Uma memória distante, um lugar desconhecido.
Matthew Stanley
Na lembrança ou sonho, eu não sabia muito bem qual dos dois, mas sentia já ter vivenciado algo como, um cômodo diferente do que me encontrava que era fétido, mal cheiroso, a voz estava lá cantando e falando comigo nos sonhos ou nas lembranças...
Quando voltei a tona estava mais escuro e aconchegante do que antes, talvez eu estivesse em uma cama... sinto o cheiro reconfortante de limpeza nos lençóis, fraco e suave... minha pele como também meus sentidos pareciam ter desenvolvido alguma sensibilidade maior, aquele ambiente era limpo, me parecia um quarto mas não era o meu quarto... eu sentiria um cheiro diferente se fosse, eu não sou tão impecável quando o assunto é limpeza nem sei qual foi a última vez que eu peguei em uma vassoura ou um esfregão em minha vida, mas aquele ambiente não tinha cheiro de terra como no lugar na floresta onde pensei que seria minha sepultura, eu queria desesperadamente ver a luz... a escuridão era tão vazia quanto o espaço, comecei a procurar ao lado, achei algo como uma mesinha ou um criado mudo, senti quando meus dedos encontraram um abajur mas alguém segurou minha mão.
-Não... a luminosidade pode incomodar um pouco em seu estado. Disse a voz serena se afastando, era ela outra vez, quem é ela? Ela existe mesmo ou estou só imaginando coisas? Não consigo vê-la, está escuro aqui... tombei na cama novamente meu ombro protestou ao me ajeitar nos travesseiros, uma dor incomum, aguda, como fartas na carne... me lembrei dos dentes da coisa em mim, afiados como navalha, rasgando meu ombro... estremeci com a lembrança.
-Onde eu estou?. Perguntei meio perdido, procurando por ela no escuro, se é que ela existia... não me lembro de seu rosto, nem sei dizer se cheguei a vê-la.
-Em um lugar seguro Matt.
-Eu conheço você?. Perguntei a voz misteriosa.
-Não mas conheço sua mãe, vejo suas fotos em cima da mesa dela onde Elie trabalha... que bom que acordou, precisamos conversar Matt. Disse ela, a voz mais doce e um pouco mais séria... de repente eu me senti o ser mais desnorteado e perdido da face da terra, onde eu estou? Como uma criança de dois anos que mal saiu das fraldas ainda... cadê a minha mãe?! Ela conhece a minha mãe, ela viu minhas fotos então sabe quem eu sou... eu preciso voltar, já, agora. Tento me sentar com cuidado mas em vão me sinto tão mal, eu persisto e consigo erguer o tronco pesado, está frio... muito frio, mesmo coberto por um cobertor grosso e macio, sinto frio.
-Eu preciso ir para casa... minha mãe deve estar preocupada. Disse, senti suas mãos em peito, forçando-me a deitar.
-Deite por favor Matt... você está ardendo em febre, Oh Deus Matt... sinto muito. Disse ela, ouvi seu arfar e a lamúria.
-Pelo que sente muito? O que está acontecendo? Que lugar é esse? E porque me trouxe aqui?
-Você vai ter suas respostas Matt, não se preocupe, vou dizer tudo o que quiser saber inclusive coisas das quais não conhece ainda... mas nesse instante tem algo mais urgente em vista... eu preciso tira-lo da cidade. Disse ela, eu não consegui entender seu pedido mas ela disse que ainda estávamos na cidade e isso me deixou mais tranquilo porém porque ela precisava me tirar da cidade...?
-Porque?
-Não é seguro para você aqui... vou transferi-lo para um lugar, uma Ilha... foi onde eu nasci e cresci, onde a luz e a escuridão se encontraram no caminho, é o melhor lugar para você Matt. Disse ela em algum lugar do quarto, por mais que tente não consigo ver onde ela está... eu me lembrei da mamãe, ela deve estar surtando nesse momento, eu não voltei para casa... e isso é péssimo, ela ainda podia estar esperando por mim, sentada na escada entorpecida de café para mantê-la acordada enquanto meu pai diz para ela não se preocupar assistindo alguma coisa que eu provavelmente acharia idiota... a voz queria que eu fosse embora... isso não pode estar acontecendo.
-Mas e meus pais? Não posso deixá-los, não quero. Falei quase em desespero, tentando me sentar mas todo o meu corpo está terrivelmente dormente e a dor no ombro que não passa... a voz ficou mais infeliz.
-Sei que não quer... lamento por ter que tirar isso de você mas é necessário, vai mantê-los em segurança desta forma, confie em mim Matt, estou fazendo isso pela sua mãe. Disse ela... me levar embora, pelo bem da minha família, confiar nela, era tão confuso, eu estava morrendo? Estava tão doente assim? O animal me transmitiu algum vírus letal? Por isso tenho de ficar em quarentena, isolado? Seria só por algum tempo? Meu Deus eu vou morrer? Ou já estou morto? Por isso eu estava na escuridão esperando o expresso passar... para cima ou para baixo, os anjos e os demônios estavam na escuridão eram os comissários de bordo me esperando na estação céu/inferno. Eu estava tão incoerente, enlouquecendo mas ainda tinha aquele pingo de lucidez em mim, não queria abandonar minha vida.
-Segurança do que? De quem está me protegendo? Eu estou doente? Já sei eu vou morrer não vou? O animal na floresta... ele me mordeu... Ah Deus. Falei desolado, a última coisa que eu queria naquele momento era ir embora, um dia eu sonhei sim em sair daquela cidade mas agora mais do que nunca queria ficar... era horrível para mim ter que ser obrigado a partir sem olhar para trás.
-De você. Disse ela, eu parei meio em choque, tentando saber qual era a ameaça... porque era perigoso... como assim eu?
-Como?. Perguntei com surpresa.
-Matt... existem coisas nesse mundo, criaturas para ser mais clara que podem ser um problema quando não cuidamos da maneira correta com aprendizado e instrução. Disse ela, eu me fixei na parte que ela disse "criatura"... lembrando do ataque daquele animal.
-E o que isso tem a ver comigo?. Perguntei sentindo que ela estava chegando lá sem ter certeza de que gostaria de saber mas meu corpo se preparou para o pior mesmo assim, fiquei imóvel como se alguma ameaça estivesse a espreita... era estranho para mim meu corpo reagir assim, parar completamente.
-Você é um de nós agora Matt. Disse ela, eu fiquei em silêncio perguntando-me para qual lado eu havia passado... enquanto ela me explicava o porque de uma série de coisas sombrias que eu não conseguia processar sem descartar a hipótese de que só talvez ela estivesse certa... quando por fim concordei com seu pedido eu havia aceitado cada palavra sua, acreditado nela, eu não estou morto, não vou morrer mas sera pior que isso, tudo bem estou em choque... foi demais para mim. Se era mesmo tão perigoso assim como poderia ficar e machucar de verdade aqueles que eu amo? Eu tenho que ir... preciso ficar longe... pensei estranhamente imóvel, em pânico.
-Se isso é o melhor então vou com você. Disse depois de um século em silêncio, mal se ouvia a minha voz.
-Eu vou cuidar de tudo... podemos avisar aos seus pais que você vai passar uns tempos fora...
-Não... não quero que eles saibam, podem resolver procurar por mim depois... e eu não quero machuca-los, eu estou morto... para todos os efeitos é como se eu estivesse mesmo morto não é?. Perguntei infeliz... levou um tempo para ela absorver o que eu pedia e responder.
-Quer desaparecer completamente então?. Perguntou, a voz não me parecia tão confusa quanto esperava que fosse... então talvez eu podia arriscar que estivesse mesmo morto, já que estava abandonando minha vida.
-Sim por favor se tiver uma maneira.
-Sei o que devo fazer... se me der licença, cuidarei disso agora mesmo. Ouço seus passos em um piso de madeira.
-Sim... é isso o quero, morrer.
-Não fale assim Matt, sempre haverá uma esperança por mais débil que seja, eu sei que você vai ficar bem... procure descansar e por favor não saía... nosso tempo é curto, preciso tirá-lo da cidade sem que ninguém saiba antes que... você está debilitado agora mas ainda não passou pela pior parte. Disse ela e depois ela se foi, mas sim... é claro que eu sabia qual era a pior parte, tinha acabado de enfiar uma espada em chamas em meu peito com o que tinha feito... mas esse era o preço a pagar por fingir de morto, eu não veria meu próprio velório mas em sonhos eu me vi como um fantasma vagando entre os túmulos...
As pessoas que vieram assistir a cerimônia, todos choram, por mais que eu tente chamar a atenção é como se eu não existisse como se estivesse morto.
Aquela conversa foi o mais próximo de normal que tive com a voz, as outras eu não classificaria assim... só foi muito difícil me manter são depois daquilo enquanto o frio e a dor me consumiam, me afastar completamente de quem eu era e de tudo que conhecia foi como cometer meu último ato de lucidez, eu estava entregue ao devaneio, a insanidade daquela situação...
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A Presença
RandomLivro II Bella encontrou seu verdadeiro amor, a metade que lhe faltava e que sem ela sua vida seria uma desilusão emoldurada pela tristeza, com a nova chance de viver a paixão que foi antes interrompida pela morte da moça, onde puderam recomeçar de...