♚ Bônus - A Última Chance♛

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Quando sua mentira não é descoberta, ela se torna uma verdade.

Mais de 1 anos antes

PV: Manuella

Respirar não era a mesma coisa que antes, levantar da cama era como rastejar. A Vivian dormia quando desci as escadas colocando o casaco preto e subindo o capuz, parei assim que vi o Cabeça na sala brincando com a Tina. Não era medo, raiva ou...qualquer coisa parecida. Eu me sentia desconfortável com ele ali sem o PL, era pior que ter o meu pai zanzando pela casa.

—O que tá fazendo?— Perguntei e ele levantou assustado

—Pra onde vai?— Só podia ser brincadeira

—Para com isso, Arthur.— Resmunguei pegando o Vinícios que veio correndo até mim. O Vitor fez o mesmo, tentei me abaixar, mas o Cabeça pegou ele do chão antes de mim.

Talvez fosse loucura, alguma paranoia da minha mente de nova viúva, mas ver o Vitor rir pra o Cabeça me fez entrar em parafusos. Joguei o Vinícius pra um lado e arranquei o Vitor dos seus braços. Devo ter machucado ele de alguma forma porque o choro foi alto. Fiquei sem ação quando percebi o que tinha feito. Eu não tava bem, tava vendo coisa onde não tinha.

  — Desculpa.— Resmunguei. Beijei o Vitor pra acalma-lo 

—Tô tentando ajudar.— Ele começou

— Eu sei, mas não faz isso. Não entra aqui assim, sem avisar. Preciso ficar um pouco sozinha, entende? Somos amigos, mas...

—Eu sei. —  Ele tentou pegar o Vitor. Me afastei sem pensar. Acho que eu tava ficando louca, mas o PL vinha na minha cabeça o tempo todo, não era justo.— Ele tá morto, Manú.

— Cala a boca.—  Tentei não gritar, Vinícios desceu e eu abracei o Vitor 

— Quando vai aceitar isso? Precisa deixar as pessoas entrarem!

— Já mandei calar a boca! Meu pai já ocupa um quarto, não preciso que ninguém mais entre.

Me virei e coloquei o Vitor de volta no tapete junto com a Tina, quando me levantei lá estava ele de novo. Me encarando perto demais, sua mão levantou, me afastei e acabei contra a parede e sua mão no meus rosto. Foi como um choque, segurei sua mão e baixei, mas ele fez o mesmo com a outra mão. Respirei pra não esbofeteá-lo.

—Somos amigos, posso cuidar de você.— Me desarmei. Eu quis chorar, conversar com qualquer um sobre o PL me fazia entrar em combustão, eu só queria chorar, e não falar sobre a morte dele

— Por favor.— Resmunguei fechando os olhos e procurando no seu toque o toque dele. Não queria que ele falasse nada, só queria algo pra dormir e esquecer

—Posso esperar o tempo que você quiser. — Abri os olhos sem entender. — O tempo que levar pra esquece-lo eu vou estar aqui. 

Que porra era aquela? Encarei o Arthur até a raiva consumir qualquer dor e magoa que ainda tinha em mim. A imagem do PL me veio a mente, as suas paranoias sobre um amor invisível que eu nunca tinha visto. Me senti suja pela primeira vez enquanto encarava o Cabeça.

—Tira a mão de mim.— Falei calma e ele obedeceu. —Se encostar a mão em mim de novo, juro que fica sem ela.

Sai de lá batendo o pé. As crianças não ficariam sozinhas, a dona Fátima me seguia por onde fosse. Entrei no carro do PL e acelerei. Fui por trás, por um lugar mais distante pra que ninguém me impedisse de vê-lo pela ultima vez. Quando cheguei, que sai do carro a dor tava lá de novo.

O zum zum zum de gente dava pra ser ouvido a distancia. Descobrir o dia certo que o PL ia ser enterrado foi fácil, contornar o 2K que tinha sido mais difícil. Enquanto eu subia não via nada além da terra sobre meus pés. Eu não queria ver ninguém, os olhos de pena que as pessoas me davam magoava mais que acordar no meio da noite pensando que o PL tava ali.

Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora