A MORTE VEM PARA TODOS — PARTE FINAL
PV: Manuella
Eu lembrava da dor, lembrava do choro, lembrava até que tudo tinha passado, mas a dor... A dor era capaz de me fazer delirar, capaz de me fazer ouvir coisas, de me fazer sentir coisas, eu tinha certeza disso enquanto ouvia a voz do PL tão dentro da minha cabeça... Eu sentia seu toque, senti seus lábios, senti e ouvi a sua voz... E... tudo parou.
Abri os olhos, mas fechei por causa da luz forte vindo de algum lugar. Gemi, minha garganta tava seca, minha cabeça tava pesada. Alguém segurou minha mão e me forcei a abrir. O sorriso branco dele me deu vontade de chorar, puxei a mão e olhei pro lado.
— Ela tá de boa, não precisa ir pra maternidade. Tá ligada só que precisa de mais peso, 8 meses certinho.
A garotinha tava empacotada numa roupa branca, dormia um sono profundo embalada pelo som baixa da TV. Eu tinha acordado assim que fui colocada pra dentro do barraco, Daniel limpava alguma coisas quando eu cheguei gritando. Senti todas as dores, tudo que senti no parto da Tina eu senti no da garotinha irritada que me veio.
Mas nada antes de tê-la em meus braços foi focado. Lembro de arrastarem do carro, do balançar e das dores na minha barriga enquanto me carregavam. Lembro da gritaria, das ordens, da velocidade, mas o meu pensamento sempre voltava pra cena do carro.
Da cor insistente que ele tinha enquanto rodava no céu, dos dois corpos voando e...a moto sem controle se chocando contra o carro e logo depois... a explosão. O fogo, o silencio, o sentimento de impotência.
Eu desejei que ele estivesse ali quando a visão desfocada fosse embora, que as alucinações fossem decorrentes do parto e que quando tudo aquilo passasse fosse o sorriso dele que eu iria receber. Que era a voz dele que eu ouviria.
A voz dele que me irritaria dizendo que queria mais um, eu gritaria com ele com toda certeza, ameaçaria deixa-lo se ele me fizesse sentir mais uma dor como aquela, mas eu amaria toca-lo. Amaria ver seu rosto de raiva e sua paixão louca pela menina em meus braços. Ele brigaria comigo por ter ido atrás dele, por ter me metido nos corre dele. Mas eu não me importaria, eu faria tudo de novo só pra ver seu rosto de novo... não.
Eu arrastaria ele pro carro e trancaria ele ali, e logo depois ligaria o carro e correria pra casa. Assim ele veria a filha nascer, assim ele poderia brigar comigo e fazer qualquer coisa pra conseguir que eu mudasse de ideia sobre ter mais alguns moleques pela casa. Eu fara isso por ele, só pra ter ele ali.
— Ela é linda, ele ia...— Pisquei os olhos não querendo ouvi-lo e tentei pega-la.
2k se meteu na frente e tirou ela da cama improvisada, ela resmungou, mas se encaixando nos meus braços se calou. Ela parecia a Tina, cheia de cabelos negros e pele branca. Não tinha nada dele, nada do pai que eu pudesse tocar.
— Ele...— Tentei engolir o bolo na garganta. — Ele tá morto, não tá?
Agarrei mais a garotinha quando vi seu rosto mudar, seus olhos se inundarem e ele tentar encarar outro lugar sem ser a mim. Ele se afastou encarando a TV, foi ai que vi o que passava ali. O rosto do Conan tava de um lado da TV, as cenas ao vivo mostravam o helicóptero em cinzas e paramédicos carregando sacos pretos. Tava sem voz, eu não pedi pra aumentar.
— Ele tava dentro do carro.— Fechei os olhos sentindo a dor, a raiva. — Tava amarrado no banco de trás. Os dois da frente foram arremessados pra fora... Juan... O Juan tá morto, a moto tava sem freio, ele se chocou contra o carro e foi queimado junto.
— Ai Meu Deus.— Tentei controlar o soluço, a raiva e a magoa tomava meu peito. Eu não queria mais ouvir
— Queimados!— Ele rosnou.— Queimaram ele, não mataram, queimaram até não restar nada além de ossos e resto de carne queimada!
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Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)
Художественная прозаSérie - Contos de Favela ATENÇÃO! O livro aqui disponibilizado está registrado na biblioteca do livro e qualquer cópia disponibilizada sem autorização terá o seu autor processado. Livro contém: Cenas de sexo Palavrões Apologia ao Crime Mortes Crime...