Desculpe a crueldade com os animais na cena a seguir.
PV: Sofia
Mais cedo naquele dia
Naquela manhã, antes de tudo mudar, Trek apareceu em casa mais cedo. Na verdade acho que ele não saiu pra "trabalhar", me pegou na lavanderia e me arrastou a cozinha pra tratar a carne para um churrasco.
Seria algo normal, tirando sua agressividade sem sentido. A trataria e a cozinharia sem problema, pois fazia isso desde que cheguei ali. Mas o problema não tava na minha boa vontade de fazer o que ele queria e sim na carne.
Depois que o Trek parou de me dar ordens aos gritos, deixei a Flavinha no quarto e fui na direção da cozinha. O cheiro chegou primeiro ao meu nariz, um cheiro de sangue seco, um odor frio. Tapei o nariz e me forcei a andar. Não era hora de ter frescura, não quando ele já estava irritado.
Estanquei quando me deparei com a coisa mais horrenda que eu poderia ver. Homens entravam da porta da lavanderia para a cozinha com dois gatos pendurados em cada mão. Meu estomago foi na garganta e voltou, a tapei pra impedir de gritar.
Os animais já não possuíam pelos, pareciam em carne viva com sangue em alguns locais da pele rosada e elástica. Havia meros filhotes, pareciam dormir se suas cabeças não estivem pendendo de um lado com a boca meio aberta. O odor que vinha daquilo me subiu a garganta, não aguentei.
A corrida até o banheiro pra colocar todo o café pra fora foi feita em segundos. Chorei quando terminei, chorei porque sou fraca. Não conseguia comer uma galinha se vice minha mãe a matando. Achava a coisa toda ruim e agora vendo aquele animal, criado para serem amados, sendo comidos, era ainda pior. Imagine a minha menina vendo aquilo!
As batidas na porta e gritaria do Trek me fizeram se recompor. Chorando tive que abrir o animal e parti-los em pequenos pedaços. Algumas meninas foram chamadas para me ajudar, elas não se importavam quando tiravam as vísceras do outro animal ou arrancavam suas cabeças.
Depois de tudo pronto ele me obrigou a servi-las junto com as outras meninas. Só deu tempo tomar banho e trocar de roupa para que ele me arrastasse pra fora do quarto. Lá fora só tinha gente ruim, eu tremia enquanto entregava as bebidas e as carnes.
O cheiro daquilo pelo menos era bom, se tapasse os olhos a comeria se não tivesse as visto morta. Meu estomago roncava e ao mesmo tempo se contorcia pensando em tudo que fiz naquela cozinha hoje.
No meio de toda aquela coisa uma criança ria no colo de um dos caras, na minha opinião, o pior de todos eles. Não falava e nem sorria para as outras pessoas. Sempre fechado e observador. A morena ao seu lado não era diferente, parecia querer competir em raiva com o homem.
A menina no colo dele era a versão mais nova da mulher ao seu lado. Um conjunto de maldade que se quebrava na doçura da criança. A minha menina poderia ter tido aquilo. O amor de um pai de verdade, mesmo que ele fizesse parte daquele mundo.
Observei aquela mesa intrigada com as pessoas. Elas sorriam de verdade quando conversavam entre si, acariciavam a menina com carinho e ao mesmo tempo se fechavam para o resto das pessoas. Eles não eram dali, eram?
Foi nessas tentativas de observar a mesa que vi aquele homem chegar. Numa tentativa frustrada de ver melhor enrosquei o pé numa cadeira e despejei uma bandeja de carne na cabeça de um deles. O Trek me arrastou dali e me socou no rosto, me gritou e amaldiçoou o dia que nasci.
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Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)
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