95: A Procura

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16 de Dezembro do ano de 2012










-Vai ficar tudo bem... Deus sabe o que faz. Consolou o pastor tocando o ombro da ex-mulher, ela estremeceu com o toque, lembranças tortuosas lhe preencheram do casamento anterior, um eco de dor... era noite, ela estava sentada no pequeno sofá, os policiais haviam acabado de sair, seus filhos já tinham ido dormir mas faltava uma, a mais velha... há três dias não voltara para casa, ninguém a viu, não há notícias dela e ela teme que algo grave talvez possa ter acontecido, as mães sentem esse tipo de sensação, um aperto no peito, um vazio incapaz de ser preenchido, uma dor que nunca passa... ela sentira falta dela, sua garotinha, a menina dos seus olhos, ela não voltou para casa mas porque ela não voltou? O que terá acontecido? A notícia do desaparecimento tinha se espalhado aos quatro ventos, os vizinhos ajudavam a procurá-la, buscas foram feitas na floresta, nas montanhas, nos arredores das cidades, cartazes de desaparecidos foram pregados por toda parte, fotos dela enchiam a paisagem visual da cidade, em árvores, em postes, murais, paredes, caixas de correio, em cada lugar, em cada canto da cidade e nas cidades vizinhas, mas ninguém ligou, nenhuma ligação, nem boas, nem más notícias...
-E se ela não voltar?. Perguntou a ex-mulher ao ex-marido, ele a olhou sem saber o que dizer, estava preocupado porém a afeição pela menina não era tão profunda quanto o carinho da mãe, se tudo terminasse de uma forma terrível, nada mais ligaria os dois, sua história tinha acabado a tantos anos e o fio que ainda os sustentava era a filha, o resulto de uma estupidez adolescente, uma consequência de um ato casual, até mesmo um problema para a atual esposa que cobrava com juros a atenção do marido aos outros filhos, ele não podia desejar a morte da filha porque Deus não iria querer que cultiva-se tais sentimentos mas pensou nisso vagamente como a solução para seus problemas, não precisaria mais gastar um centavo, não precisaria mais se deslocar da sua cidade para visitar alguém que o odiava, foi isso que ela gritou aos berros da última vez, ele lhe aplicara um castigo por ela nutrir amizades com hereges, pessoas que não faziam parte do plano de Deus que envergonham seu nome pecando como se não houvesse justiça no fim das contas no dia do Juízo Final, sua filha andava com homossexuais e outras abominações como essas, ela dizia que eram amigos da escola e quando os viu pela primeira vez e notou seus modos a aconselhou se afastar de tal companhia como também da outra menina cheia de percings e tatuagens profanas pelo corpo, só podiam ser seguidores do demônio, satanistas, ímpios, infiéis... a advertiu tantas vezes para se afastar de tais amizades mas ela não lhe deu ouvidos era teimosa, às más companhias a haviam corrompido, ela tinha que ser purificada... não era mais aquela garotinha que o obedecia e o reverenciava, agora ele via a verdade, tê-la foi um erro, deveria ter impedido quando pode mas fora tarde, a alma de sua criança foi condenada, condenada por seu próprio pecado, concebida de uma união impura antes do sacramento sagrado diante de Deus e do homem, ele devia ter se casado antes com uma jovem disciplinada que serviria a congregação a seu lado em nome de Deus, mas ele se deparou em seu caminho com a cobiça e a luxúria ao ver a mãe de Ella e se deitou com ela tendo experimentado a tentação não pode evitar o pecado e foi um erro que teve suas consequências, um erro que somente os jovens podem cometer, um erro que o perseguiria desde que tivera a "visão" de que o casamento com uma mulher impura e pecadora seria um inferno em sua vida resolveu partir e trilhar o caminho certo... mas ele tentou disciplina-las com a palavra de Deus enquanto pode, lutou por elas, não queria desistir de suas almas e sua família mesmo que erguida sobre o alicerce de um pecado, não queria deixá-las mas por fim abriu mão das duas sem o menor remorso, elas não eram compatíveis com obra divina a que fora destinado... ele não sentia culpa por abandona-las no passado, mais se ressentia do ódio que a criança sentia, como se um filho devesse amar um pai que não se importa com ele, sobretudo amar um pai que é um monstro...
-Ela vai voltar confie em Deus... agora eu preciso ir. Disse ele andando até a porta.
-Reverendo Wikcham?. Chamou ela, nunca em todos os anos de casados ela ousou chamá-lo pelo nome, já a repreendeu certa vez por isso, e ela não tornou a lhe dirigir a palavra por muito tempo... ele não se virou só queria sair dali, eram duas horas de carro para voltar para casa, a viajem era longa e ele ainda tinha que levantar cedo de manhã para abrir a igreja.
-Quando chegar em casa abrace seus filhos... faça isso por Ella. Pediu a mulher, ele assentiu sem dizer nada e aquela foi a última vez que os dois se viram, nunca mais voltaram a trocar uma palavra, anos depois a mãe ainda esperava por ela até o dia de sua morte.

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