♚ II - 89 ♛

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  De repente a vida te vira do avesso, e ai você descobre que o avesso é o seu lado certo. 

(Desconhecido)


Final

2 Meses depois

PV: Sofia

Era real. Tudo que aconteceu a dois meses atrás ainda rondava pelo morro. As mortes aconteceram, os corpos foram enterrados, mas as lembranças ainda vinha a cabeça todas as vezes que colocávamos o pé pra fora de casa.

O Conan tentava manter a sanidade enquanto tava perto de mim, mas quando a Manú aparecia ele pisava em ovos, como se tivesse medo do que poderia sair da sua boca. Como se tudo que ele falasse fosse causar dor nela. O primeiro mês até que fui assim, mas no decorrer dos dias a sua forma de sorrir já aparecia com mais frequência.

A Vivian era um amor, já sorria pra todos e adorava gritar com quem não lhe desce atenção. A amiga da Manu tinha voltado pra casa, o Caveira tinha resolvido fincar os pés na casa da Manú e a garota parecia odiá-lo. Eu vivia lá fazendo companhia pra ela.

Suportar a Manú sem PL não era fácil pra ninguém, 2K era o primeiro a ser colocado pra fora quando falava alguma coisa que ela deveria fazer. O Cabeça não entrava na casa de forma nenhuma e o Conan só entrava se eu estivesse junto. O Caveira recebia gritos, mas continuava ocupando um quarto na casa. Era ele que nós passava informações sobre ela.

Ouvi muitas vezes do choro que ele ouvia durante a noite, da luz sendo acesa no meio da noite e ela ficar parada na escada encarando o escuro da parte de baixo da casa. As vezes ele não a encontrava no topo da escada e sim na sala, sentada no sofá segurando um papel gasto. Quando ele perguntava, ela simplesmente amassava o papel e subia de novo pro quarto como se ele não estivesse ali.

Os telefonemas eram constantes, ela nunca atendeu, mas quando ele se dava por vencido não ouvia nada do outro lado. O ódio pelo PL estar morto era evidente, mas a raiva maior era da Manu se trancar pra qualquer um que tentasse se envolver nesse assunto. Eu não me metia mais, cada um lida com a dor de uma forma diferente.

O Caveira tinha medo da depressão rondar a sua cabeça, mas a Manú era uma das únicas pessoas que não deixariam os filhos pela depressão ou qualquer ato parecido. Ver ela olhar pras crianças era como se eu não amasse a Flávia o suficiente. E eu entendia, era a única coisa dele. Nada de fotos, nada de lembranças materiais além das crianças.

Me sentei na mesa buscando a tesoura pra embalar uma cesta de chocolate pra algum aniversariante do mês. Não tinha muito fluxo no início de fevereiro, e o mês que mais teve encomendas estive com a Manú. PL tinha morrido no início de dezembro, não comemoramos. Ver os meninos perguntando por ele foi de cortar o coração, "viajando" foi a única resposta que saia da boca da Manú.

Cortei a embalagem enquanto ouvia a Flávia brincando com o Conan na sala, era sábado, fazia um calor do inferno e o ar novo fazia um barulho mais que aceito. Coloquei o laço no topo e dei um nó na parte de trás buscando a tesoura pra fazer os cachos na fita. Foi assim que levantei que senti a primeira contração. Paralisei, senti a barriga ficar dura e me encolhi.

Eu vinha sentindo aquilo fazia dois dias ou mais, mas era fracas, com longos espaços de tempo e o Daniel havia falado que apenas chegaria na próxima semana então escondi tudo do  Conan. Me levantei totalmente e afastei a cesta pro canto da mesa, fui pra geladeira comer algo e senti algo descer na calcinha. Esperei que escorresse um pouco mais pra que eu começasse a gritar, mas nada aconteceu.

Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora