o arrancou dali... Allen havia se transformado e o enfrentava, Tobey apareceu na porta ainda em sua forma humana, eu ainda estava em estado de choque olhando o corpo sem vida do doutor Adolf, Tobey me tirou dali me pegando no colo e me lavando para o escritório ao lado para que eu não tivesse mais que olhar.
-Eu preciso que a senhora fique por aqui e não saía, nao sei como eles conseguiram entrar aqui a luz do dia mas Allen precisa de ajuda... ao que parece existem outros por aqui, vamos limpar o caminho e tirá-la daqui antes que às coisas fiquem feias. Disse ele, eu assenti, não conseguia ver Allen em parte alguma e isso me deixava aflita mas o que estava me deixando mesmo perturbada era... como um Sem Alma havia conseguido entrar no hospital no meio da cidade? Se tivessem mais deles por aí, todos nós estávamos em perigo.
-Tenha cuidado e Tobey... encontre minha mãe, Emily e Karoline por favor. Pedi, ele se foi e eu fiquei sozinha no escritório, meu coração inquieto no peito, levei a mão a barriga respirando fundo, mas percebi algo viscoso e molhado, o gel... tinha me esquecido, eu olhei envolta do escritório e vi uma porta devia ser um banheiro, não queria voltar a outra sala onde o doutor estava, não se quisesse continuar de pé e não vomitar... limpei o gel rapidamente da barriga com o papel toalha que encontrei no banheiro e voltei a cobri-la com a blusa, olhei a janela enquanto me envolvia mais no casaco de lã experimentando um tipo de frio que nunca senti antes... tentei ligar do celular para Tita, minha mãe, meu pai, Jack, Karoline, Maria, a senhora Watson e senhora Amy, às pessoas com quem eu mais estava preocupada no momento mas ninguém estava atendendo, eu estava tão preocupada enquanto fitava a janela, sem saber o que mais poderia fazer, sem uma única notícia... às pessoas corriam nas ruas, alguns de uniforme de enfermeiros, jalecos de médicos, outros eram pacientes sendo colocados em ambulâncias, o hospital estava sendo evacuado às pressas, a polícia repetia a mesma mensagem através dos autofalantes mas não me incomodei em abrir a janela para ouvir o que eu já sabia, era como se fosse o fim do mundo ou pior o inferno na Terra.
No começo eu não sabia porque me virei, a porta estava aberta e então eu podia ver o longo corredor branco, não tinha nenhum um motivo especial para que eu me virasse, talvez tivesse um anseio íntimo, um desejo profundo e intenso quase desesperado de que Adam voltasse logo para mim mas não foi ele quem eu vi no final do corredor quando me virei para a porta, um segundo antes estivera eu esperando por alguém mas sabia que no fundo não era por Adam que eu esperava, uma esperança sombria, quase como uma sentença sendo cumprida, era essa a sensação, um palpite obscuro me ocorreu tardiamente um segundo antes de me virar para a porta e tudo fez sentido, eu percebi do que se tratava tudo isso, a fuga dos itens, tudo foi para aquele momento a sós comigo... não foi um acidente, era um plano, um esquema para me deixar só e indefesa, para chegar até mim, essa era a única forma, distrair a atenção de todos com o caos, arriscado mas eficaz, ninguém estava ali comigo, eu estava sozinha... Devia me sentir constrangida por não ter adivinhado antes mas estava mortificada demais para reagir de uma forma diferente, me senti estranhamente aliviada quando os vi, esperei por tanto tempo, não é? Era quase tolice um dia ter imaginado que não aconteceria, o destino estava escrito mas é de nós mesmo o defeito de nos pregar peças, esperar uma coisa diferente quando se sabe o que vai acontecer... de certa forma não fiquei surpresa, só mortalmente aliviada que me minha hora enfim havia chegado, ninguém mais pagaria com a vida por mim.
Haviam três homens apáticos de preto cruzando o corredor sem pressa, eles vinham em minha direção e um deles eu sabia muito bem quem era... Demétrius.
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A Presença
AcakLivro II Bella encontrou seu verdadeiro amor, a metade que lhe faltava e que sem ela sua vida seria uma desilusão emoldurada pela tristeza, com a nova chance de viver a paixão que foi antes interrompida pela morte da moça, onde puderam recomeçar de...