A solidão é uma arma que mata mesmo não tendo ninguém para dispará-la.
PV:Trek
A dor no peito ainda não tinha terminado. Eu caminhava de um lado pro outro de frente a TV da minha sala, escutava a repórter falar do "desastre" no Complexo do Alemão. Eu não intendia mais o que sentia.
Quando o fogo consumiu o resto da carne do imprestável, essa dor havia invadido meu peito. Eu a conhecia, conhecia porque sentia todas as vezes que via o meu pai ou os meus irmãos.
Ela me movia, me fazia ser como sou. Me fazia ter coragem de matar, apagava o medo de morrer e me motivava a agir. Ela que me fazia acordar todos os dias.
Tinha sito o que senti quando vi o quarto vazio, o quarto que a vadia ocupava. Era essa dor incessante que me motivava a trazer as duas de volta.
Sempre a reconheci. Era raiva não era? Era a vontade de matar e ver os outros sofrer, não era? Tinha que ser!
Meu peito queimava, doía e impedia a minha respiração. Não era o pânico, a ânsia não existia, as dores e medos não rondavam a minha mente. Só era aquela agonia que insistia em não me deixar.
"... Sim, um desastre! 232 crianças estão internadas em estado grave, 25 adultos foram resgatados ainda com vida. Mas, infelizmente, 78 foram mortos, entre eles crianças e adultos. O Alemão est..."
Eu escutava atentamente cada noticia que saia daquele aparelho. Eu deveria estar comemorando, comendo quantas fossem possível. Afinal, os noticiários diziam o que eu tinha planejado. O meu plano finalmente tinha funcionado como eu queria.
"Qual era o problema comigo?"
Tinha gente tão desesperada quanto eu estive há algumas horas atrás, não era isso que a dor insistia em pedir pra poder ir embora? Pra acabar com ela não era preciso matar alguém, fazer alguém gritar de dor?
Dava pra ouvir as sirenes a distância, tinha dado tudo certo.
Quando a bomba explodiu soltei fogos, tinha dado tudo certo, mas depois da comemoração exagerada, me enfiei na sala e liguei a TV.
Eu precisava ouvir o que eu tinha feito pra poder sentir a felicidade e finalmente sorrir, porque a maldita não aparecia de vez e me deixava curtir um baile a toda?! Porque a agonia insistia em ficar junto a mim?
Ela me pedia mais? Mais sangue, mais dor e sofrimento pra se acalmar, era isso? Eu daria se ela prometesse sumir. Eu daria se cada morte fosse o calmante que a minha mãe era, a dona Dalva faria essa dor sumir em meros segundos, era ela que me fazia dormir.
—Isso foi desperdício! — A minha porta é escancarada e Lobão entra na salinha.
—Isso não é da sua conta! — A garro um cigarro da mesa e me sento de frente a Tv
"...Muitas crianças acabaram tendo que passar por cirurgia de reconstrução. É com o coração na mão que transmito essa noticia. Paola Ribeiro para o p..."
— Viu só a merda, deformado não dá lucro! — Ele grita.
—Relaxa, esse povo não para de trepar mesmo. — Digo tentando suprimir a aquela coisa dentro do peito.
Anal entra na sala junto com o turco, ele vivia pelo morro agora.
— Fugiram, as duas acabaram de sair do complexo, seguiram para o Vidigal.
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Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)
Ficção GeralSérie - Contos de Favela ATENÇÃO! O livro aqui disponibilizado está registrado na biblioteca do livro e qualquer cópia disponibilizada sem autorização terá o seu autor processado. Livro contém: Cenas de sexo Palavrões Apologia ao Crime Mortes Crime...