♚ II - 16 ♛

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PV: Sofia

Acordo num sobressalto, suando e tremendo. No sonho olhos profundos, rosto definido e cabelos longos me encaravam numa intensidade constrangedora. Não faço ideia do seu nome, mas ele me dá medo.

Sentada observo as paredes brancas do quarto, a Tv ainda ligada transmite um gato rosa que anda sobre as duas patas. Respiro profundamente fechando os olhos e agradecendo a Deus por tudo ter acabado.   

"Querendo ou não foi ele que me tirou de lá"

Solto o ar abrindo os olhos. Porque preciso sempre lembrar dele, daquele homem que só aparece quando minha vida de alguma forma fica pior?  Primeiro a notícia do baile, o estupro e por último a morte da única pessoa que poderia ter me salvado.

Não foi alívio que senti quando ele escancarou a porta daquele quarto. Medo, tudo que senti foi o medo e a uma pergunta que ronda minha cabeça até agora. 

"Qual vai ser a próxima coisa ruim que vai acontecer na minha vida?" 

Mas ai tudo aconteceu rápido demais e ele era a única opção que eu tinha, ou eu confiava que ele tiraria a Flávia dali, ou eu mesma ia morrer tentando. 

Não vou negar que ele chama minha atenção. É estranho olha-lo, é uma mistura de medo e borboletas no estômago, segurança e a vontade insana de sair correndo. 

Afasto as dúvidas e olho a minha menina ao meu lado. Calma, dorme enrolada ao lençol branco toda encolhida no meio da cama. Senti suas mãos agarrada a mim a noite inteira e pela primeira vez não acordou assustada com algum pesadelo.

Me aproximo, passando as mãos sobre seus cabelos macios, a beijo e inalo o seu cheirinho. Pode crescer o quanto for, sempre vai ser a minha menininha, a coisa mais importante da minha vida. 

A lágrimas chegam quando o pensamento vai para os meus pais. Ela nunca vai saber o que é um carinho de pai ou de avós. Nunca vai ter o que tive dos meus pais, eles iriam ama-la tanto, mimariam como dois velhos babões. e lhe dariam tanto amor quanto recebi. Ela nem sentiria falta de um pai.

Para não acorda-la com meus soluços corro para o banheiro. Desabo ali no chão mesmo, choro baixo tentando contro-lalas. Mas dói, machuca saber que por minha causa tudo isso aconteceu, tudo que minha filha passou é culpa minha. As lágrimas saem sem controle.

Tiro toda a roupa e ligo o chuveiro. Quente, quente como eu mereço, como eu preciso ser punida. As lágrimas descem me fazendo encolher no chão, a dor no peito e sobre a pele é bem vinda. Mereço sentir dor pelos meus pais, mereço sentir a dor da minha filha.


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Quase 15 minutos depois saio do banheiro. Noto a hora, 7:05. Vou na direção do guarda-roupa, o espelho me mostra a cor vermelha da minha pele. 

"Tudo bem, eu mereço."

Depois de pronta, me sentindo estanha com o shorts mostrando mais do que gostaria, abro a porta e o silêncio me assusta.

Desço as escadas fazendo o minimo de barulho possível, observo as portas de vidro que mostram toda a frente da casa. Apenas dois cachorros próximo a piscina e nada mais. Me volto para a cozinha quando um barulho chama minha atenção.

Manuella coloca coisas na geladeira, quando se vira pra pegar as coisas da mesa se assusta ao me ver.

-Desculpe - Digo e ela sorrir. Tirando a mão do coração volta a fazer o que estava fazendo.

Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora