"O problema da decepção é que ela nunca vem de um inimigo."
PV: Sofia
O despertador tocou, mas eu já estava acordada fazia mais de duas horas. Tinha ouvido as pessoas ao redor acordar, sair pro trabalho, arrumar as crianças. Ouvi os passos, as motos e a movimentação do Caveira pela casa. Dormi de tanto chorar e tinha acordado por causa do Trek, que pelo visto tinha voltado a assombrar os meus sonhos.
Levanto da cama e vou direto pro banheiro, pela primeira vez depois que cheguei ao Vidigal o frio estava lá fora. Escovei os dentes e troquei de roupa, voltei pra cama e beijei a minha linda ainda dormindo, ela abriu os olhos assim que beijei seus cabelos novamente. Sorriu e se agarrou ao meu pescoço me fazendo deitar novamente.
Beijei seu rostinho novamente e abracei ela tão apertado quanto fazia comigo. Era o meu bem mais precioso, a parte de mim que tinha que ser feliz custe o que me custasse. Por quem eu daria a vida, por quem eu sacrificaria tudo todos os dias, e por quem não me arrependia um só instante de ter feito escolhas que levou o Trek até mim.
—A princesa tem acorda. — Digo. Ela se agarra mais me fazendo sorri. — Escola, meu amor
—Posso ficar na casa da Tina quando volta da escola, mamãe? —Lhe dou mais um beijo antes de responder
—Se a mocinha levantar e não fazer a mamãe se atrasar...— Ela me larga imediatamente e corre pro banheiro
Sorriu. Tinha suas vantagens pelo menos. Lhe dou banho e arrumo ela, enquanto ela coloca seu material na mochila vou pra cozinha fazer seu lanche, pra não dá mais trabalho do que já tinha dado. A casa só não tava deserta por conta da Bia na sala de frente a T.
Vejo pelo canto do olho ela se remexer, imagino se há algo pra me dizer já que ontem a briga dela e do Caveira deu pra ser escutada mesmo se você não quisesse. Apronto o lanche na lancheira e coloco o café da Flávia na mesa no mesmo momento que ela vem do quarto arrastando a mochila.
Vem sorrindo mostrando um parzinho de roupa que logo em seguida joga dentro da mochila. Me sento na mesa também, de frente pra ela que fica de costa pra Bia na sala. Ela começa a comer e eu tento partir um mamão. Era a única fruta dentro da geladeira e eu esperava que não fosse de alguém.
—O papai gosta disso— Ela aponta pro cereal que o Caveira tinha comprado no dia anterior, sorriu. O Conan gostava do cereal porque era a única coisa que não precisava ir pro fogo— Porque o papai não tá aqui, mamãe?
—O seu papai não gosta mais de brincar de casinha, Flavinha!— A Bia gritou da sala — É bom ir se acostumando.
—O seu pai tá ocupado— Falo antes da Flávia tentar entender o que a Bia tinha dito. Não olho pra Bia.— Ele tá trabalhando, igual o pai da Tina.
—Mas o tio foi buscar ela ontem, porque o papai não vai me buscar?— Cheguei a abrir a boca, mas a risada da Bia me fez olhar pra sala.
Olho pra ela e vejo a diversão estampada no rosto, quem ela tava pensando que era pra achar graça do real sofrimento da minha filha? Fechei os punhos e me contive na cadeira, a culpa daquilo também era dele, porque ele não esquecia o Trek e vivia a porcaria da vida que ele tinha prometido a Flávia?
—A mamãe te leva hoje...— Digo ainda olhando a Bia de olho no celular—e amanhã prometo que ele te deixa ou te busca, tá bom? —Ela abre o sorriso mais lindo e volta a comer. A Bia volta a rir
—Bora ver se o bonitão quer voltar a ser pai de alguém.
Afasto o mamão que havia partido pra comer e encaro ela, eu não sabia mais quem era minha amiga. Quando olho pra Flávia ela me olha sem entender, balanço a cabeça e faço sinal pra ela voltar a comer, ela faz. Eu agarrava a mesa com força pra não fazer besteira, eu tava aguentando aquilo quando o veneno vinha na minha direção, mas na da Flavia?
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Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)
General FictionSérie - Contos de Favela ATENÇÃO! O livro aqui disponibilizado está registrado na biblioteca do livro e qualquer cópia disponibilizada sem autorização terá o seu autor processado. Livro contém: Cenas de sexo Palavrões Apologia ao Crime Mortes Crime...