Bia Narrando.
Hoje seria meu primeiro dia na barbearia, após fazer minha higiene matinal, vesti o uniforme que o dono havia me dado, era uma blusa branca com o nome da barbearia preto e um desenho que era uma caveira com barba e cabelo, coloquei uma legging preta, um sapa tênis, fiz um rabo de cavalo, passei o perfume finalizando, peguei minha bolsa com documentos e celular e saí de casa.
Como minha casa era na entrada da CDD, nao tinha babado. Sabia mais ou menos onde estava me metendo.
Entrei naquele favelão super de boa, mas quando chegou mais pra dentro em uma parte mais escondida me bati com alguns soldados do tráfico que me barraram.
Uó! Não sei se foi por pura implicância ou se realmente eles tem que fazer essa "entrevista" com todo mundo que entra aqui, né? Mas comigo eles acharam de fazer!
- Vou pra barbearia, irei trabalhar lá. – Respondi sincera.
- Ih alá, ta de k.o? Mulher na barbearia, vai dar certo não, rapá. – Um deles zoou fazendo os outros sorrirem, respirei fundo e encarei o que estava na minha frente.
- Eu posso ir? – Perguntei.
- Pode – Respondeu dando passagem – Eu tenho um pelos aqui em baixo que acho que adoraria que você desse uma cortada maneira. – Nem me dei o trabalho de olhar para trás e nem de respondê-lo, caras adultos com essas molequeiras, eu em. Tenho kizila!
Assim que cheguei, cumprimentei o dono que estava no balcão, guardei minhas coisas e me sentei em uma cadeira esperando uma alma chegar para cortar o bendito cabelo.
- Eae, eae – Falou um cara chegando acompanhado de outro – Esse aqui é o Dodô ô seu neco, tá com nois agora. É fechamento brabo, parceiro nosso! – Apresentou ao seu Neco, dono do salão, eles se cumprimentaram e eu fiquei observando o tal Dodô, pardo, os cabelos descoloridos,olhos castanho escuro, lábios bem carnudos, corpo porte médio, era bem bonito, cara de mal.
Não sei se eu escondo o celular ou o coração.
- Po, queria dar um grau no cabelo seu Neco. Meter aquele disfarçafo naquele pique, tá ligado? Tem como? – Dodô falou com sua voz grossa e grave.
- Tem sim pô, essa é Bianca, nossa nova cabeleira, irá cortar seu cabelo.
- Tu tá é doido seu Neco? Essa mina vai é cortar minha cabeça fora, Deus me livre. Tô afim de sair com o cabelo cheio de caminho de rato não pô.
- Deixe de preconceito rapaz, ela sabe cortar bem. A menina sabe o que faz! – Defendeu seu neco.
-– Duvido ô, duvido que ela consiga cortar cabelo de homem num pique massa, todo na régua. Mas com esse corpo aposto que sentar bem tu sabe, né não? – Falou me olhando de cima a baixo com um sorriso de lado no rosto e saiu do salão.
Era bonito, mas com esse preconceito se tornou feio. Odiei! Pior coisa é macho escroto e preconceito. Perde a beleza pra mim real.
Não vou negar que estava me sentindo mal com todo esse preconceito, qual o mal de uma menina cortar cabelo de homem.
Mal sabem eles que eu além de cortar bem, faço um monte de desenho nos cabelos, no outro salão que eu trabalhei, os homens saiam todos se sentindo os galãs de novela só por conta dos cortes e dos desenhos, fora as barbas que eu deixava mais que bem feitas.
- Fica triste não menina, deixa esses homens bestas, logo alguém chega com a cara e a coragem – Brincou no final me fazendo sorrir.
- Aí quando um desses que estão zoando vierem pra cortar eu vou dar uma cortadinha de leve, fazer a entrada do cabelo deles bem pra dentro só pela graça deles – Falei e seu Neco gargalhou. – E não sorri não – Fechei o semblante e ele reprimiu os lábios segurando o riso.
Passei a tarde sentada na cadeira esperando uma alma para cortar o bendito cabelo mas quem vinha não cortava, eu já tava para xingar todo mundo mas mantive a calma.
Quando deu seis horas da tarde, me despedi de seu Neco e fui para casa, tomei um belo de um banho, coloquei um blusão preto junto de uma calcinha box e fui para a cozinha preparar o jantar.
Coloquei uma água para esquentar para eu colocar o macarrão, peguei bacon, calabresa e cortei em cubos, depois os fritei enquanto o macarrão cozinhava...
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Juliano vir aqui jantar e ele disse que estava vindo.
Terminei o macarrão e me sentei no sofá para esperar Juliano, passou pouco tempo e ele bateu na porta.
- Chegueeeeeeei – Cantou – To preparada pra atacar, aquele macarrão que ta na cozinhaaaaaa – Rimou me fazendo gargalhar. Me aproximei e o abracei forte.
- Saudades – Falei – Só quer ficar nessas boates da vida. – Fiz bico e ele puxou me fazendo fechar a cara.
- Tu deixa de moage(frescura, besteira) hein. – Entrou em casa e se jogou no sofá – Tenho tantos babados para te contar.
- Mas antes vamos comer, porque macarrão gostoso é o feito na hora. – O puxei pelo braço e fomos para a cozinha, nos servimos e sentamos na cadeira para jantar.
- Ai amigo, hoje o dia lá na barbearia foi ruim, os homens entravam, me viam e saiam correndo. – Falei após tomar um gole do suco de Laranja.
- Tomou banho não foi? – Brincou, peguei o pano de prato e taquei nele.
- Para bicha - Disse pegando o pano de prato que havia caído em seu prato - Amiga esses bofes são tudo chatos, machistas, mas não se preocupa não, quando tu cortar o primeiro vai chover para você cortar o cabelo.
- Amém – Falei – Agora, vamos falar de você, me conta como estão as coisas.
- Menina do céu, final de semana foi babadeiro, arrumei um bofe bem gostosinho, acho que eu vou quietar o facho – Falou e eu comecei a gargalhar. – O que foi?
- Você com uma pessoa só? Duvido.
- Está achando que eu sou igual você sua safada, que quer dar e sair fora, acho que você era pra ter nascido homem.
Embalamos em uma conversa, ele foi embora por volta das onze da noite. Arrumei a cozinha, porque uma coisa que eu não gostava era de dormir com casa bagunçada, tinha que estar tudo em seu devido lugar.
E após terminar de arrumar, agradeci a Deus pelo dia de hoje e fui me deitar.
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Amor Marginal
Teen FictionRespirando mágoas de uma outra dor, do nosso caso imoral. Para calar o sexo mais banal, pra virar poesia. Desse amor, desse amor marginal eu vou. Plágio é crime, eu denuncio e ainda faço um barraco.