♚ II - 03 ♛

17.2K 1.4K 86
                                    

Ninguém viveu minha vida. Ninguém chorou minhas lágrimas. Então, não me Julgue!


PV: Sofia

Se você acha que minha gravidez foi a coisa mais fácil que passei diante do sofrimento da morte dos meus pais e aquela noite dolorosa, você está muito enganado. Assim que a gente chegou na casa do monstro tudo ficou pior.

-Mãe, já tomou os remédios hoje? - Trek pergunta enquanto me arrasta pra dentro de casa

-Há filho, saí tão apressada que esqueci. - Ela diz colocando a mão no cabelo e se dirigindo a cozinha .

Então realmente ela não batia bem das ideias. Só podia ser maluca mesmo pra não ver o monstro que é o ser que ela criou.

Trek aproveitou a distração da senhora na procura dos remédios e me arrastou para o fundo da casa.

Me trancou num quarto e ordenou que eu nem pensasse em fugir dali, pois tinha homens com ordens de me matar se eu colocasse a cara pra fora.

Fiquei, fiquei e chorei muito ao lembrar do que fiz com os meus pais. Foi eu que fiz com que fossem mortos, eu e minha teimosia.

O que estou passando agora é muito pior que a dor que senti naquela noite, as forças só vieram por causa da criança que eu carregava.

Não queria ficar triste ou nervosa a ponto de prejudica-la de alguma forma. Eu só a teria como família agora.

Por isso me  deixei levar e fiquei o tempo todo calada. O grande problema é que sua vida não dependia só de mim.

Algumas horas depois, quando a casa estava completamente silenciosa, a minha porta é escancarada. Trek segurava uma caneca numa mão e anda até mim apressado

-Engole essa porra - Ele me estende a caneca

-Vá embora - Digo calma, sem procurar confusão. Me embrulho nos lençóis e fico no canto da cama, encostada a parede esperando que ele saía.

-Bebe essa merda! - Ele arranca meu lençol e me puxa pelos cabelos. Meu coração já começa acelerar.

Seguro a caneca com as mãos trêmulas e olho aquele líquido estranho, escuro.

Levo aquela coisa até o nariz e inalo, o cheiro de canela invade meu nariz de forma tão inesperada que chego a tossir.

-O que é isso? - Me forço a olha-lo. Ele parece impassiente e irritado. Esse cara parece ter raiva da vida.

-Vai tirar essa coisa de dentro de tu - Meu corpo inteiro tensiona e afasto imediatamente a caneca da minha boca. Quando esse pensamento me rodeava a cabeça eu não achava que era tão nojento de se ouvir

A raiva, o desprezo e o nojo me dominam. Tento derramar o liquido no chão, mas boa parte dele fica na caneca quando Trek arranca de meus dedos.

Ele parece ter sangue nos olhos quando volta a encarar a caneca em suas mãos. Como ele pode achar que eu teria coragem de matar a minha filha só porque veio dele?

-Sua vadia - Ele me pega pelo maxila e aperta me fazendo abrir a boca.

Me debato e arranho suas mãos que me seguram pra que ele não consiga o que quer. Não tem jeito, sinto o líquido preencher minha boca.

Faço de tudo pra não engolir aquele líquido quente, mas quando ele percebe que tento colocar tudo pra fora ele solta a caneca e prende minha respiração.

Me debato feito louca em seus braços e consigo acertar entre suas pernas, o que faz com que ele se afastar de mim. Me levanto e jogo tudo no chão enquanto me engasgo tentando respirar.

Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora