PV: Sofia
Uma semana Depois
Eu via o dia amanhecia pela janela na lateral da cama. A Flavia me abraçava e eu alisava o seu cabelo, os raios de sol já começavam a esquentar quando ouvi o PL passar pelo corredor com a risada de algum dos meninos o seguindo. Fazia uma semana que eu estava na casa da Manu, sem ver o Conan. Duas batida na porta e ela se abre. Manú sorrir e entra com a Tina atrás.
-Ela tá melhor?- Apenas confirmo com a Cabeça.-O café ta pronto, vou fazer o PL deixar a gente ir sozinha.- Com um sorriso ela se vira, a Tina me dar tchauzinho antes de ir. Começo a tentar acordar a Flavia.
Eu via o dia amanhecer pela 7° vez nessa semana, era sempre assim, três ou quatro pesadelos no meio da noite e a Flavia acordava gritando. As vezes gritava pelo Conan, as vezes gritava o nome do Trek e a maioria delas era "Mamãe" que saia da sua boca. O cansaço me vencia as vezes e eu voltava a dormir, mas sempre acordava com ela e via o dia nascer de novo.
Hoje era a primeira segunda depois do ataque ao Adeus, era o dia da Flavia voltar pra aula. Não quis que ela voltasse do jeito que ela tava, mesmo se eu quisesse o Conan não deixou e disse claramente que resolveria o problema das faltas depois.
Ele sempre aparecia no fim da tarde, ficava com ela até ela dormir em seu colo, pelo menos era assim que a Manu descrevia, já que nem uma das vezes desci pra vê-lo. Eu tinha medo de ainda sentir raiva dele, de vê-lo ali e não conseguir contornar a dor que via junto. Eu ouvi o choro alto da Manu um dia depois que cheguei, o Caveira tinha descoberto a morte da Bia.
Eu não soube como ele estava ou como lidou com a noticia até dois dias depois, quando fui pro enterro da Bia. Eu cheguei e o Caveira já estava lá, no cemitério, olhando pro caixão dela. Tinha um padre dizendo algumas coisas, coisas que a Bia nunca foi ou teve. Só não gritei com ele por respeito, a Bia nunca teve boa mãe, nunca teve o amor que aquele homem disse que ela ganhava das pessoas. A minha melhor amiga já teria batido na cara dele se ela tivesse escutando aquilo.
Depois de dizer uma oração qualquer ele virou as costas e saiu. A única coisa que ouvi da boca do Caveira foi uma palavra muito feia sobre a mãe do padre antes dele se virar e me ver. Eu até ia tentar sorrir, mas seu rosto me deixou completamente sem chão, da mesma forma que ele parecia estar. Parecia não dormir há alguns dias, tava com o braço enfaixado e... Não falou nada e saiu, me deixando sozinha a encarar o caixão dela.
Tentei conter as lagrimas ali, mas quando vi os dois homens amarrando as cordas na lateral do caixão fechado, não consegui. O caixão Tinha sido fechado, a Bia não teve o direito a ser limpa, não pode ser vestida com a roupa mais linda que eu pudesse encontrar. Ela apenas foi jogada num caixão de madeira lacrado, por que o corpo quando foi retirado da mata já fedia, já estava enxado e com coisas a comendo.
O caixão foi arrastado e os homens começaram a baixa-lo. Esperei até que a ultima pá de areia fosse colocada por cima e a cruz fosse posta. Esperei que saíssem e assim coloquei a coroa de rosas que a Manú me entregou antes de sair de casa. Me abaixei pra ficar a sua altura enquanto chorava baixo. Eu nunca ia saber onde meus pais foram enterrados, nunca vou saber se foram enterrados ou jogados numa vala rasa pelo Adeus, mas da Bia eu cuidaria.
Não importava o tempo, eu sempre voltaria por ela, pela minha melhor amiga. A gente tinha brigado feio, não tinha como apagar o que ela tinha feito, mas como se apaga uma vida ao lado de uma pessoa? Como se esquece a existência da melhor amiga? Depois daquele dia nunca mais vi o Caveira nem o Conan, só sabia pensar nos pesadelos da Flavia que não paravam.
Vi os olhinhos dela se abrirem e ela sorrir pra mim. Lhe beijei.
-Escola hoje? - Ela apenas confirmou com a cabeça se agarrando a mim.
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Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)
General FictionSérie - Contos de Favela ATENÇÃO! O livro aqui disponibilizado está registrado na biblioteca do livro e qualquer cópia disponibilizada sem autorização terá o seu autor processado. Livro contém: Cenas de sexo Palavrões Apologia ao Crime Mortes Crime...