♚ II - 37 ♛

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Uma folha que cai desarruma o universo.
O respiro de uma ave afeta o clima da Terra.
O balançar de uma teia, e aranha afeta a galáxia.
Uma criança que nasce muda o destino do mundo.
Cada gesto de amor salva toda a humanidade.

Valter da Rosa Borges

PV: Manuella

Eu pensava nos meus filhos quando a terceira bomba explodiu. Contava certinho os três lugares que eles poderiam estar. Nossa casa, a casa da Ritinha e a associação.

Quando PL resolveu revidar aos ataques silenciosos do Trek, fez todos sairem das ruas. Mercadinhos fechados, casas trancadas e pessoas o mais escondidas possíveis. Acreditávamos na possibilidade da volta.

Seria o meu fim se o Trek tivesse revidado nos meus filhos, eu morreria. Não, primeiro eu o colocaria dentro do ácido, veria sua pele corroer e ele gritar por ajuda. Sem pena, sem pensar duas vezes.

—Nossos filhos - Sussurrei agarra aos braços do PL enquanto deixava as lágrimas rolarem.

Ele me protegia como podia, agarrado a mim, colocava seu corpo sobre o meu pra que nada me atingisse antes dele. Ele sabia como o nosso mundo funcionava, e imaginava a mesma cena que eu.

A única fraqueza de um bandido era o coração.

A gente não gostava de ninguém o suficiente pra recuar, a favela era um lugar qualquer, as pessoas que viviam nela queria paz e nada mais. Os soldados, vapores ou qualquer um que tivesse nesse meio conosco, sabia que podia morrer na esquina.

Da mesma forma que não chorariam por nós, a gente não sofria por eles.

Mas havia um problema. Bandido também ama, constrói família e vive por ela. Esse era o nosso problema.

Não há pessoa sã no mundo que não ame seus filhos o suficiente pra morrer por eles, pra destruir o mundo por cada um deles. ESSA ERA A NOSSA FRAQUEZA E NOSSA FORTALEZA.

Desdo do início me imaginei torturando o Trek, sei que essa função agora não é mais minha, mas sempre pensei na forma que ele sentiria mais dor. Ele não tinha mais por quem sofrer.

Ele não tinha mais família, ele não tinha filho que o fizesse mudar. O morro era o seu mundo, seu reino. Destruí-lo e deixa-lo vivo para que o visse ruir, era o que o deixaria ainda mais louco por vingança, tenho certeza que foi isso que o PL pensou.

Mas não imaginou que a dor de perder algo do morro, fizesse ele querer destruir algo tão precioso pra nós. Se ele fizesse, morreria, pois não teríamos por quem mais querer viver.

O tremor na terra passa, Sofia permanece com os olhos fechados, Conan beija seus cabelos sussurrando algo. A Flávia estava jundo com os meus meninos, seria o fim pra nós duas.

—Minha casa, quero saber da minha casa! - Me viro, ainda no chão, pra olhar para o Paulo gritando no rádio.

Essa era a nossa única preocupação. PL limpava algumas lágrimas do rosto enquanto esperava resposta. Pareceu uma eternidade até o bip soar.

—Em pé, patrão! Em pé! - Me agarrei a seu peito e senti o alívio percorrer o meu corpo

Não importava mais tanto assim o que havia acontecido. Só pensei no susto que os quatro havia levado, as duas mulheres que tinha contratado ficam por perto o tempo inteiro, e eu contava com isso pra acalmar ainda mais o meu coração.

—O barraco dos pequeno tá no chão! - Gritaram no rádio

—Tá tudo no chão chefe! Tudo no chão, cara! - Outro disse

Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora