♚ II - 52 ♛

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"Existem mulheres fortes, e existem mulheres que ainda não descobriram a sua força"

(P. Feminista)

PV: Sofia

Eu ouvia cada disparo que ecoava pelo morro, sentia cada grito que saia dos desconhecidos. Não importava se era inimigo, era uma das piores sensações que eu poderia sentir. Eu caminhava entre a sala e a cozinha fazia mais de 3 horas, desde da saída do Conan armado eu me concentrava nas portas de entrada e raramente sentava no sofá.

Me negava a ficar entrando no quarto pra ver a Flávia, não queria que ela acordasse e desse de cara com aquilo. Fazia muito tempo que nenhuma de nós tinha precisado correr pro quarto pra se esconder por causa de uma invasão. O Adeus e o Trek tiraram a infância da minha menina, mas eu não ia deixar que ele tirasse a felicidade que ela descobriu existir no mundo.

Meu coração batia forte, minhas mãos suavam e minha cabeça martelava junto com o embrulho na barriga. Eu não tinha tanta opção ali dentro a não ser andar de um lado para o outro, a não ser pensar como o Conan acabaria com o Trek quando aquilo tudo terminasse. Eu esperava que fosse isso que acontecesse, que fosse assim o final o meu pesadelo.

Ele tinha dito que me amava como se fosse uma despedida antes de sair, como se fosse a última coisa que eu deveria lembrar dele. Eu o amava, mas não queria que ele tivesse dito o mesmo, não se aquilo fosse o suficiente pra nós dois. Eu queria mais, queria mais tempo, queria mais dele enraizado em mim. Seus sorrisos, seu mau humor, seus braços, seus beijos. Que cada lugar meu fosse uma parte dele. Só assim uma despedida seria suficiente pra mim.

Minha cabeça martelava. Momentos como aquele só serviam pra pensar nos medos, nos temores que ficavam enfiados em algum lugar do peito. Eu sempre odiava aquela sensação. Desde que me entendo por gente sei como é carregar aquela agonia, lembro da minha mãe me esconder quando o rojão vinha. Lembro da escuridão embaixo da cama, da poeira que me impedia de respirar ou sequer chorar. Lembro dos barulhos dos tiros, das gritarias e dos meus pensamentos.Da terrível pergunta que me vinha antes de tudo ficar em silêncio.

"—  Será que eu sobreviveria aquela noite? Ou seria só mais uma criança no meio de muitos que acabariam estirados no chão quando o dia amanhecesse?"

"— Seria só mais uma poça de sangue que uma mãe choraria quando se desce conta que era o sangue do filho dela?"

Eu sempre pensei que não ia sobreviver quando começava. Eu não entendia porquê tanta briga, porque precisavam matar uns aos outros pra ser feliz. O mundo era tão grande, tinha espaço e dinheiro pra todo mundo, porque precisavam assustar e matar inocentes com balas perdidas? 

Porque insistiam em lutar com a lei se sabiam que muitos deles acabariam no chão, coberto de areia e sangue, sendo taxado nos jornais de coisas piores do que realmente eram? Pra que lutavam por um pedaço de terra e uma trouxa de maconha?

Mas hoje eu entendo, entendo que o lado errado nunca é o lado ruim. Que o lado errado sempre tá lutando por algo melhor, mesmo que seja egoísmo, que lute por ele e não pela comunidade. 

Em 20 anos que morei no Adeus, nunca vi seu político subir, nem quando era dito que tava pacificada. Nunca vi o bom homem resolver o problema de esgoto podre que era fonte de diversão das crianças na rua. Nunca vi uma ação sendo feita pra tirar os menor do mundo e colocar nas escolas, em empregos. 

Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora