91: Nas Sombras

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  No entardecer de uma nova vida
Matthew Stanley












     A praia...
     Aquele fim de tarde, o pôr do sol parecia mais lindo a cada entardecer, me lembro de ter medo disso antes... que o sol me deixasse para trás no vazio da escuridão com medo, agora enquanto dividia minha atenção entre o fim de mais um dia, nossas mãos unidas entre nós e seu rosto... eu não sentia mais medo.
-Isso vai acabar algum dia?. Perguntou ela, eu toquei seu rosto iluminado.
-Só se você quiser que acabe.
-Porque sempre diz o que eu quero ouvir?
-Não sei... preferia ouvir uma coisa diferente?. Perguntei confuso, ela riu encostando a cabeça em meu ombro... seu rosto ficou mais sério.
-Não quero que isso acabe. Disse ela olhando em meus olhos.
-Ainda temos muito tempo... é para sempre, não é?. Perguntei e ela assentiu me beijando e ficando de pé.
-Vou deixá-los sozinhos. Disse Samantha afastando-se para a selva às minhas costas, eu olhei a areia... não precisei me virar para saber que ela estava ali, que vinha me encontrar, ouvi seus pés arrastando-se na areia molhada, às água salgada roçando a cada passo, ela sabia o que eu queria saber...
-Vai me contar agora?. Perguntei, ouvi seu suspiro profundo.
-Tenho outra alternativa? Qualquer que seja? Acho que não, eu preciso contar... agora que é seguro teremos nossa conversa.
-Estava esperando minha condição mudar para que eu recebesse sua resposta com tranquilidade? Eu sou um monstro tão terrível assim?. Perguntei me virando para ela, ela se sentou a meu lado e ficou em silêncio durante um bom tempo, tanto que o sol tinha se posto... ela não tinha pressa mas eu ainda não me acostumei com a eternidade.
-Isso importa muito mesmo?
-Não exatamente mas gostaria de saber era a minha vida que estava em jogo. Suspirei, ela sabia sim da verdade, a dias insistia para que ela me contasse, por pior que fosse eu queria saber quem me modificou.
-Isso me parece justo.
-Então porque demorou tanto tempo para me contar?
-Não queria causar problemas entre família. Disse ela olhando as estrelas no céu, eu fiquei confuso.
-A minha ou a sua?
-A sua Matthew.
-Não estou entendo. Disse, do que ela estava falando?
-Você não poderia saber, os dois não poderiam saber da verdade porque só uma pessoa sabia.
-Do que está falando?
-Seu pai viajava muito não é?
-Sim e o que tem isso?. Perguntei... como é que do nada meu pai veio parar nessa conversa?
-Acho que tem o direito de saber... eu não iria contar isso a menos que houvesse uma forma de fazê-lo pensar bem no que vai fazer quando souber o que pede que eu diga.
-É só dizer... estou começando a achar que você está defendendo essa pessoa. Disse, sua expressão era séria meio amarga.
-Não estou defendendo ninguém... é porque há algo muito delicado nessa questão que não pode ser tratada levianamente... gostaria de não ter em mim o peso da consciência.
-Quem fez isso comigo?. Perguntei de novo e esperava que fosse a última vez, depois eu veria o que fazer com isso quebraria duas dúzias de bastões se fosse preciso, o instrutor me ajudaria a passar por isso mas não imagino que um nome fosse me afetar, porque afetaria? Ela pareceu relutante em me dizer a verdade, porque tanta relutância em dizer uma coisa tão simples?
-Tudo bem você merece saber... foi o filho de John Wilbur quem o atacou Matt. Disse ela, a surpresa passou rapidamente pelo meu rosto até o motivo vier claramente a mim... rivalidade, Mikael queria a mesma garota que eu na época mas ele tinha maneiras muito mais eficientes que às minhas de se livrar da concorrência, ele queria me tirar do caminho para ter Bella... covarde.
-E o mais importante que você deve saber antes de sair da Ilha dentro em pouco tempo...
-O que mais devo saber Rosemary?. Perguntei, seu olhar se fixou no meu por alguns segundos de ansiedade.
-Mikael é seu irmão Matt. Disse ela olhando em meus olhos... tudo bem isso foi longe demais, isso foi demais, por essa eu não esperava.
-O que?
-Seu pai viajava até o Kansas para encontrar a mãe de Mikael... a mãe dele me confessou antes de morrer no hospital, para tentar salvar a vida do filho ela deu a dela quando foi atacada... Josh, seu pai sabe de tudo.
-Mas minha mãe não sabe... saquei. Disse ficando de pé e tirando a camisa.
