♚ II - 73 ♛

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PV: Karine

O celular despertou, o desespero pra desligar foi tão grande que quase arremessei ele longe. Silenciei, na tela aparecia "São Lucas". Coloque de lado e levantei, a casa ainda tava em silencio, caminhei até o quarto do papai e abri a porta. Ele ainda dormia e pela tela na janela dava pra ver que ainda tava escuro lá fora.

Caminhei de volta pro corredor e entrei no banheiro. Tomei um banho rápido e depois de vestir a roupa e escovar os dentes coloquei uma maquiagem que escondesse a minha idade. Peguei a bolsa e o celular. Enquanto ia na direção da porta mandava uma mensagem pra Mari. O namorado dela era moto táxi e o único que eu confiava em manter a boca fechada, pelo menos até alguém oferecer uma grana pela informação.

Era ele que nos levava pro Alemão quando tinha baile. A adrenalina de sair sozinha e escondida do meu pai não tinha comparação com nós duas na garupa do Fernando, gritando em cada curva que ele fazia. Além do aperto que passávamos, literalmente, o Fernando corria feito um louco no menor sinal dos cana.

Abri a porta lateral e sai pelo beco que dava acesso a frente, e esperei com os braços cruzados. O tempo não tava bom, mas a chuva fraca que caia não me incomodava, talvez fosse o frio na barriga que me incomodasse mais. Acariciei ela, não fazia tanto tempo que tinha começado a sentir coisas estranhas acontecendo ali, a maioria das vezes que eu começava a falar sozinha sentia borboletas ali, tudo parecia louco demais.

Eu tinha parado de estudar assim que notei a barriga crescer, o teste não tinha acusado gravidez quando percebi o atraso no mês anterior, mas a barriga parecia estufar mais do que o normal e minha fome... bom, eu comia tudo que vinha pela frente se o papai não me regrasse.

A moto para na minha frente, tranco o portão e ando até ele.

—Trampo fudido, a maluca me ligou já gritando. Tá mó frio, mano. Vai pra onde com essa barriga ae?— Ele diz me entrega o capacete.

—Tô te pagando pra me levar, bonitinho, né favor não.— Ele rir

—Azeda e cheia de espinho. Quem te pegou tomou no cú e sorriu, porra quem te controla

—Teu amigo não reclamou. — Ele rir — Vai me ajudar a subir não, oh! Acha que eu vou parar ai em cima como?

— Com a vassoura, trouxe não? — Diz me dando a mão —  Comé que a Mari te suporta?— Me sento de lado com dificuldade

— Sou um amor— Ele bufa— E foda na cama, pergunta pra Mari que ela te conta.

Ele balança a cabeça negando e acelera. Assim que saio do Vidigal lhe digo o destino, ele parece não desconfiar, já que é um hospital e não uma boca de fumo ou um centro de macumba que ele me acusava de frequentar. Quase 20 minutos depois ele para na frente do hospital, me ajuda a descer e eu lhe entrego o dinheiro.

— Vou te ligar pra me buscar, vê se não demora.

—Sim, querida. Ao seu dispor.

—Idiota — Ele rir e me deixa ali na frente

Me virei pro hospital enorme e com janelas de vidro. Eu tinha quase 16 e não entraria ali nem que tivesse ouro no lugar do cabelo. Tirei a identidade falsa da bolsa e encarei a minha foto, era eu ali, o problema era o meu nome. Manuella Sales Brandão. Aquilo tinha custado uma nota e eu pagaria durante 5 meses da minha vida.

Suspirei e comecei a andar. Eu não deveria estar ali, eu nem deveria estar grávida, esse não era o combinado. Entrei na recepção e encarei o lugar, aquilo cheirava a doce e não tinha ninguém além da mulher bem vestida atrás de uma mesa, bem diferente do hospital que a minha mãe tinha ficado quando teve que passar pela cirurgia do câncer. 

Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora