8: A mãe pata

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Bella

       Foi a uns dois dias quando comecei a perceber que estava estranha, Adam e eu estávamos no lago perto do coliseu como em todas as manhãs de sábado, olhando o dia amanhecer, o sol se erguer atrás das árvores, lançando uma luz esverdeada em nós do outro lado do lago, era tão lindo, parecia uma aurora boreal, brilhante como esmeralda... o som das cigarras, dos sapos, grilos era tão relaxante, nunca tinha apreciado tanto a natureza, admirado tanto suas belezas, as cores das flores, as texturas das pétalas e das folhas, os perfumes, os animaizinhos... tudo parecia novo para mim, emotivo, como se estivesse vendo pela primeira vez, dando-me a oportunidade de apreciar cada detalhe singelo do canto de um pássaro ao vôo de um colibri sussurando com o roçar de suas asas enquanto se aproximava das flores, era encantador, lindo, precioso... apesar da minha repentina sensibilidade as coisas a meu redor tudo estava normal até eu ver uma mãe pata e seus doze patinhos, foi patético mas eu comecei a cantar uma cantiga infantil e insuportável da XSPB "Um patinho foi passear... além das montanhas para brincar, a mamãe gritou quá, quá, quá, quá...", eu não consegui terminar e quando percebi já estava chorando inconsolável enquanto ele tentava me consolar.
-Porque está chorando?. Perguntou Adam embalando-me em seus braços... depois de dez, vinte minutos tentando falar eu desisti e apontei para os patinhos no lago, ele riu e eu também claro, era ilógico e improvável que eu estaria chorando por aquilo se alguém me perguntasse não acreditaria, como se qualquer coisinha pudesse me derrubar e me fazer derreter como açúcar e água.
      Era ilógico, até Adam comentar minha reação e tudo ficou em segundo plano.
-Nós vemos isso todos os sábados Bella, você está sentimental demais ultimamente. Percebeu ele, só foi quando eu vi suas mãos em minha barriga que eu realmente percebi o que era... quando eu senti alguma coisa se mexer...
-Está com fome?. Perguntou Adam deslizando a mão em minha barriga reta como uma régua, pensando errado daquela movimentação estranha em meu ventre.
-Não.
-Tem certeza?. Perguntou ele intrigado com um riso fraco... se eu tinha certeza? Tinha tanta certeza que perdi a cor, empalideci quando me lembrei de algo consideravelmente importante... fazia quase um mês que eu tinha parado de tomar anticoncepcional, depois de quase dois anos...
      As aulas tinham terminado... para mim pelo menos o ensino médio acabou, eu decidi que seria melhor terminar a escola primeiro, como havíamos planejado, não teria como cuidar de um bebê estudando, ele precisaria de mim mais do que nunca no começo e Adam não se opôs, ele não tinha pressa... as aulas tinham terminado, fazia quatro semanas que eu tinha parado de tomar... eu olhei suas mãos outra vez pousadas despreocupadamente na tábua que era minha barriga, claro que ele não percebeu nada, e eu também não tinha informado a ele que tinha parado de tomar o remédio... quatro semanas... como isso era possível? Assim tão rápido?...
-Acabamos de tomar café Adam... não estou com fome. Falei, ele riu e me beijou.
-Ficaria assustado se ainda estivesse. Disse ele, eu não me virei para ele, em vez disso coloquei minhas mãos sobre as suas.
-Porque diz isso?.
-Bella você devorou meia torta de chocolate com sorvete de creme e quase meio litro daquele suco azedo horrível... eu não teria percebido nada se não estivesse comendo tanto doce... aquilo me deixou enjoado. Disse ele, eu ri apertando suas mãos experimentando outra coisa nova, uma emoção que eu nunca tinha sentido antes... um filho... eu estava grávida, percebi isso olhando a mamãe pata e seus doze filhotinhos.

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