-O que vai fazer?
-Correr com os outros.
-É assim?
-Já que não posso matá-lo vou pensar nisso enquanto caço alguma coisa para me distrair... talvez eu até mate alguma coisa grande pensando nele, isso deve trazer algum alívio. Falei me sentindo infeliz, eu entrei na selva correndo a toda... era impressionante como era fácil, natural e além de ser uma experiência excitante me transformar era quase como um alívio... como se meu corpo humano não conseguisse conter o monstro que há em mim, tendo que viver espremido em uma forma inferior a seus padrões era exatamente como Laurence dissera um alívio poder se libertar, correr a noite toda e não ficar cansado era extraordinário, eu consegui chegar a parte norte da Ilha em minutos, parei para olhar o castelo do antigo Reino do Norte, a lua... ignorando meus companheiros que corriam nas sombras da floresta, eu podia ouvi-los no silêncio da noite, ouvir qualquer coisa aliás...
       Os lamentos dos prisioneiros em uivos desejando estar ali fora e correr sob a luz do luar mas isso não era possível para eles no momento, estavam pagando por seus crimes... como era chato resistir àquilo... o desejo de vingança, punir os culpados pelas dores infligidas, eu estava bem... tudo bem que nada era perfeito, mas não poderia ver minha mãe, não poderia falar com ela que o marido a traía e que ele era um grande... e eu não poderia ir até meu meio irmão e ensina-lo uma boa lição porque depois eu ficaria com remorso pela morte daquele... tudo bem, a raiva era um sentimento saudável mas prejudicial em excesso... o instrutor iria me fazer queima-la amanhã com suas lições de autoajuda impossíveis de ser ignoradas... como ele conseguia? Perguntei-me olhando o espelho d'água a luz pálida do luar, encarando a mim mesmo no espelho, o monstro me fitava de volta, ele não me parecia muito feliz no momento queria fazer alguma coisa para fazer o conflito parar, me causava revolta lidar com tudo na maior serenidade... sufocar a emoção parecia que me sufocaria também... ainda não me acostumei a ser o que sou, a fazer tantas coisas impossíveis, às vezes sinto que não vou conseguir mas então ela me vem a mente e tudo parece ficar melhor, Samantha foi essencial naquele novo começo para mim... ouvir tudo o tempo todo e lidar com meus sensores sobrenaturais de aproximação que frequentemente estavam em alerta eram um problema se eu fosse partir para o contra ataque em uma ação reflexa mas eu já sabia que era ela... ela brincou puxando a minha orelha para trás com os dentes, ela parecia mais magra do que era naquela forma e era menor do eu...
-Estava pensando em mim?. Ronronou ela em meu ouvido.
-Na noite em que a salvei com meu cavalo branco? Não.
-Quanta modéstia... nadar quilômetros para salvar a donzela em perigo e lutar contra dezenas de monstros para ter o prazer de levá-la nos braços. Riu ela deliciada.
-Não me lembro de ter sido bem assim.
-E não foi... tenho tendências teatrais quase irreprimiveis.
-Eu não tive que lutar contra todos sozinho. Disse, a atuação do instrutor de luta foi importante e bizarra, ao me lembrar daquela noite perguntas sobre sua identidade surgiram... quem era aquele homem?
-Não... o instrutor fez o trabalho todo e você só liderou o restante dos Sem Alma contra Ted... acho que ele não sabia correr tanto assim até o dia em que conheceu você.
-Poderia ter sido um massacre se o Volga não estivesse lá.
-E você ainda continua achando que ele é um vampiro?
-O que mais poderia ser?
-Se ele fosse um vampiro, acredite ele já estaria morto... que parte de inimigos mortais você não entendeu ainda?
-Eu jogo a toalha o que vamos fazer a noite inteira? Quer ir até às piscinas?. Perguntei empurrando o ombro dela com o focinho, ela puxou minha orelha e me derrubou no chão.
-Acho que podíamos voltar para casa e...
-E?. Perguntei rolando com Samantha na relva, ela lambeu meu focinho.
-O resto eu mostro quando chegar lá. Disse ela disparando na frente como uma flexa, a olhei partir lhe dando alguns segundos de vantagem, eu não quero sentir raiva está noite o poder da palavra me direciona para aquilo que quero ser e quem eu quero ter a meu lado, Samantha e eu, a espera de um futuro juntos...

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