PV: Sofia
Há um bip estranho ao fundo, tendo me movimentar na cama, mas acabo desisto quando o meu rosto bate no travesseiro. Tento abrir os olhos e volto a fechar quando a luz os machuca tanto quando a tentativa de abri-los.
-Ela acordou! - Alguém grita ao fundo fazendo-me se contrair do susto
-Graças Deus, vou chamar o médico - A batida da porta é um estrondo na minha cabeça
Ouço a movimentação da pessoa, sinto que me observa. Eu não entendo o que tá acontecendo, meu corpo parece que passou por um moedor de carne.
Alguém alisa meus cabelos e o beija, ela chora enquanto sussurra coisas ao meu ouvido. Porque tem gente chorando no meu quarto?
Tento me afastar do seu toque, mas sou impedida pelas coisas que seguram meus pulsos e pela dor na minha cabeça. Parece que ela foi batida na parede várias vezes.
-Calma meu amor - A pessoa continua a chorar ao meu lado. Acho que é a voz da minha mãe. Porque minha mãe tá chorando enquanto eu dormia?
Volto a forçar os meus olhos e aos meros segundos que os abro vejo uma parede verde a minha frente. Volto a fecha-los por conta da luz sob a minha cama.
Tento falar para apagarem as malditas luzes, mas parece que engoli terra. Levo minha mãos a minha garganta, fios me impedem de chegar até ela.
-Ta tudo bem meu, amor - alguém volta a beija minha cabeça, me afasto porque dói lá. Dói em toda parte.
A porta é escancarada e passos apressados vem em minha direção. Alguém fala coisas aos sussurros, me forço a escutar, em vão.
A pessoa abre os meus olhos com os dedos e enfia uma luz neles. "Isso é jeito de acordar alguém" Tento gritar, mas só sai resmungos
-Fique calma, sim? - Ele começa a fazer barulhos ao meu lado como se batesse a porcaria de um martelo no meu ouvido.
-Como ela tá doutor? - Escuto minha mãe
-Ela tá bem, só está um pouco lenta. Como ela acordou vou agendar uma tomografia pra ver melhor as contusões da cabeça, tudo bem?
-Claro, claro.
-Preciso que assinem os termos, e acertem o valor na administração. - Ouço o baque da porta e mais silêncio.
Médico, coma, tomografia? O que tá acontecendo? Tento abrir meus olhos e balbucio coisas que nem eu mesma intendo.
-Naao - Digo me afastando mais uma vez do toque da minha mãe.
-Ou minha menina, eu sinto tanto - Ela volta a chorar alto - Desculpa a mamãe, filha. Me desculpa por não protege-la daquele monstro.
Paralizo na cama, porque eu teria que perdoa-la? Monstro? E assim tudo volta. Eu lembro, meu Deus, eu lembro de tudo. Começo a chorar.
Lembro do pavor que senti enquanto ele me arrastava lá pra cima, de pedir ajuda ao cara que selou o meu caixão. Lembro do medo, daquele quarto, daquela cama.
Eu lembro do toque dele tentando abrir mais as minhas pernas, lembro daquela coisa me partindo, de sua boca mordendo as minhas costas. Lembro do seu cheiro adocicado lembro da sua fala "Você merece isso, quem mandou andar sozinha e toda prontinha pra mim".
A minha mãe me abraça sem jeito chorando junto comigo. "Eu sinto tanto mamãe, eu sinto tanto por causar essa dor" "Porque ele não me matou mamãe, porque ele fez isso comigo? "
Mamãe alisa meus cabelos com cuidado, consigo abrir os olhos e as paredes verdes possuem folhetos de agressão e abuso sexual. Que ironia, não?
-Mamãe... - Ela me encara rapidamente - Água - Balbucio
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Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)
General FictionSérie - Contos de Favela ATENÇÃO! O livro aqui disponibilizado está registrado na biblioteca do livro e qualquer cópia disponibilizada sem autorização terá o seu autor processado. Livro contém: Cenas de sexo Palavrões Apologia ao Crime Mortes Crime...